Nas sociedades atuais, nem sempre os indivíduos falam a mesma língua. Na verdade, isso não é de hoje – haja vista a Torre de Babel. Porém, quem consegue aprender com as diferenças em relação ao outro leva vantagem. Esse raciocínio vale muito no caso do trabalho em equipe entre gerações; que o diga o empresário Romeu Morais, de 72 anos.

Nascido na pequena cidade de Tangará, no oeste de Santa Catarina, Romeu aprendeu desde cedo a importância do equilíbrio entre ouvir e ser ouvido. Afinal, aos 16 anos, já precisava ser convincente nas relações interpessoais ao vender bilhetes de loteria em Curitiba, para onde havia se mudado com o pai, que exercia o ofício de carpinteiro. “Eu era um capiau”, define.

Depois de se formar em agronomia – “Fui o único que estudou entre três irmãos”, diz –, ele engatilhou uma carreira de sucesso como empreendedor, a princípio focado apenas no setor agropecuário.


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Contudo, dos parceiros nos negócios dos primeiros tempos, ele mantém hoje apenas a amizade. “Nós desfizemos a sociedade de uma empresa do segmento agro uns 20 anos atrás”, conta. “Percebemos que precisávamos arejar nossas ideias por meio de outras ligações, uma vez que, se ficássemos apenas entre nós, seguiríamos repetindo velhos padrões. Então, cada um foi para o seu lado.”

Romeu, no caso, seguiu por várias frentes. Atualmente, está no comando de três empreendimentos, todos com diferentes sócios: uma companhia agropecuária sediada em Goiânia, uma construtora nos Estados Unidos e uma franquia de idiomas. Em cada uma dessas empreitadas, acabou por se associar a pessoas mais jovens que ele.

Em uma delas em particular, a mescla de diferentes faixas etárias na gestão foi responsável direta pelos rumos tomados pela companhia. E essa interação envolveu inclusive relações familiares.

Uma família com foco no trabalho em equipe

Foi a partir da harmonia entre Romeu, sua filha Renata Morais, hoje com 38 anos, e André Belz, que está com 40 e à época ainda estudava odontologia, que uma franquia deficitária se tornou, 15 anos depois, um negócio que fatura mais de R$ 30 milhões por ano – foram R$ 31 milhões em 2018.

Esse arranjo começou durante um jantar entre Romeu e Renata, em uma pizzaria de Curitiba. A jovem estava para concluir uma graduação em engenharia mecânica, mas se mostrava relutante em relação a seguir essa carreira. Cogitava, porém, fazer uma especialização na Espanha ou na Alemanha.

Diante da incerteza da filha, o pai lhe acenou com outra possibilidade, totalmente distinta. “Ela já falava alemão e tinha um inglês muito bom por ter feito intercâmbio nos EUA e na Austrália”, diz Romeu. “E eu era franqueado de uma escola de idiomas em São José, município da Grande Florianópolis. Pela familiaridade dela com o estudo de línguas, eu lhe ofereci a gestão da escola como alternativa de desenvolvimento profissional.”trabalho em equipe

Romeu Morais está no comando de três empreendimentos, todos com diferentes sócios e mais jovens; crédito: Divulgação.

Na verdade, foi além. Como a franquia em questão andava mal das pernas, o empresário enxergou ali a oportunidade de reverter esse cenário. Mas, para tanto, precisava de renovação. E inovação.

Resolveu, assim, fazer uma proposta ao franqueador pela aquisição do negócio todo, que incluía também uma unidade em Curitiba. Seu plano era colocar à frente do empreendimento, além da filha, um jovem coordenador da escola de São José. Era André Belz, que, embora estudasse odontologia – mais tarde acabou se formando, apenas protocolarmente –, via-se cada vez mais envolvido no ramo de idiomas. E mais dois outros empreendedores na faixa etária entre os 20 e 30, Rodrigo e Lélia.

Experiência x inovação

Nascia aí, em 2004, a Rockfeller Language Center, rede de franquias de idiomas (inglês e espanhol). Em um momento inicial, Romeu abandonou a unidade de Curitiba e concentrou todos os seus esforços na de São José, administrada por Renata e André. E, já nos primeiros passos do novo negócio, sua tarimba empresarial se fez necessária para o bom andamento do trabalho em equipe.

“Eu precisei desafiá-los naquele momento”, lembra, referindo-se à filha, a André e aos dois outros empreendedores. “Eles chegaram a questionar o próprio potencial porque, em sua visão, os resultados não eram os esperados naquele começo. Então tive de explicar que em geral as coisas não acontecem assim, da noite para o dia. Que o empreendimento demoraria um tempo para se consolidar, e que isso iria requerer muito trabalho e mesmo sacrifícios pessoais.”

Também fez questão de salientar algumas outras condições que julgava imprescindíveis para o êxito no negócio, tais como “honestidade, seriedade, confiança em nós mesmos e uns nos outros”. “Falei que não deveríamos olhar para os próprios umbigos e sim para a empresa como um todo como prioridade”, afirma. Foi ainda incisivo em uma dica de cunho financeiro: “Não tomar empréstimos em bancos para impulsionar o crescimento”. “Já tinha me dado mal antes ao recorrer a essa prática”, justifica.

trabalho em equipe

Rockfeller Language Center de Curitiba; crédito: Divulgação

Na contrapartida dos conselhos, sabia bem o que de melhor aqueles jovens poderiam lhe entregar: inovação. “Sempre coloquei também para eles que, quando trabalhamos para gerar alguma coisa, temos que fazê-lo bem e com algum diferencial”, diz. “Fazer mais do mesmo não leva ao sucesso.”

Foi para essa busca pelo novo e pelo diferente que Romeu canalizou o sentimento de urgência dos jovens sócios. Que, então, saíram pelo mundo – literalmente, em viagens pelo Brasil e pelo exterior – em busca de tecnologias e metodologias de ponta no ensino de idiomas.

Assim, inseriram estratégias até hoje consideradas inovadoras na forma de educar. Entre elas, aulas voltadas totalmente para a conversação, com turmas menores, e recursos audiovisuais como quadros interativos.

Liberdade de ação 

Hoje, a franquia da Rockefeller tem 39 unidades em operação. Até o final de 2019, a meta é chegar a 50; em três anos, pretende-se que sejam cem. Romeu, formalmente, ocupa o cargo de presidente do conselho, mas ainda é bastante ativo nas estratégias de expansão da marca. 

Ativo, mas não centralizador – o que deixou de ser também por influência dos parceiros mais novos. “Há uns oito anos eles me pediram mais liberdade de ação”, conta. “E achei que fazia sentido, mesmo porque o negócio já estava bem sólido. Percebi, então, que devia abrir mais para eles a autonomia de tomadas de decisão.”

A partir das lições aprendidas em toda essa trajetória, os alunos do “professor Morais” lhe atribuem uma nota bem alta no quesito experiência. “Tudo o que aprendi do ponto de vista empresarial foi com o Romeu”, frisa André. “Renata e eu sempre confiamos muito no que ele diz, até porque ele tem moral para falar, dadas as conquistas que realizou na prática.” 

No trabalho em equipe e na troca de experiência entre gerações, falar a mesma língua significa entender-se bem apesar das fases diferentes da vida. E é justamente nessas diferenças, aliás, que está a chance de casar competências para o benefício de todos.

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