Foi-se o tempo em que a aposentadoria representava um ponto final na carreira e nos sonhos dos profissionais. Para muitas pessoas com mais de 55 anos, ela é apenas o começo de um novo ciclo produtivo, desafiador e cheio de possibilidades pelas trilhas do empreendedorismo. “É uma geração que começou a trabalhar muito cedo e que, mesmo depois de se aposentar, não está disposta a parar”, afirma Helena Ribeiro, fundadora da Razão Humana Consultoria.

Segundo o estudo GEM 2018 (Global Entrepreneurship Monitor), 1,9 milhão de empreendedores cujos negócios estão em fase inicial têm de 55 a 64 anos. Eles representam 9,7% das pessoas que se dedicam a uma empresa nova ou prestes a nascer, com foco principalmente nos setores de serviços domésticos, de alimentação e bebidas ou salões de cabeleireiro e tratamentos de beleza.

empreendedorismo

Créditos: Supavadee butradee / shutterstock

Já quando se trata de empresas consolidadas, os seniores somam 4,8 milhões de indivíduos e representam 24,9% dos empreendedores, mais que o dobro do percentual da faixa de 18 a 34 anos. Entre os mais velhos, a maioria dos negócios pertence aos ramos de confecção de roupas, serviços domésticos ou comércio varejista de vestuário e acessórios.

Acima dos 65 anos, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas) estima que haja 2,2 milhões de donos de negócios. Do total, 14% ganha o equivalente a cinco salários mínimos ou mais e 6,1% emprega a partir de seis funcionários. A título de comparação, os empreendedores de 25 a 34 anos registram percentuais de 7% e 3,2%, respectivamente.

Empreendedorismo: motivações

A pesquisa GEM 2018, feita em parceria com o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), também revela que 6 de cada 10 seniores começaram a empreender porque identificaram uma boa oportunidade.

O restante atribui a decisão à necessidade de se ocupar e gerar renda. “Ao fazer contas, muitos percebem que não dá para garantir o mesmo padrão de vida só com a aposentadoria. Uma das maiores preocupações é com o plano de saúde”, conta Helena. É nesse momento que, segundo ela, uma boa parte usa o FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) para investir em um negócio que complemente o rendimento mensal.

Para o engenheiro Miltom de Sousa, 76 anos, o grande motivo de seguir pelo empreendedorismo foi o desejo de manter-se ativo no mercado. Ele se aposentou aos 55 anos como diretor de uma multinacional e permaneceu no cargo até ser dispensado cinco anos mais tarde. “Me senti frustrado porque ainda tinha muita disposição para trabalhar”, lembra.


Só quem participa do grupo de Whatsapp do Instituto de Longevidade recebe os melhores conteúdos informativos. Clique aqui  e faça parte! 


Com muito tempo livre, Miltom começou a buscar uma nova atividade para si. “Não sou pessoa de ficar em casa e, ao mesmo tempo, não queria mais ser empregado de ninguém”, diz. Foi assim que, em 2002, ele adquiriu uma franquia da rede Doctor Feet. “Escolhi o modelo de franchising justamente pela transferência de know-how. Apesar de ter administrado grandes empresas, precisava me reciclar e aprender a gerenciar um negócio pequeno.”

Atualmente, a loja, instalada em um shopping de Campinas, no interior de São Paulo, conta com 11 funcionários. Miltom divide as responsabilidades da gestão com a filha, mas não deixa de ir um só dia à unidade. “Minha grande satisfação é continuar ativo e conviver com os clientes. Mas diferentemente de um jovem, que vive em função do crescimento do negócio, não faço planos de longo prazo.”

Maturidade, bagagem profissional e conhecimento do mercado são fatores que podem contribuir para o sucesso dos empreendedores seniores. “Uma reserva financeira também é fundamental para investir no negócio com que sempre sonhou”, complementa Helena.

Planeje antes

“Antes de sair fazendo e colocando em prática ideias de negócio, é importante que o aposentado tenha um plano de preparação para o futuro”, aconselha a fundadora da Razão Humana Consultoria. 

O primeiro passo é se perguntar sobre o que quer conquistar e aonde pretende chegar. “O segundo é fazer do planejamento um hábito”, sugere Helena.

Confira, a seguir, dicas da consultora para o aposentado que pensa em empreender:

  • Avalie o grau de conhecimento que tem da área onde pretende atuar;
  • Analise sua capacidade de investimento e quanto pretende tirar da reserva que estava destinada à sua subsistência na aposentadoria;
  • Recorra a órgãos de fomento ao empreendedorismo para ampliar conhecimento, fazer network e contar com uma consultoria de negócios;
  • Busque uma assessoria jurídica e contábil para obter orientação na formalização do negócio;
  • Anteveja os pontos fortes e fracos do futuro empreendimento, bem como os seus como empreendedor;
  • Desenvolva habilidades;
  • Trace metas de curto, médio e longo prazos.
Compartilhe com seus amigos