O Instituto de Longevidade Mongeral Aegon e o CIEE (Centro de Integração Empresa-Escola) firmaram uma parceria para impulsionar a contratação de pessoas com mais de 60 anos de idade. As organizações devem trabalhar, entre outras frentes, para a aprovação do RETA (Regime Especial de Trabalho do Aposentado), um projeto de lei que prevê regime de trabalho semelhante ao do estágio para a população dessa faixa etária, com jornada reduzida e sem incidência de contribuições previdenciárias.

A proposta, elaborada pelo instituto e pela Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), ligada à USP (Universidade de São Paulo), ainda não foi apresentada ao Senado. Segundo o presidente do Instituto de Longevidade Mongeral Aegon, Nilton Molina, o texto deve chegar às mãos de parlamentares assim que o cenário político esteja mais ameno.

Além do PL, as instituições devem unir forças para oferecer capacitação para esses profissionais. “A requalificação é o grande problema”, sinaliza Molina. Para ele, há funções que, claramente, precisam de uma força de trabalho mais experiente, entre elas a de atendimento em call center. “Os jovens não têm paciência para isso. Velho adora bater papo – veja eu, que estou falando há 15 ou 20 minutos”, brincou o executivo, que tem 80 anos.

O presidente do Conselho de Administração do CIEE, Luiz Gonzaga Bertelli, destacou que a inserção de pessoas da “terceira idade no mercado de trabalho ainda é rara”. Muitos, completa ele, podem contribuir positivamente para as corporações, além de se manterem socialmente ativos.

O anúncio da parceria foi feito no último dia 4, no auditório do CIEE em São Paulo. O evento também trouxe um debate com especialistas sobre a convivência entre gerações no ambiente corporativo. Coordenado pelo vice-presidente do Conselho de Administração do CIEE e presidente da consultoria Lens & Minarelli, José Augusto Minarelli, ele contou com a participação de Fran Winandy, pesquisadora de diversidade etária nas organizações; Gustavo Boog, coach, consultor e escritor sobre temas relacionados ao envelhecimento; Euclides Lanzarin, gerente de operações da Mondial Assistance; a gerente de gente Fernanda Lima de Castilho e a analista de comunicação Marcella Dias, da Dotz; e Henrique Noya, diretor-executivo do Instituto de Longevidade Mongeral Aegon.

“Nas empresas, existe prazo de validade; O importante é ter trabalho e remuneração, não necessariamente um emprego”

Para Minarelli, os trabalhadores mais velhos têm o desejo de continuar contribuindo com sua força de trabalho, mas esbarram no preconceito. “Nas empresas, existe prazo de validade”, diz. E completa: “O importante é ter trabalho e remuneração, não necessariamente um emprego”.

Nilton Molina, presidente do Instituto de Longevidade Mongeral Aegon, e Luiz Gonzaga Bertelli, presidente do Conselho de Administração do CIEE, assinam parceria; Crédito: CIEE divulgação/Servfoto

A especialista em envelhecimento Fran Winandy diz que o etarismo – discriminação contra qualquer grupo etário, como pessoas mais velhas e mulheres em idade reprodutiva – vai além das entrevistas de emprego. Nas empresas, os trabalhadores com mais idade são recusados em programas de treinamento e desenvolvimento. “A diversidade etária no Brasil ainda não é valorizada.”

“Se ganhamos décadas de vida, o que vamos fazer com elas?”, provoca o consultor Gustavo Boog. Permanecer no mercado de trabalho pode ser uma vantagem para o profissional mais velho e o empregador. “O idoso pode ser inovador. Há muitas ideias que ele não colocou em prática”, exemplifica.

Para que a convivência com as outras gerações dê certo e todos esses projetos saiam da gaveta, o gerente de operações da seguradora Mondial Assistance, Euclides Lanzarin, diz que é preciso planejamento. Tratar as pessoas mais velhas em grupos não é o adequado, porque “não se insere um pequeno grupo em um grande sem conflito”. A empresa contratou 40 pessoas mais velhas e, segundo ele, o preconceito era evidente até entre elas, como com as mulheres que nunca tinham trabalhado.

Na Dotz, o programa de contratação de profissionais com mais de 55 anos de idade deve ser concluído até o fim do mês. Para as três vagas da empresa do setor de fidelização, havia 1.512 inscritos. “Elas vão voltar à ativa em um ambiente receptivo, com horário flexível e carga horária reduzida”, destaca a analista de comunicação Marcella Dias, uma das pessoas envolvidas na elaboração do projeto.

Essa maleabilidade de jornada está prevista no RETA, destaca o diretor-executivo do Instituto de Longevidade Mongeral Aegon, Henrique Noya. “Estamos trabalhando com até 25 horas semanais”, informa ele, acrescentando que o pagamento poderia ser diário, semanal ou mensal. Como estímulos às empresas, há a isenção de contribuições previdenciárias e de FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço). “Prevemos que 1,8 milhão de aposentados sejam incorporados ao mercado de trabalho em dez anos.”

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