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Um objetivo político atual das nações que envelhecem é a promoção do “envelhecimento ativo”. Trata-se de reconhecer as contribuições valiosas feitas em idade avançada. No entanto, como notou [o professor de política e gerontologia social] Alan Walker, apesar de envolver a participação e o bem-estar ao longo da vida, o envelhecimento ativo é algo primariamente focado no emprego.(1) Essa limitação esconde como mulheres profissionalmente capacitadas com mais de 50 anos de idade vivenciam o lazer na vida pós-trabalho.

Certamente, professoras aposentadas e palestrantes universitárias expressam uma identidade profissional rotulando-se como “mulheres de carreira” e descrevendo suas trajetórias como contínuas como as dos homens, mesmo quando elas saem em licença-maternidade ou sabático. Entrevistas revelam que essas profissionais não sofrem na transição para a aposentadoria. Em vez disso, elas florescem. Conseguem isso fazendo uma abordagem de autogestão de desenvolvimento de carreira para atividades pós-expediente, como voluntariado, cuidador, tarefas domésticas e, às vezes, trabalho remunerado.

Suas atividades oferecem realização pessoal e uma maneira de manter habilidades e competências. Elas refletem uma busca sistemática e com propósito de uma carreira de “lazer sério” – como descrito pelo professor de sociologia Robert Stebbins –, que promovem sentimentos de dignidade e autoestima; recompensas pessoais, intrínsecas e físicas; conhecimento específico e desenvolvimento de habilidades; e camaradagem, sociabilidade e amizade. (2)

Aposentadoria como uma carreira autogerenciada garante às profissionais liberdade para decidir o que e como fazer, o que o trabalho remunerado não permitiu devido a reestruturações, demandas crescentes, noites e fins de semana de plantão ou mesmo devido à menor previsibilidade. Para essas mulheres, a aposentadoria é “um alívio” e “uma nova vida”.

“Pensei que minhas habilidades e minha vivência não seriam exigidas, mas sim valiosas e valorizadas. No entanto, não acho que sejam”

A história de Anabel chama a atenção para a aspereza dessas transições para mulheres. Embora ela esperasse “ficar aliviada” na aposentadoria, não foi o que aconteceu: ela parou completamente de trabalhar. Inicialmente, procurou atividade remunerada, mas, apesar de ser uma profissional qualificada com experiência recente no mercado, não encontrou emprego adequado. Ela diz: “Pensei que minhas habilidades e minha vivência não seriam exigidas, mas sim valiosas e valorizadas. No entanto, não acho que sejam”.

O déficit de empregos de qualidade com jornadas reduzidas para trabalhadores mais velhos qualificados é um impedimento significativo para estender a vida profissional em conformidade com a política pública atual. Outras barreiras expressivas estão centradas na gestão de saúde e na responsabilidade de oferecer cuidados.

A história de Rowena destaca que a prevenção e a gestão da saúde e os cuidados para a família estão entre as questões mais importantes que afetam a forma como as aposentadas usam o tempo. Depois de escolher “conscientemente se afastar” do emprego, ela teve de colocar as coisas para si mesma em “modo de espera” para cuidar de seu parceiro agudamente doente. Substituiu cuidar dele e de sua própria condição de saúde crônica pela “efervescência” de trabalhar. Lidar com a saúde é parte do conjunto de atividades com propósito em uma carreira de aposentadoria. Ela avalia: “Isso não me impediu... Eu tenho que tomar esses impedimentos em meu caminho”.

A história de Jane nos lembra que a aposentadoria é um processo dinâmico e que os interesses evoluem. Ela experimentou uma saída abrupta e inesperadamente prematura do trabalho em que estava havia 34 anos para cuidar em tempo integral da mãe, que sofria de Alzheimer. Após três anos, a matriarca tornou-se violenta e passou a requerer cuidados profissionais.

Jane enfrentou o desafio de buscar emprego já no fim da carreira e, depois, a transição para o voluntariado. Recentemente, decidiu deixar o trabalho não remunerado. Ela afirma: “Eu me tornei uma espécie de ser humano feliz em casa, fazendo coisas como tomar café e almoçar. Não sinto a necessidade de – qual é a palavra? – validar minha existência fazendo todo esse trabalho comunitário”.

Diferentemente de outras profissionais que sofreram uma transição abrupta do trabalho para a aposentadoria, as mudanças de final de carreira de Jane foram mais desfocadas, envolvendo a ida de uma conquista com propósito para outra.

“Embora se presuma que as mais velhas desejem flexibilidade, elas indicam preferência por autonomia e maior controle sobre a tomada de decisões”

As atuais interpretações do envelhecimento ativo focadas no trabalho remunerado são muito reduzidas e devem ser ampliadas para reconhecer várias atividades produtivas, incluindo cuidados não remunerados, voluntariado e estratégias de prevenção de saúde pessoal.

Da forma atual, a atividade remunerada não é uma opção atraente para profissionais aposentadas. Muitas não esperam trabalhar; se estão financeiramente seguras, não precisam continuar no mercado. No entanto, seu envolvimento e participação contínua confirma que, se desejassem ter um emprego, seriam capazes de fazê-lo.

Vale ressaltar que essas profissionais altamente qualificadas e habilidosas não continuam ativamente no trabalho remunerado, deixando uma parcela potencial de trabalhadoras fora da mira de empregadores.

Embora se presuma que as mais velhas desejem flexibilidade – em horários de trabalho reduzidos ou não padronizados –, elas indicam preferência por autonomia e maior controle sobre a tomada de decisões. A disponibilidade de empregos de qualidade para elas pode satisfazer essas necessidades.

Assim, formuladores de políticas públicas devem responder aos desafios apresentados por grupos específicos de trabalhadores mais velhos: as expectativas de terem atividades mais duradouras na vida pós-trabalho. As medidas podem incluir a promoção de programas estruturados destinados a utilizar as habilidades das aposentadas e o financiamento de coaches para ajudar no gerenciamento da carreira para a aposentadoria.

  1. Alan Walker, “Commentary: The Emergence and Application of Active Aging in Europe”, Journal of Aging and Social Policy 21, no. 1 (2009): 85.
  2. Robert Stebbins, “Serious Leisure and Well-Being”, in Work, Leisure and Well-Being, edited by J. T. Haworth (London: Routledge, 1997), 119.

Agradecimento

Esta pesquisa faz parte de um projeto maior – “Aposentadas: Entendendo as Transições do Trabalho-Vida da Mulher Mais Velha" –, financiado pelo Conselho Australiano de Pesquisa e três parceiros da indústria. A equipe realizou uma pesquisa em 2013 e 2014 com mulheres mais velhas (mais de 50 anos) no setor público (1.189) e no setor universitário (1.287), além de entrevistas telefônicas semiestruturadas em 2014 com 12 mulheres mais velhas que se identificaram como não tendo um emprego remunerado e não procurando trabalho – isto é, totalmente aposentadas.

Catherine Earl é Ph.D em antropologia social e pesquisa transformações do trabalho e do bem-estar, de gênero e de mudança social, além da ascensão da classe média asiática. É pesquisadora na Federation Business School, Federation University Australia.

Artigo original

http://journal.aarpinternational.org/a/b/2016/02/retirement-careers-for-women 

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