Existe vida (muito) inteligente na Disney/Pixar. Nesses tempos de superficialidades e aparências forçadas em selfies pseudofelizes distribuídas a rodo nas redes sociais, 'Divertida Mente' fala sobre o nosso mundo interno, do jeito que ele é. Ainda por cima, faz isso tudo de modo simples, bonito, preciso, profundo e....divertido!

A animação conta a história de uma garotinha, Riley, do nascimento até seus 11 anos de idade. E os protagonistas são nada mais nada menos do que algumas emoções básicas – alegria, tristeza, medo, raiva e nojo – que moram em sua cabeça. Genial. E a convivência delas frente ao contexto é a principal trama do filme, que mostra também memórias de curto e longo prazos se formando e sendo eliminadas.

Tudo ia relativamente bem até que Riley muda de cidade e passa por dificuldades de adaptação. Surgem então questões profundas, como sentimento de solidão; trauma; questionamento de crenças básicas; problemas de desempenho; necessidade de agradar e de ser adequado num momento de sofrimento; e pais com dificuldades de perceber e ouvir a filha.

Todas emoções têm seu espaço e são validadas, o que é fundamental para que exerçam suas funções e possamos nos adaptar ao contexto. Essa noção tão elementar, no entanto, tem sido castigada nos últimos tempos pela sociedade, que presume que a vida existe para sermos felizes; que os filhos precisam se sentir bem a todo instante; que ter alegria é um direito inalienável; que medo, raiva e tristeza devem ser evitados a todo custo; ou, então, que temos o direito de destilar nossa raiva publicamente sem consequências, como rotineiramente acontece no trânsito e nas redes sociais.

“Divertida Mente” nos convida a olhar para dentro de nós mesmos para aprender a lidar e a usar as nossas emoções a nosso favor. Um dos momentos mais importantes da animação é quando a tristeza precisa assumir o comando da mente de Riley para salvá-la de si mesma.

E também a lidar com as nossas emoções e tirar proveito do que cada uma delas tem a nos dar, sejam agradáveis ou não. E ainda nos oferece uma linguagem para comunicarmos o que está acontecendo dentro de nós.

Como a animação mostra bem, muito das nossas arestas da personalidade vem de memórias traumáticas, mesmo que pareçam experiências normais para quem vê de fora. No caso da garotinha, foram a mudança de cidade e a dificuldade de adaptação, provocando um embate interno para a superação.

Nem sempre conseguimos dar conta, ilesos, das nossas dificuldades, como se estivéssemos no mundo maravilhoso da Disney. Mas quem assume a responsabilidade, se questiona e se coloca como prioridade busca meios de se aprimorar. Prestar atenção em como alegria, tristeza, medo, raiva e nojo debatem na nossa mente já é um belo passo.

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