Pouco mais de uma década atrás, a carioca Alzira Ramos, então com 60 anos, enfrentou uma fase delicada: havia perdido a mãe e estava desempregada. A renda familiar limitava-se à fábrica de pipocas do marido Claudio, que conseguia ganhar dinheiro com comida, mas que ainda assim era insuficiente para driblar as dificuldades financeiras.

À época, um conhecido pediu que ela fizesse um bolo para vender no botequim dele. No dia seguinte, a encomenda dobrou. De lá para cá, a produção artesanal, que era apenas uma distração para o momento triste e a chance de renda extra, se transformou em potência. A Fábrica de Bolos Vó Alzira virou franquia e hoje opera com 220 lojas em todo o Brasil.

Em São Paulo, Dorival Bentivegna, 83 anos, também se viu diante de um impasse para pagar o plano de saúde dele e da esposa Zenaide, quando a filha mais jovem perdeu o emprego, há cerca de um ano. Resolveu ir para a cozinha, explorar seus dotes culinários e complementar o que recebe como aposentado. Passou a produzir e vender strudel, um delicioso doce de origem austríaca que aprendeu a fazer há algumas décadas.

Sua história começou a ser contada e replicada nas redes sociais e seus pratos caíram no gosto da clientela. Agora, ele e a mulher quase não têm folga – chega a ter fila de espera por seu famoso prato, encomendado por WhatsApp (11 99571-9128) ou pelo Facebook, na página Empório dos Doces. O strudel e outros quitutes tentadores que a família passou a preparar também podem ser adquiridos na feirinha da Praça da República, todo domingo, onde eles mantêm uma barraca.

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Em comum, Alzira e Dorival não titubearam ao apostar na alimentação para aumentar a renda familiar e provam que a cozinha é um ótimo local para quem precisa reforçar o orçamento doméstico ou levantar uma grana rapidamente, sobretudo diante do desemprego. A seguir, apresentamos algumas ideias para quem quer seguir o exemplo deles e ganhar dinheiro com comida.

Docinhos e salgadinhos

Esse é um nicho que sempre tem clientela e não exige, num primeiro momento, domínio de receitas complexas. Fornecer docinhos e salgadinhos para festas e eventos é sempre uma boa alternativa. Funciona melhor para quem não se importa em ter de trabalhar nos fins de semana, já que boa parte das encomendas será para esses dias.

Marmitas

Se o descanso do sábado e do domingo é indispensável, trabalhe com algo focado nos dias da semana, como o fornecimento de marmitas de comida caseira. É importante definir seu produto e seu nicho de acordo com afinidades, conhecimentos e objetivos. Pode investir, por exemplo, em marmitinhas fitness ou vegetarianas. "Mas se não tem familiaridade com pratos saudáveis nem poderá ter orientação de um profissional da área, opte pela comida tradicional", recomenda José Roberto Marques, presidente do Instituto Brasileiro de Coaching (IBC) e master coach.

Bolos e sobremesas

Assim como Alzira e Dorival, o preparo de pratos doces, tanto para o dia a dia como ocasiões especiais, é boa pedida. Há várias possibilidades, desde dedicar-se a alguma especialidade da família até preparar receitas que não demandam muita prática na cozinha. Outro ponto positivo é que esse tipo de produção não exige muito equipamento. Enquanto a fornada for pequena, eletrodomésticos comuns dão conta do recado. Dica: fazem bastante sucesso hoje os bolos de pote (ou na jarra) e os sempre bem-vindos cupcakes.

Doces caseiros

Cocadas, doces de leite, pés de moleque e compotas são algumas das possibilidades fáceis de produzir. Vender também não é difícil, já que esse tipo de comida tem público cativo. Feirinhas e eventos itinerantes, porta a porta, saída de escolas e supermercados ou mesmo empresas podem ser bons locais de distribuição. A durabilidade desse tipo de comida é alta, permitindo que se produza dias antes e só comercialize depois.

Lanches e espetinhos

Sanduíches naturais são sempre bem aceitos, principalmente perto de escolas e faculdades. O mesmo vale para espetinhos de carne. Entretanto, a segunda opção exige um carrinho especial para prepará-los na hora – e, com isso, ter vendas melhores.

Jantar particular ou aulas

Manda muito bem na cozinha e sua casa tem um espaço bacana? Experimente oferecer jantares para grupos de pessoas. Defina o cardápio e prepare tudo na hora para os convidados, que pagam um valor determinado por pessoa. Sugestão: crie noites temáticas e menus típicos. É possível ainda abrir as portas de casa para dar aulas a quem quer aprender a cozinhar.

