Até os anos 90, sempre que preenchia uma ficha, Mônica Toschi, 60 anos, colocava desenhista industrial no campo profissão. Desde 1999, porém, uma outra área tomou conta de sua vida: o adestramento de cães.

Tudo começou em 1999, quando ela e o marido decidiram comprar para a filha um filhote de Fox Paulistinha, a Bolinha, que precisava de adestramento. Na época, a então desenhista industrial trabalhava de casa.

O apego às aulas de adestramento transcendeu o treinamento da Bolinha e, quando Mônica se deu conta, tinha feito curso na área, era diretora do Kennel Club de São Paulo e organizava aulas sobre o tema.

Dezessete anos depois, ela diz que não lhe falta trabalho, pode escolher aqueles de que mais gosta e não se imagina sem seus alunos.

Leia a seguir os principais trechos da entrevista.

Como a sra. se envolveu com o adestramento?

Eu e meu marido decidimos comprar um filhote para a minha filha, a Belinha. Mas ela era o diabo da Tasmânia, brava, mordia todo mundo. Ficamos desesperados e fiquei sabendo de adestramento gratuito aos sábados num parque. Fui lá, comecei a fazer as aulas e gostei tanto que comecei a me envolver. Quando não podia ir, sentia falta! Quando você lida com cães, modifica sua vida. Há uma reciprocidade muito grande.

Em um dia, a sra. era aluna e, no outro, professora?

Foi aos poucos. Eu me aproximei dos treinadores, comecei a fazer cursos, entrei como sócia do Kennel Club de São Paulo, cheguei à diretoria, comecei a organizar aulas… No início, meu marido não gostou muito, porque eu trabalhava até tarde, incluindo os sábados. Mas ele acabou se envolvendo também, assim como minha filha.

E como era o adestramento no Brasil nos anos 90?

A linha de trabalho era a tradicional, que treina principalmente cães de segurança. Meu professor, por exemplo, era da Polícia Militar. O sistema de adestramento era para cães policiais, incluía dar tranco, usar colar de choques de baixa voltagem… Não os critico. Aprendi a lidar com animais difíceis. É preciso ter voz firme, atitude e saber segurar um cachorro de 50 kg que quer assumir o controle. E isso não se consegue só com biscoitos [sistema usado pela linha de adestramento mais moderna, de reforço positivo, que se baseia em trocar petiscos ou brinquedos por truques ou bons comportamentos].

“Cachorro, gato, peixe de aquário, todos eles são benefícios para as pessoas. Os problemas acontecem quando o dono não tem domínio ou conhecimento sobre o animal e seu comportamento” 

Hoje a sra. usa o reforço positivo nos adestramentos. Como foi a mudança da linha de treinamento?

A mudança foi natural e abriu minha cabeça. Comecei a me aproximar de treinadores de agility [esporte de agilidade e obediência praticado por cães e seus donos] e a aprender sobre reforço positivo e comportamento. O resultado vem bem mais rápido, vi como moldar os cães. Os donos ficam admirados com o que a gente faz com o bicho sem o uso da força.

Mônica Toschi trocou há 17 anos a carreira de desenhista industrial pela de adestradora. Crédito: Na Lata

Quais orientações básicas a sra. dá a quem quer ter um cachorro?

Antes de levar para casa, é preciso estudar vários fatores: raça, porte, quanto você está disposto a gastar no dia a dia, se vai poder levá-lo ao pet shop toda semana para tomar banho, necessidade de atividade física, de escovação, espaço disponível, interação. Todos os fatores contam. Cachorro, gato, peixe de aquário, todos eles são benefícios para as pessoas. Os problemas acontecem quando o dono não tem domínio ou conhecimento sobre o animal e seu comportamento.

“Hoje não tenho mais muito fôlego, não aguento mais fazer sete ou oito aulas por dia, mas, por outro lado, posso escolher os casos de que mais gosto”

Como a sra. se prepara quando recebe um aluno novo?

Cada raça tem suas particularidades, suas funções. Antes de atender, vou pesquisar, aprender sobre ele, tem que entender o cachorro, falar com o criador. Eu estou com um aluno agora que é um cão de caça de uma raça que eu não conhecia, Coonhound. Ele é bem preguiçoso. Se não tiver o que fazer, dorme. Se achar o treino chato, dorme. Pesquisei sobre ele porque preciso saber coisas para que eu possa tirar dele aquilo que eu quero. Aprendi que essa raça detesta treino de obediência, tem um limite para ensiná-lo.  Para deixá-lo animado, brinco com ele de farejar, aí fica ligadão. Já cheguei a passar um caldo de frango por uma praça só para ele farejar. 

A sra. se imagina aposentada?

Fui levada ao adestramento pelas circunstâncias e acabou dando muito mais certo do que eu imaginava. Claro que cansa e hoje não tenho mais muito fôlego, não aguento mais fazer sete ou oito aulas por dia, mas, por outro lado, posso escolher os casos de que mais gosto. Eu não fico sem trabalho, amo o que faço e não me vejo parando de trabalhar com meus alunos.

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