“Sofri um infarto e agora fui diagnosticado com insuficiência cardíaca”. Não é difícil ouvir essa frase de quem já passou por um ataque cardíaco. Depois do evento, a recuperação pode ser árdua e deixar sequelas. Porém, para aqueles que enfrentaram esse tipo de situação há chances de voltar a desfrutar de uma vida ativa, com autonomia, bem-estar e qualidade. E muito se deve ao que chamamos de reabilitação cardíaca.

O termo se refere a um tratamento voltado para pessoas que têm ou tiveram problemas no coração e atua tanto em aspectos físicos quanto emocionais. O fato é que grande parte das doenças e complicações cardiovasculares podem ter consequências que afetam as tarefas do dia a dia e, mais do que isso, podem trazer riscos à vida. Na sequência de um infarto, por exemplo, a probabilidade de uma depressão é maior.

Após o diagnóstico de doença ou evento grave é comum ser tomado pelo medo, por restrições ou dificuldades para voltar a uma rotina normal. É justamente neste sentido que a reabilitação intervém, para auxiliar esses pacientes a conquistarem ou melhorarem sua saúde física e mental, se reintegrando à vida social, de trabalho e lazer.

É uma parte importante da recuperação, no entanto, age ainda como uma prevenção secundária – para evitar outro evento cardíaco, talvez mais grave, ou uma nova internação. A reabilitação cardíaca utiliza um somatório de atividades, envolvendo educação, mudanças no comportamento e exercícios. Dessa forma, contribui na redução das taxas de morbidade e mortalidade.

Para quem é indicada?

A reabilitação cardíaca surgiu como forma de tratamento no final dos anos 1960. Porém, nessa época a recomendação era dada particularmente a pacientes de baixo risco que haviam sobrevivido a um infarto agudo do miocárdio.

Com o tempo, mais estudos e evidências, as diretrizes clínicas passaram a recomendar à reabilitação para uma gama mais ampla de diagnósticos e eventos cardiovasculares, a exemplo da insuficiência cardíaca, condição de longo prazo que afeta a capacidade do coração de bombear sangue de forma eficaz para o restante do corpo. Os sintomas, incluindo falta de ar e fadiga, podem restringir seriamente a capacidade do indivíduo de realizar suas atividades diárias. A expectativa de vida também é reduzida.

Hoje já se sabe que a reabilitação pode ser benéfica para pacientes com diferentes condições cardíacas, agudas ou crônicas, incluindo, além da insuficiência cardíaca, a doença arterial coronariana, angina, cardiomiopatias, cardiopatias congênitas, doença das válvulas cardíacas, casos de infarto do miocárdio, transplante cardíaco ou cirurgias no coração, como a revascularização coronariana, implante de marca-passo ou desfibrilador, entre outros.

Um programa de reabilitação cardíaca pode ser iniciado como um atendimento precoce (uma prevenção primária) do paciente com doença cardiovascular, desde o momento do diagnóstico, na internação, bem como numa fase aguda, no pós-operatório ou depois de um evento no coração (ainda no hospital) até após a alta hospitalar.

Há ainda outros programas, como aqueles voltados para pacientes oncológicos em tratamento ou posteriormente a quimioterapia e/ou radioterapia e para idosos com síndrome de fragilidade, ou seja, que apresentam baixa força muscular, exaustão, baixa velocidade de marcha e inatividade física. Nesses casos, o enfoque é o fortalecimento muscular e condicionamento cardiovascular. O fato é que todos podem ganhar com a reabilitação, independentemente da idade, sexo, nível de aptidão física ou gravidade da doença.

Como funciona a reabilitação cardíaca

Normalmente, um programa de reabilitação cardíaca começa com uma análise cuidadosa da condição e das necessidades do paciente, em que são avaliados o histórico da doença, possíveis riscos, aspectos de funcionalidade, cognição, qualidade de vida, nutrição e perfil psicológico. É um processo de intervenção estruturado, abrangente e multidisciplinar, que engloba uma equipe de saúde, entre especialistas em exercícios, nutrição, fisioterapeutas, psicólogos e cardiologistas.

O programa inclui, de modo geral, exercícios aeróbicos, de força e funcionais - supervisionados e progressivos; apoio e aconselhamento psicológico; educação sobre um estilo de vida saudável o e gerenciamento de fatores risco cardiovascular, além da otimização e adesão a terapia médica recomendada. O serviço também pode ser estruturado para o atendimento em casos de alta complexidade, com monitoramento eletrocardiográfico, utilização de ventilação não invasiva e suplementação de oxigênio.

No caso das atividades físicas, após avaliação, cada paciente obterá uma prescrição totalmente individualizada do tipo de prática a ser realizada. Apesar dos riscos inerentes à execução de exercícios, a reabilitação supervisionada é segura. A quantidade, intensidade e duração podem variar bastante: de 15 a 120 minutos por sessão, duas a sete sessões por semana, por períodos de 12 a 90 semanas.

Geralmente, as sessões de reabilitação cardíaca envolvem aquecimento, alongamento, treinos de força, resistência e fortalecimento muscular, além de exercícios respiratórios e aeróbicos (entre esteira ergométrica, bicicleta, máquinas elípticas ou de remar). É possível fazer presencialmente ou à distância (com telemonitoramento), quando a condição de saúde do indivíduo permite. A atividade física monitorada e voltada à recuperação aumenta, por exemplo, a capacidade pulmonar (diminuindo a dispneia ou falta de ar), promove a formação de novos vasos sanguíneos, fortalece a musculatura dos membros inferiores e, assim, melhora a circulação sanguínea, facilitando o trabalho do coração.

Benefícios para o resto da vida

A reabilitação cardíaca pode trazer muitos benefícios para a saúde tanto a curto como em longo prazo. O paciente tem a chance de entender como administrar seus sintomas, monitorar fatores de risco, controlar os próprios medicamentos, além de ter uma boa compreensão dos elementos que possibilitam hábitos e um estilo de vida mais saudável, incluindo medidas como parar de fumar, se exercitar com segurança, comer bem e administrar níveis de estresse.

A reabilitação dá ao paciente compreensão clara sobre seu estado, ferramentas e informações para que ele possa gerenciar sua condição cardíaca e viver uma vida mais longa e saudável. Estudos apontam que após a reabilitação, as chances de um novo evento cardíaco ou internação hospitalar são muito menores.

Esses levantamentos revelam que ao passar pela reabilitação, geralmente, as pessoas têm redução das taxas de colesterol total, da pressão e dos níveis de glicose no sangue. Apresentam ainda melhoras na autoconfiança para reassumir atividades interrompidas por infartos, cirurgias ou transplantes, e redução de quadros de ansiedade e depressão, comuns depois de enfrentar eventos cardíacos. Ganha o coração, que sai fortalecido, ganha o indivíduo, que retoma sua rotina e vida social, com o alívio de sintomas, aumento da energia e força em tarefas diárias, prevenção de doenças e complicações futuras. 

Porém, não devemos deixar de ressaltar: um dos principais desafios contemporâneos é levar esse tipo de programa ao alcance de todos. Hoje, apesar da forte recomendação nas diretrizes clínicas, o acesso à reabilitação cardíaca é restrito quando falamos de ambientes de baixa e média renda. É preciso mais investimento para atender às necessidades do crescente número de pessoas com doenças cardíacas e que apresentam duas ou mais doenças crônicas.

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