A relação normalmente começa de forma mágica. Tudo parece lindo. Ele é cuidadoso e amoroso e chega a se disponibilizar a cuidar de tudo para ela. Inclusive das finanças, afinal. Provavelmente “sabe lidar melhor com dinheiro, já que é homem”. Com o tempo, porém, o cuidado se torna uma prisão e começa o abuso financeiro. Ele, que também pode vir junto com outros tipos de abuso no relacionamento. Aliás, segundo a Allstate Foundation Purple Purse, o abuso financeiro acontece em 99% das situações de violência doméstica.

Neste contexto, chegam situações como: fazer dívidas constantes no nome de quem emprestou o cartão, deixar o nome da vítima sujo, chantagear para conseguir dinheiro. Ou mesmo obrigar a vítima a vender bens para satisfazer suas vontades, dificultar o trabalho da vítima e muitas outras coisas do tipo. Pode começar de forma sutil e ir ganhando força.

Um casal de cerca de 50 anos, com um computador, uma calculadora e contas a pagar. O marido briga com a mulher. Imagem para ilustrar a matéria sobre abuso financeiro.Crédito: Fizkes/Shutterstock 

Abuso financeiro e relacionamentos abusivos

Conhecido como abuso financeiro ou violência financeira, as situações de que falamos fazem parte de um dos tipos de violência patrimonial descritas na Lei Maria da Penha (artigo 7º - Lei 11.340/2006). O problema é que, apesar de comum, não é o tipo de coisa que costuma ser registrado ou muito falado. De acordo com o Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, foram apenas 3 mil denúncias de crimes do tipo ante 106 mil denúncias de violência psicológica em 2020.

Quando a mulher sofre abuso financeiro e passa a não ter mais direito sobre suas próprias finanças, ou, ainda, quando o homem se aproveita do fato de ser o único ou principal gerador de renda para humilhá-la ou controlá-la, torna- se mais difícil romper um ciclo de relacionamento abusivo. Isso porque, em muitos casos, a mulher depende do abusador financeiramente e tem medo de não ter como se sustentar ou sustentar os filhos.

Como ter certeza do que acontece

Para começar a romper o ciclo de abuso é preciso, primeiramente, reconhecer o que está havendo. Falamos especialmente com as mulheres, pois apesar de haver falta de dados nesse sentido, acredita-se que elas sejam a maioria das vítimas.

De acordo com o Dossiê Mulher 2018, do Rio de Janeiro, a violência patrimonial teria 70% das vítimas do sexo feminino. Não significa, portanto, que os homens não passem por esse tipo de coisa, mas o percentual é menor.

Algumas das situações que podem ajudar a identificar o abuso financeiro em um relacionamento são:

  • O abusador quer controlar o salário da vítima, pedir acesso a senhas e cartão de crédito e se colocar em posição de cuidador das finanças.

  • O abusador menospreza a capacidade da vítima de cuidar do próprio dinheiro. Ou seja, ela trabalha, mas ele é quem decide o que deve ser feito com a receita.

  • Ele começa a pedir dinheiro emprestado o tempo todo e não paga, chegando a sujar cartões de crédito.

  • O abusador pede para que a mulher venda bens ou os transfira para ele. Assim ele pode “cuidar” dos negócios com mais liberdade.

  • Ele humilha e manipula a vítima por ser o único provedor de renda na família. Diz coisas como “Sou eu que ganho, então sou eu que mando”.

  • Ele começa a prejudicar o trabalho da vítima e sua capacidade de geração de renda. Uma tentativa de fazer com que perca sua liberdade financeira e se torne mais dependente.

Para romper o ciclo de abuso financeiro

De acordo com a psicoterapeuta Sabrina Amaral, da Epopeia Desenvolvimento Humano, para começar a romper um ciclo de abuso financeiro, independente do estágio em que ele esteja, é preciso tomar consciência do problema e decidir que não quer mais isso.

"A mulher precisa tomar consciência que, mesmo que ela não trabalhe fora, tem direito de ser protagonista na vida financeira do casal. Afinal, estar em casa, cuidar dos filhos, do serviço doméstico, custa muito. Não acredita? Faça um exercício de colocar na ponta do lápis quanto custa manter em casa: uma empregada doméstica, uma cozinheira, uma passadeira, uma babá e uma faxineira. Percebe o quanto você também está investindo na relação? Faça valer seus direitos."

Depois de estar consciente sobre a necessidade de sair desta situação, é importante contar com uma rede de apoio. Seja para aconselhamento ou mesmo para buscar abrigo por um período, se for necessário. "Além disso, é fundamental investir no seu autoconhecimento. Esse é o caminho para te ajudar a resgatar sua confiança, autoestima e amor-próprio; os quais são ferramentas importantíssimas para ajudar você a se posicionar num relacionamento, ou terminar por perceber que não o quer mais.”, explica.

Resgate sua autoestima

Cuidar da autoestima é essencial, segundo a especialista, pois quem não se valoriza também costuma não ter uma boa relação com o dinheiro. “Comece listando seus pontos fortes, qualidades e coisas que você faz bem. Aquelas coisas que geralmente as pessoas elogiam e reconhecem em você. Faça uma análise do passado e reflita: quem você era antes do relacionamento começar? Alguma coisa mudou em relação a sua autoestima? Quais eram as coisas que você mais admirava em você?”, sugere.

A especialista também explica que nunca é tarde para pedir ajuda ou começar um processo de mudança. "Se você não tem uma rede de apoio acolhedora, existem inúmeras alternativas que vão desde a iniciativa pública ou até mesmo ONGs que podem ajudar. Nós nascemos com um potencial imenso para ser feliz, mas, os acontecimentos da vida podem fazer com que a gente esqueça disso. Ou pior, que duvidemos deste fato."

Onde denunciar e buscar ajuda

Veja a live produzida pelo Instituto de Longevidade sobre como a violência contra a mulher pode impactar as finanças pessoais


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