Os últimos números da Associação Brasileira de Administradora de Consórcio (ABAC) trazem recordes: o setor cresceu 26% em volume de créditos (novembro 2018 a novembro 2019) e acumulou 2,63 milhões de novos participantes – a maioria, mais de 2 milhões, nos segmentos de carros e motocicletas. Diante disso, na hora de comprar um veículo, vem a pergunta: consórcio ou financiamento?

Como funciona o consórcio de carro ou moto

Consórcio é a reunião de pessoas em um grupo, com prazo de duração e número de cotas previamente determinado, promovida por uma administradora. Sua finalidade é propiciar aos integrantes, de forma isonômica, a aquisição de bens ou serviços, por meio de autofinanciamento.

No caso de veículos, é definido fabricante, marca e modelo do automóvel; número de cotas e de consorciados; valor do crédito e da parcela (com datas de vencimento); e prazo. Formado o grupo, a cada mês um consorciado é contemplado, por sorteio ou lance.

No consórcio, são cobrados:

  • Fundo comum: valor destinado à aquisição do bem ou do serviço;
  • Fundo de reserva (facultativo): cobertura de eventual insuficiência de recursos, quebra de garantia (também pode ser por seguro) etc.;
  • Taxa de administração: remuneração da administradora (em torno de 15%);
  • Seguros (Seguro de Vida e Seguro de Quebra de Garantia – SQG);
  • Multas e juros moratórios;
  • Multas rescisórias;
  • Diferenças de prestação: quando ocorre variação no preço do veículo.

Exemplo de parcelamento

Grupo formado para aquisição de um Fiat Moby Easy, no valor de R$ 33,5 mil, em 84 meses:

  • Fundo comum (100%/84 = 1,1905%): R$ 398,81
  • Taxa de administração (18,5%): R$ 73,78
  • Fundo de reserva (3%): R$ 11,96
  • Seguro de vida (0,84%): R$ 3,35
  • Valor da parcela: R$ 487,90

Vantagens

Torna-se um bom negócio quando o consorciado é contemplado nos primeiros meses, afirma Fernando Umezu, coordenador do curso de economia da Escola Superior de Engenharia e Gestão (ESEG). “Nesse caso, como ele já pode adquirir o veículo, o consórcio torna-se equivalente a um financiamento, mas com parcelas comparativamente menores (R$ 487,90 ante R$ 592,13, no exemplo do Fiat Moby Easy)”, exemplifica. Além disso, o consorciado tem a liberdade de mudar o modelo escolhido.

Desvantagens

O consorciado só terá o veículo se for contemplado, seja por lance, seja por sorteio. “Assim, na situação em que isso ocorre no final do período [últimos meses], o consórcio é equivalente a uma aplicação com baixa rentabilidade [negativa], já que as taxas, os seguros e o fundo de reserva podem atingir até 20% da parcela paga”, pontua. Afora isso, o veículo fica alienado à administradora de consórcio até a quitação final.

Também “há risco de quebra do grupo antes da contemplação, por má gestão, inadimplência e ausência de seguro”. Isso porque ainda não existe um Fundo Garantidor para esse segmento, a exemplo do que ocorre para bancos (FGC) e cooperativas de crédito (FGCoop).

O que acontece em caso de inadimplência

No caso de inadimplência, o consorciado poderá sofrer penalidades, como pagamento de juros e multas; perder o direito à carta de crédito; ser impedido de oferecer lances e até ser expulso do grupo. Se o consorciado já tiver sido contemplado, pode perder o veículo.

Antes de assinar o contrato

Cheque a idoneidade da administradora de consórcio na Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios e o índice de reclamações no Banco Central do Brasil. “Um ponto importante a ser observado são as condições de desistência, como multas rescisórias”, sinaliza o professor da ESEG.

“Deve-se ler todo o contrato, com cuidado especial para taxas e prazos, multas e penalidades. E observar que não há benefícios ou descontos financeiros para pagamentos antecipados, por não haver, em princípio, juros na composição da parcela”, completa.

Como funciona o financiamento de carro ou moto

Financiamento é uma operação de crédito estabelecida em contrato em que uma instituição – bancos e cooperativas de crédito ou financeiras, entre outras autorizadas pelo Banco Central do Brasil – oferece recursos para aquisição de um bem móvel ou imóvel em troca de um fluxo de recebimentos. Em geral, o bem fica como garantia da operação e, por isso, as taxas de juros são mais baixas.

As instituições financeiras autorizadas a realizar empréstimos avaliam a capacidade de pagamento do cliente para estabelecer o limite de empréstimo, diz Umezu. De maneira simplificada, o valor da parcela não deve ultrapassar um percentual da renda média, e o recomendado é, no máximo, 25%.

consórcio ou financiamento

Crédito: Syda Productions/Shutterstock

 Os juros podem ser acordados diretamente com a instituição financeira, mas, em geral, “há pouca margem para isso”, segundo o economista. “A forma mais usual de financiamento de veículos é com taxa pré-fixada, o que não impediria outras configurações [taxas pós-fixadas, taxas regressivas etc.]. Por outro lado, a resolução 4.292, de 20/10/2013, criou a portabilidade de crédito, o que permite migrar de uma instituição financeira para outra com taxa menor.”

Exemplo de parcelamento

Aquisição de um Fiat Moby Easy, no valor de R$ 33,5 mil, em 84 meses (sem considerar o IOF):

  • Taxa de juros pré-fixada: 1% a.m.
  • Valor da parcela: R$ 592,13

Vantagens

Diferentemente do consórcio, o recebimento do veículo é no ato, como se fosse uma compra à vista, e há desconto de juros para pagamentos de parcelas antecipadas.

Desvantagens

Nessa modalidade, os juros aplicados são compostos (juros sobre juros). “A gestão inadequada das finanças pessoais ou até mesmo o surgimento de imprevistos pode levar à inadimplência”, observa Umezu.

O que acontece em caso de inadimplência

No caso de inadimplência, a instituição financeira tomará as medidas cabíveis para a recuperação do crédito. “Esse processo inicia-se por propostas de renegociações [cobrança extrajudicial] e pode chegar à cobrança judicial. A possibilidade de recuperação do crédito é que permite que as taxas desse tipo de financiamento sejam menores do que a do Crédito Direto ao Consumidor (CDC)”, segundo o economista.

Antes de assinar o contrato

Pesquise os valores das taxas de juros e se a instituição é autorizada pelo Banco Central do Brasil. “Leia todo o contrato, com cuidado especial para taxas e prazos, multas e penalidades”, sinaliza o professor da ESEG.

Afinal, consórcio ou financiamento para comprar um veículo?

Se há urgência na aquisição do veículo, o financiamento é a melhor opção, embora as prestações mensais sejam maiores que as do consórcio. Mas, em caso de inadimplência no consórcio, pode-se perder os recursos se os demais consorciados não cumprirem suas obrigações – caso não se faça seguros e se os fundos não forem suficientes.

Vale a pena vender o carro para colocar as finanças em ordem? Clique aqui e confira.

Compartilhe com seus amigos

Receba os conteúdos do Instituto de Longevidade em seu e-mail. Inscreva-se: