Ele orienta e apoia pessoas de todas as idades no desenvolvimento pessoal e na tomada de decisões para uma vida mais plena e significativa. Criou o grupo "Mais Velhos, Mais Sábios" no Facebook e reúne semanalmente um grupo de idosos para dividir vivências e experiências.

Engenheiro com mestrado em administração e psicologia, Gustavo Boog, 70 anos, é autor de mais de 20 livros, entre eles “Estou Envelhecendo! E Agora?”. Interessou-se pelo tema para entender seu próprio processo. “E preenchi minha agenda e meu coração de alegria e entusiasmo.”

“Quando temos um roteiro, dicas para viver melhor, nosso caminho torna-se mais seguro”

Coach, ele quer derrubar o paradigma de grande parte da nossa sociedade de que os idosos são um peso para a sociedade. “Quando temos um roteiro, dicas para viver melhor, nosso caminho torna-se mais seguro”, ensina. E, para quem está se aposentando, ele garante: “Viver sem crachá pode ser a melhor fase da vida”.

Leia a seguir os principais trechos da entrevista.

Quando uma pessoa começa a envelhecer. Aos 40, aos 50, aos 60 anos?

O envelhecimento é um nevoeiro no qual entramos, mas ele depois vai se dissipando, e as coisas ficam claras. Isso é importante! Cada um de nós começa a envelhecer desde o momento em que nasce. Mas, quando chegamos por volta dos 60 anos, a velocidade aumenta muito rapidamente.

Legalmente, a partir dos 60 anos as pessoas são consideradas idosas, mas a grande verdade é que, nos dias de hoje, encontramos pessoas ativas e saudáveis com 80, 90 anos ou mais. O jeito de envelhecer é muito diferente do jeito que acontecia décadas atrás. Os idosos de hoje são pioneiros.

Gosto muito das pesquisas do dr. Gene Cohen, psiquiatra americano que diz que existem diversas fases no envelhecimento, o que derruba o senso comum de que é uma única fase sem diferenciação. O livro dele, “The Mature Mind”, é uma leitura que recomendo.

Qual é o ônus e o bônus desse pioneirismo?

Diz o provérbio popular que o único jeito de não ficar velho é morrer jovem. Mas isso não é uma boa opção. O grande bônus da maior longevidade é ganhar duas ou três décadas de vida, que pode ser usufruída com saúde, alegria e um ampliado significado de vida. O grande ônus é que o corpo físico vai gradativamente decaindo, o leva a limites crescentes, por exemplo, na mobilidade.

Para usufruir desses anos a mais que ganhamos, para termos uma boa qualidade de vida, é fundamental focarmos três coisas: alimentação saudável, atividade física e manter a cabeça ativa e curiosa.

“O paradigma de que os idosos são um peso para a sociedade precisa ser derrubado”

No seu mais recente livro, "Estou Envelhecendo! E Agora?", você diz que a vivência de envelhecer é única, pessoal e intransferível. Mas que, se tivermos um mapa, um roteiro, um guia, podemos caminhar com mais segurança, aprendendo com aqueles que a vivenciaram antes de nós. Como, então, entrar com mais segurança e alegria nesse território desconhecido?

O paradigma atual em grande parte da nossa sociedade é que os idosos não servem mais para nada, são obsoletos, são um peso para a sociedade. Ele precisa ser derrubado! Quando temos um roteiro, dicas para viver melhor, nosso caminho torna-se mais seguro.

Conduzo um programa no Instituto Práxis, chamado "Partilha de Sabedoria", onde um pequeno grupo de idosos se reúne semanalmente para compartilhar experiências e vivências. Temas como o que fazer com o tempo livre, planos de vida, luto e perdas, cura do passado, sonhos do futuro, heranças e testamento, atividades voluntárias, oportunidade de educação etc. São momentos em que cada um se enriquece com a experiência do outro, trazendo novas opções de caminhos, de alternativas.

O psicólogo Abraham Maslow defendia que só necessidades insatisfeitas motivam e que, para que uma necessidade se manifeste, é necessário que as anteriores estejam razoavelmente satisfeitas. Quais são as fontes de motivação na velhice?

O que motiva cada um, com Maslow diz, são as necessidades insatisfeitas. E estas variam de pessoa a pessoa, de tempos em tempos. Como cada pessoa tem uma realidade única, fica difícil responder genericamente. Por exemplo, nas necessidades básicas, um idoso doente e sem recursos financeiros motiva-se por estar novamente saudável e conseguir dinheiro. Um idoso que se isola dos outros vai se motivar por relacionamentos pessoais. Uma pessoa carente de reconhecimento vai se motivar por um prêmio ou uma medalha. E assim por diante.

Ao chegar à aposentadoria, muitas pessoas se deparam com um enorme vazio em suas vidas. E o trabalho, mesmo se rotineiro e chato, faz falta. Você defende que esse vazio, no entanto, abre um enorme espaço de atuação, com muitas possibilidade, e que a liberdade de escolha é tão grande que chega a assustar. Que possibilidades são essas?

Viver sem um crachá pode ser a melhor fase da vida, regida muito mais por "eu quero" em vez do "eu tenho que". Vou citar apenas cinco possibilidades que podem preencher esse vazio e dar novos significados à vida:

1 - Ocupação remunerada: prestar serviços para o antigo empregador; ser consultor em sua área de especialidade; abrir um negócio próprio ou uma franquia; ser professor naquilo que conhece; ser um tradutor; levar grupos de idosos para viagens; ser coach;

2 - Trabalho voluntário: contribuir com seu tempo e suas competências nas milhares de alternativas no terceiro setor;

3 - Dedicar-se à família: ajudando, por exemplo, a cuidar de netos ou bisnetos;

4 - Estudar: existem muitas ofertas de cursos nas Universidades da Terceira Idade. Na USP, professores e conteúdos são excelentes _ e gratuitos. Aprender idiomas ou a tocar um instrumento musical são outras opções;

5- Hobbies/lazer: aqui, são milhares de alternativas.

“As diversas gerações têm muito a aprender umas com a outras”

 Como o idoso é percebido hoje nas grandes empresas? E na sociedade? Por que a intergeracionalidade não é uma realidade no mundo corporativo?

Isso está se modificando, mas ainda a percepção é mais negativa do que positiva. O idoso pode e deve lutar por um lugar melhor na sociedade, que valoriza apenas o jovem bonito. As diversas gerações têm muito a aprender umas com a outras. Os jovens podem ensinar ao idoso temas ligados a tecnologia, ao passo que os idosos podem ensinar aos mais jovens a arte dos relacionamentos. As empresas começam a abrir espaço para que os idosos disponibilizem suas experiências e competências ao mundo organizacional, onde ganham a empresa, o idoso e a sociedade como um todo.

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