Até então, a maioria dos tratamentos disponíveis contra demências tinha como alvo as placas amiloides, encontradas em pessoas com doença de Alzheimer. No entanto, o último estudo publicado no periódico Science Translational Medicine sugere que o direcionamento da inflamação no cérebro poderia deter o avanço da doença.

Em vez de mirar nas típicas proteínas invasoras, cientistas da Universidade da Califórnia, em Berkeley, trataram a inflamação com medicamento específico e conseguiram reverter a demência em ratos. Testes finais mostraram que os ratos senis foram significativamente melhores em aprender novas tarefas e tornaram-se quase tão aptos quanto os demais que tinham metade da idade.

A descoberta deixou os especialistas bastante otimistas em relação à utilização da técnica em humanos. Eles também acreditam que as próximas drogas desenvolvidas a partir da descoberta possam ajudar o cérebro humano a se recuperar de derrames, concussões ou lesões cerebrais traumáticas.

Mais perto da cura do Alzheimer

O sucesso do tratamento em camundongos vai ao encontro de um crescente corpo de pesquisas que afirma que nossas barreiras hematoencefálicas começam a vazar à medida que envelhecemos. Este é o sistema de filtragem que bloqueia os organismos infecciosos, liberando substâncias químicas que destroem os neurônios.

Um dos coautores do estudo é o professor Alon Friedman. Exames de ressonância magnética anteriores realizados por ele mostraram que essa barreira se quebra em quase 60% das pessoas aos 70 anos.

Experimentos em ratos mostraram que a quebra das barreiras hematoencefálicas provoca um nevoeiro inflamatório que altera os ritmos do cérebro, causando pequenos eventos semelhantes a convulsões. Esse quadro pode levar a lapsos momentâneos no hipocampo que controla a memória, lançando uma nova luz sobre os sintomas de demência e outras doenças cerebrais degenerativas.


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Principal responsável pelo estudo, a doutora Daniela Kaufer, da Universidade da Califórnia, Berkeley, explica que nós tendemos a pensar sobre o cérebro envelhecido da mesma maneira que pensamos em neurodegeneração. “A idade envolve perda de função e células mortas. Mas nossos novos dados contam uma história diferente sobre por que o cérebro envelhecido não está funcionando bem”, disse.

De acordo com a doutora, quando removemos esse nevoeiro inflamatório, em dias, o cérebro envelhecido age como um cérebro jovem. “É uma descoberta muito, muito otimista, em termos da capacidade de plasticidade que existe no cérebro. Nós podemos reverter o envelhecimento cerebral”, aposta Daniela.

As tomografias chamadas EEGs (eletroencefalogramas) revelaram perturbações semelhantes às ondas cerebrais em humanos com Alzheimer, comprometimento cognitivo leve e epilepsia.

Tratamento indica a hora certa de parar com o medicamento

Isso significa que barreiras com vazamentos e ritmos cerebrais anormais detectáveis por ressonância magnética e EEG, respectivamente, podem indicar demência, além de sinalizar uma oportunidade de intervenção usando um medicamento para retardar ou reverter a doença.

Um medicamento conhecido como IPW mostrou-se capaz de bloquear um gene conhecido como TGF-β que alimenta a inflamação que, por sua vez, desencadeia a albumina das proteínas no sangue.

"Agora temos dois biomarcadores que indicam exatamente onde a barreira hematoencefálica está vazando, para que você possa selecionar pacientes para tratamento e tomar decisões sobre quanto tempo administrará a droga", disse a pesquisadora. "Você pode segui-los e, quando a barreira hematoencefálica estiver curada, não será mais necessário o medicamento".

Durante os estudos, os ratos que receberam o medicamento em doses capazes de diminuir a atividade do gene tiveram seus cérebros rejuvenescidos, com menos inflamações e redução da suscetibilidade convulsiva, além de apresentarem uma melhora nas ondas cerebrais. Um segundo teste realizado em um labirinto mostrou que os ratos realizaram tarefas espaciais como se fossem ratos jovens.

Estudos anteriores embasam a descoberta

Anteriormente, o professor Friedman, da Universidade Ben-Gurion do Negev, em Israel, já havia desenvolvido uma técnica de varredura chamada DCE (Dynamic Contraste Enhanced). O tipo especial de ressonância magnética detectou mais vazamentos na barreira hematoencefálica de pessoas com maior declínio cognitivo.

Para Daniela Kaufer, todas essas evidências apontam como um dos primeiros fatores desencadeantes do envelhecimento neurológico uma disfunção no sistema de filtragem de sangue do cérebro.

Os pesquisadores agora se empenham em desenvolver um medicamento que cure a barreira hematoencefálica para tratamento clínico, o que, eventualmente, poderá ajudar os idosos com demências como a doença de Alzheimer.

Cura do Alzheimer

Foto: Okrasiuk / Shutterstock

“Chegamos a isso por essa porta dos fundos; começamos com perguntas sobre plasticidade relacionada à barreira hematoencefálica, lesão cerebral traumática e como a epilepsia se desenvolve”, declarou Daniela. "Mas depois que aprendemos muito sobre os mecanismos, começamos a pensar que talvez no envelhecimento, seja a mesma história. Esta é uma nova biologia, um ângulo completamente novo sobre por que a função neurológica se deteriora à medida que o cérebro envelhece.”

Atualmente, os únicos medicamentos para demência ou Alzheimer tratam os sintomas e não a causa. Esta nova droga, no entanto, abre portas para mudar essa realidade.

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