Depois de ter superado três cânceres e algumas falências como microempreendedora, a tecnóloga de 50 anos, Sandra de Nigris diz que tem uma “vontade feroz” de adquirir novos conhecimentos. No fim de 2015, aos 50 anos, concluiu sua primeira graduação. Já engatou neste ano a segunda, com uma bolsa de pesquisa científica na própria Unisal - Centro Universitário Salesiano de São Paulo. A meta é abrir um negócio social. “Tenho pressa; quero resgatar o tempo perdido”, justifica.

Leia, abaixo, os principais trechos da entrevista.

O que te levou à universidade aos 48 anos?

No momento em que eu deveria estar estudando, conheci meu atual marido, casei, tive um filho, que morreu quando estava completando nove meses de gestação, e seis meses depois já estava grávida da minha filha. Tínhamos um negócio, que deu muito retorno financeiro, até compramos nossa casa, mas veio o Plano Collor e afundamos em dívidas. Fiz de tudo um pouco para sobreviver. Tive até uma tapeçaria.

Quando tudo estava se estabilizando, vieram três cânceres: em 2001, em 2002 e em 2008. Quando recebe um diagnóstico de uma doença que leva muita gente à morte, você fala o seguinte: “Preciso ir à luta”.

Foram dez anos até eu retornar ao mundo acadêmico. Porque, até você buscar tudo aquilo que deixou para trás, entra um monte de coisas na fila que, na sua cabeça, são prioritárias: dar risadas, fazer amigos.

Em 2013, fiz o Enem. Surpreendentemente, passei. Escolhi Tecnologia em Processos Gerenciais, porque eu queria um curso curto. Pelo meu histórico, não tinha direito de fazer planos a longo prazo. Pensei: seu eu morrer, morro com o sonho realizado de ter um curso superior.

 “A universidade mudou minha vida, minha cabeça; hoje consigo fazer planos para o futuro”

E a segunda graduação?

Gestão em Recursos Humanos. A universidade mudou minha vida, minha cabeça, hoje consigo fazer planos para o futuro. Quero fazer mestrado, dar aulas. Quero muita coisa e tenho pressa.

Como foi a volta à sala de aula?

Eu achei que a diferença de idade ia ser um problema. Mas me surpreendi. Me envolvo, muito, em tudo, mais do que os meninos, até mesmo na bagunça. Eu tenho necessidade de viver.

Isso é consequência da maturidade?

Cânceres à parte, se eu tivesse feito faculdade antes, não teria aproveitado tanto.  Me formei com mérito acadêmico do Conselho Regional de Administração!

Você teve algumas experiências empreendedoras, algumas malsucedidas. Quais foram os aprendizados?

Se eu consegui vencer três cânceres, sair de um negócio e levantar outro é fichinha. Eu tenho uma vontade feroz de aprender, de viver, de acontecer.

O que, para você, é acontecer?

É ajudar os menos favorecidos, economicamente falando. Entrei numa bolsa de iniciação científica para validar no meio acadêmico um produto que desenvolvi, o Sustentex, e que já apliquei em algumas casas. Trata-se de um revestimento de parede com acabamento final, feito a partir de resíduos como folha de bananeira, e que é assentado sobre o tijolo ou o bloco e custará R$ 18 o metro quadrado.

“Empreender não tem idade, basta querer; e a maturidade te dá uma bagagem monstruosa”

E quando nasceu o Sustentex?

Não sei precisar o ano, mas foi quando a dona Nega, minha vizinha, que estava muito triste porque ia receber a família do Nordeste, me contou que tinha vergonha da casa dela. Eu fui à lixeira da rua e peguei pedaços de isopor. Com a ajuda de algumas pessoas, transformamos a sala dela, ficou linda. E, melhor, durou. Pensei: por que isso não pode virar um negócio social? Porque eu acredito que você pode fazer o bem e também ganhar dinheiro. E quero empoderar as comunidades.

E como a universidade te ajudou nesse processo?

Quando você tem essa pegada social, começa a tirar do seu para dar para os outros, indiscriminadamente. A Unisal me ensinou a represar minhas ideias. E me direcionou e orientou para transformá-las em um negócio. E o produto será lançado no segundo semestre.

Então, empreender não tem idade?

Não mesmo, basta querer. E tem mais: a maturidade te dá uma bagagem monstruosa!

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