Congelados e sorvetes

Opções que não precisam ser comercializadas logo após o preparo são pratos congelados, picolés e gelinhos (ou sacolés). O primeiro caso pede um pouco mais de conhecimento na cozinha, para que o processo de congelamento dê certo. Em relação aos sorvetes, vale apostar em versões à base de sucos naturais, com pegada mais saudável.

Pães

O preparo de pães caseiros está em alta e a fermentação natural tem sido bastante procurada. Nesse nicho, os alimentos fora do padrão atraem atenção e clientes, como pães integrais ou à base de ingredientes diferentes (beterraba e mandioca, por exemplo).

Representação comercial

Se não sabe cozinhar, mas sabe vender, a representação de produtos e serviços requer pouco investimento. Pode ser de uma distribuidora de doce ou de alimentos congelados, por exemplo. "É preciso ter boa carteira de contatos e empatia, além de conhecer bem os produtos que serão oferecidos", avisa Andrea Deis, master Coach pela Sociedade Brasileira de Coaching (SBC), pedagoga especialista em orientação educacional e vocacional e gestora empresarial.


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Para o negócio dar certo

Se você nunca trabalhou nas áreas de produção de alimentos e comércio, não pode esquecer alguns detalhes indispensáveis para obter sucesso e ganhar dinheiro com comida:

- Reflita sobre sua vida pessoal. Você busca flexibilidade de horário e mais contato com a família? Escolha uma atividade que não consuma todo seu tempo. A intenção é fazer dinheiro e trabalhar bastante? Vá pelo caminho mais rentável, mesmo que exija horas extras de dedicação.

- Defina previamente para quem vai vender. Escolha um público específico – como quem tem restrições alimentares ou estudantes que consomem lanches rápidos – e estude os locais e as maneiras de alcançar esses consumidores.

- Opte por um mercado em crescimento. Se está na dúvida sobre a qual tipo de alimento se dedicar, busque informações sobre o que está tendo bastante procura. Pode ser com consultorias ou mesmo ONGs, que ajudam pessoas que queiram empreender.

- Pesquise demanda e invista em um diferencial. Em qualquer segmento, há novidades que "bombam" quando surgem no mercado. Foi assim com as paletas mexicanas e com os bolos de vó. A partir do momento que decidir com qual produto quer trabalhar, pesquise o que há de novidade na área e busque referências (inclusive em sites estrangeiros) para produzir algo diferente do que já está sendo feito.

- Organize-se. Sozinho ou com a ajuda de outras pessoas, o planejamento e a organização serão fundamentais. Controlar os custos e o tempo de produção, bem como as limitações para que não atrase pedidos nem deixe sobrar produtos, é essencial.

- Tenha condições de higiene impecáveis. Principalmente no ramo de alimentação, o rigor com a higiene é imprescindível, tanto na produção como na comercialização. Tenha em mente que esse é um dos fatores que mais pesam na imagem dos seus produtos, ao lado do sabor e do preço.

- Escolha bem os ingredientes. Claro que ter o menor custo é uma necessidade, mas nada adianta produzir seus pratos com ingredientes de qualidade questionável. O resultado nunca será bom o suficiente para fidelizar clientes e fazer as vendas aumentarem mais e mais.

- Especialize-se. Num primeiro momento, não precisa dominar todas as técnicas de cozinha. Mas, se o negócio crescer, vai precisar se especializar, tanto na gestão do empreendimento como nas melhorias e novidades dos produtos. Órgãos como o Sebrae ou profissionais como coach de carreira e empreendedorismo ajudam na tarefa.

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- Avalie seu círculo de relacionamento. O boca a boca dos conhecidos e amigos (da vizinhança, academia, escola dos filhos, salão de beleza etc) será o ponto de partida para as vendas. As redes sociais, principalmente os grupos de pessoas que vivem no mesmo bairro, também serão úteis. É importante se relacionar bem e começar a entender as necessidades do seu público.

- Não esqueça da entrega. Além de produzir e comercializar seus produtos, terá que pensar na logística de distribuição. Vai vender em eventos? Vai fazer a entrega? Precisará de motoboy ou os compradores deverão retirar a comida? Tudo isso precisa ser definido antes de começar a vender. Lembre-se: sempre é possível fazer ajustes no caminho.

Consultoria: Andrea Deis, master coach pela Sociedade Brasileira de Coaching (SBC), pedagoga especialista em orientação educacional e vocacional e gestora empresarial; José Roberto Marques, presidente do Instituto Brasileiro de Coaching (IBC) e máster coach; Valéria Kinal, professora de Marketing da Faculdade Estácio Curitiba, consultora e diretora da empresa Intelingentia.

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