Advogados costumam dizer que o divórcio do casal tem um determinado padrão. Enquanto a relação começa com “meu bem pra lá, meu bem pra cá”, ela termina em “meus bens pra lá, meus bens pra cá”. A situação não é diferente quando o assunto é o divórcio após os 50 anos. E, longe de ser uma visão pessimista do matrimônio, a advogada Ana Celi dos Santos afirma que a situação acontece mesmo dessa forma.

Especialista em Direito da Família, com mais de 35 anos de experiência, Ana calcula já ter atuado em aproximadamente 500 processos de divórcio. Ela explica que, nesse momento, invariavelmente, as questões financeiras e patrimoniais atingem a todos os envolvidos. “Eu não conheço uma pessoa que tenha passado por isso sem ser lesada”, garante a advogada.

Ana conta que, com raríssimas exceções, ao final do casamento vem a mágoa. Isso faz com que as pessoas comecem a descontar em cima do patrimônio. “O 'meu bem' realmente acaba, e o que sobra são os meus bens pra cá, meus bens pra lá”, lamenta.

Com raríssimas exceções, após o divórcio vem a mágoa, o que faz com que as pessoas descontem no patrimônio. Imagem para ilustrar a matéria sobre divórcio após os 50.

Foto: Andrii Yalanskyi / Shutterstock.

Mas nem sempre o divórcio é de comum acordo entre as partes. Em alguns casos, pode ser que um dos envolvidos não queira partir para essa solução. E são nessas situações que os problemas se agravam. 

“Geralmente, quando um dos envolvidos não quer se separar, ele começa a querer manter um elo com a outra parte, nem que seja brigando pelo patrimônio.”

Como, então, recomeçar?

Se o dito popular afirma que após a tempestade vem sempre a bonança, talvez ele não se aplique muito bem a essa situação. Isso porque é no momento em que ambos se veem livres para recomeçar que surgem os grandes desafios. Ana avalia que, nesses casos, os problemas são ainda maiores no divórcio após os 50 anos. Principalmente para as mulheres.

Na visão da especialista, questões estéticas ligadas ao corpo e o medo de não conseguir outro parceiro são grandes entraves psicológicos para elas. Isso além dos sentimentos de frustração e desapontamento no relacionamento. Em uma sociedade machista, “é muito mais fácil para um homem refazer sua vida após o divórcio. É comum que a mulher nessa idade tenha uma visão muito pessimista sobre seu destino. Achando que vai ficar sozinha, ou que está feia e caída, sem o mesmo viço de outrora”, avalia.

Por esse motivo, o autoconhecimento, a autoaceitação e um trabalho de autoaceitação são essenciais para superar um divórcio após os 50 anos. E, claro, esse trabalho funciona de maneira mais adequada quando é acompanhado por um especialista em psicologia. 

Divórcio após os 50 teve aumento nos últimos 20 anos

De acordo com a últimas pesquisas divulgadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de divórcios aumentou entre 2019 e 2020. Os concedidos em 1ª instância ou realizados por escrituras extrajudiciais tiveram um aumento de 16,8% em 2021, atingindo 386,8 mil.

Dessa forma, a taxa geral de divórcios passou de de 2,15‰ (2020) para 2,49‰ (2021). 

Paralelo a isso, nos últimos 20 anos, o divórcio appós os 50 anos teve um aumento de 28%, segundo dados divulgados pelo Globo, em novembro de 2022.

Segundo a antropóloga Mirian Goldenberg, em entrevista ao Globo, a iniciativa do divórcio após os 50 costuma ser da mulher. Que, motivadas pela insatisfação de um relacionamento, decidem encerrar o relacionamento e dizer o "chega". 

Ainda segundo a especialista, por mais que elas venham a se relacionar novamente, um outro casamento não costuma ser o foco. O momento é dedicado aos planos pessoais, que, por muitas vezes, foram ignorados enquanto elas cuidavam do marido, filhos, casa e trabalho.

O divórcio após os 50, para as mulheres, se torna um momento de recomeço e da busca de planos pessoais. 

Empreendedorismo 50+

Ao fim de um longo processo de divórcio que durou dois anos, entre terapia de casal, individual, consultas com advogados, a goiana Valéria Ruiz decidiu mudar também sua área de atuação. Após fazer o curso de coach, Valéria fechou sua empresa de acessórios para cortinas. Decidiu, então, ajudar mulheres recém-divorciadas ou em processo de separação a se refazerem, psicológica, jurídica e economicamente.

Assim, em 2015, nasceu o projeto Bem Separadas. Atuando, hoje, em seu canal pessoal, o Bem Separadas surgiu como um portal com a colaboração mais de 25 especialistas. Advogados, educadores financeiros, médicos e psicólogos, todos produzindo artigos sob a ótica de quem já vivenciou essa situação. 

“Ninguém casa para se separar. Mas depois de dois anos de muita reflexão eu tomei coragem, sofri pra caramba, mas resolvi romper”, conta Valéria. Ela explica que são muitas as questões que envolvem a separação e que infelizmente ainda existe muito preconceito, independentemente da faixa etária. 

E no caso de mulheres acima dos 50 anos, o preconceito se agrava ainda mais, por causa de uma cultura ainda machista e patriarcal. O objetivo do projeto é dar todo o suporte necessário para que mulheres nessa situação não se sintam sozinhas e possam contar com a orientação de especialistas.

Independência financeira e os desafios da mulher

Na opinião da terapeuta, de todos os problemas enfrentados pelas mulheres após o divórcio, o principal deles, na maioria dos casos, é a falta da independência financeira. E quando a questão envolve filhos, o problema se agrava ainda mais.

Porém, segundo a especialista, uma mulher de 50 anos hoje, diferentemente das mulheres das gerações passadas, é extremamente produtiva. “E é preciso ser, porque a expectativa de vida subiu e ela ainda tem muito a viver e a produzir”, completa.

“É preciso que ela entenda que ela é capaz de alcançar essa independência financeira. Que consegue ser dona do próprio nariz, prover o próprio sustento, seus sonhos e, muitas vezes, até os dos filhos”

Identificando essa necessidade, Valéria criou, em 2018, o projeto “Bem Preparadas”. O curso nasceu com o propósito de ensinar mulheres sobre orientação financeira e empreendedorismo. Atualmente a terapeuta usa as próprias redes sociais para oferecer serviços de consultoria.

Ela afirma que fica mais fácil começar as outras independências, como a emocional e psicológica. “Aí ela consegue entender que não está sozinha, mas descobrindo um novo formato. E aí sim ela verá espaço para um novo romance”.

Valéria conta que muitas vezes as mulheres que se inscrevem no curso não sabem nem por onde começar. “Então eu trabalho o mindset delas, e elas já saem daqui ganhando seus primeiros reais”, garante.


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