Desde 2007 estou realizando uma pesquisa intitulada “Corpo, Envelhecimento e Felicidade”, com 1.700 homens e mulheres moradores da cidade do Rio de Janeiro. Meu foco de análise são as representações, as expectativas e os medos associados à velhice.

Um dos dados mais interessantes é a diferença entre os discursos das mulheres na faixa dos 50 anos e o daquelas com mais de 60 anos. Enquanto as primeiras destacaram as perdas associadas ao envelhecimento, as segundas preferiram ressaltar os ganhos que tiveram com a maturidade.

As mulheres na faixa dos 50 anos reclamaram muito da decadência do corpo, especialmente do fato de terem engordado e não conseguirem mais emagrecer, das rugas, dos cabelos brancos, das estrias, da flacidez da pele, das dores musculares e da dificuldade para dormir. Elas disseram que se sentem “invisíveis”, “transparentes” e que não são mais consideradas bonitas, atraentes e desejáveis.

Muitas reclamaram da “falta de homem no mercado”, demonstrando sentir inveja daquelas que estão casadas. Essas mulheres me mostraram que, no Brasil, o corpo jovem, sexy e em forma é considerado um verdadeiro capital. No entanto, para elas, parece existir uma riqueza maior ainda: ter um marido fiel e companheiro, ou o que chamei de “capital marital”.

Já as mulheres de mais de 60 anos destacaram que, com a maturidade, puderam se libertar das obrigações familiares e sociais para investir tempo, energia e dinheiro em seus projetos de vida. Muitas resolveram fazer coisas que sempre quiseram e não puderam porque não tinham tempo para si mesmas: estudar, cantar, dançar, viajar, sair com as amigas _ e inúmeros outros projetos de vida.

Para elas, não importa se seus projetos são considerados importantes ou irrelevantes pelos outros. O que interessa é que elas estão conectadas com seus próprios desejos e não mais preocupadas em responder às inúmeras demandas familiares e sociais.

As mulheres de mais de 60 anos revelaram não se preocupar tanto com a aparência e menos ainda em ter (ou não) o “capital marital”. O que elas mais valorizaram é a liberdade que conquistaram com a maturidade. Muitas afirmaram: “É o melhor momento da minha vida, nunca me senti tão livre e feliz. É a primeira vez na vida que eu posso ser eu mesma”.

Chamei de “bela velhice” essa forma de experimentar o processo de envelhecimento. Afinal, quem disse que não existe liberdade, felicidade e beleza nesta fase da vida?

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