No último dia 6, o ator americano Will Smith, de 51 anos, realizou uma transmissão ao vivo em seu canal no Youtube minutos antes de realizar uma colonoscopia, exame que detecta precocemente possíveis lesões no reto e no intestino. No vídeo, o ator contou como foi sua preparação e o exame, que terminou com a descoberta e a retirada de um pólipo pré-canceroso.

"É 2019, nós temos que melhorar a nossa saúde. Há uma certa quantidade de comprometimento e vergonha envolvidos em ser saudável. Você só precisa fazer isso, cara", alertou Will Smith.  

De acordo com Rodrigo Perez, cirurgião do aparelho digestivo da BP, A Beneficência Portuguesa de São Paulo, o câncer de intestino nasce necessariamente de um tipo de lesão que é chamada de pólipo. “Todo câncer de intestino foi, em algum momento da ‘sua vida’, um pólipo; mas nem todo pólipo vira um câncer”, explica Perez.

Will Smith

Imagem de pólipos intestinais; renderização em 3D. Crédito: Crevis/shutterstock

Os pólipos são como pequenas verrugas que aparecem no revestimento interno do intestino (mucosa intestinal). Ao longo do tempo, esse revestimento passa naturalmente por uma renovação contínua e ordenada de células por motivos como morte celular, desgaste ou esfoliação natural.

Contudo, por algum motivo, uma única célula pode sofrer alterações genéticas e passar a se proliferar de maneira desordenada, mais rapidamente do que deveria para a reposição normal da mucosa intestinal, dando origem a um pólipo.

Prevenção ao câncer colorretal

“A gente costuma falar que faz prevenção do câncer de mama ou de próstata, mas se pensar bem, não há prevenção nem de um, nem de outro”, alerta Perez. De acordo com o especialista, o que se faz é uma pesquisa para detectar de forma precoce um problema já instaurado. “Quando a mulher se autoexamina e encontra um nódulo, aquilo em geral já é um câncer. E a próstata é a mesma coisa. A gente nada mais detecta do que formas precoces da doença, não estamos prevenindo nada”, avalia.

O que não acontece com relação à retirada de pólipos do intestino. Perez conta que, ao retirar as verrugas, a prevenção é realmente feita, pois acaba com as chances de o problema evoluir para um câncer. “É uma doença que a gente tem a oportunidade de fazer a prevenção secundária, que a gente consegue tirar pólipos numa fase onde ainda não é câncer. Ao mesmo tempo, a gente consegue evitar seu aparecimento”.

Quando procurar um especialista

Mesmo na ausência de sintomas, Perez reforça a importância de realizar uma colonoscopia a partir dos 45 anos de idade, com o objetivo de identificar esses pequenos pólipos e prevenir o aparecimento de um câncer.

“No caso do Will Smith, é importante que as pessoas saibam que não é mais uma doença de gente velha”, alerta o cirurgião da BP. “Antigamente, a gente acreditava que esse problema aparecesse em pessoas com mais de 50 anos ou até mais de 60 anos de idade. Hoje em dia, é comum fazer essa pesquisa ou esse tipo de prevenção ativa em pessoas tão jovens quanto 45 anos de idade”, analisa.

Os motivos são dois, segundo o médico: “primeiro, a gente consegue uma forma eficiente de prevenir a doença e, segundo, que a gente tem observado uma incidência cada vez maior dessa doença em pessoas cada vez mais jovens”. Para Perez, esses dois aspectos são importantes e justificam a estratégia de prevenção da colonoscopia em pessoas jovem, em torno dos 45 anos de idade. A incidência entre homens e mulheres é muito equilibrada.


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Basicamente dois fatores levam ao surgimento de pólipos no intestino. O primeiro deles é a hereditariedade. “O componente hereditário é muito importante e confere suscetibilidade ao câncer colorretal. É muito importante o histórico familiar dessa doença, com frequência a gente identifica famílias que têm uma suscetibilidade maior a essa doença”, avalia Perez. O segundo aspecto está relacionado à alimentação. Estudos mostram que dietas ricas em carne vermelha, em carboidratos e em gordura animal aumentam a suscetibilidade ao câncer colorretal.

Perez traça ainda um paralelo com a população japonesa que migrou para o território americano nas últimas décadas. “Os japoneses eram um povo com baixa incidência de câncer colorretal. Pesquisadores analisaram a incidência desse tipo de câncer nos japoneses que imigraram para o Havaí e perceberam que a incidência já era um pouquinho maior que a do Japão. Quando os japoneses foram para a Califórnia, a incidência de câncer colorretal começou a se aproximar muito à incidência em americanos. Por tanto, o efeito da dieta a que eles estavam expostos exercia um papel muito significativo na incidência do câncer colorretal.

Ator Will Smith registra exame em rede social

A ideia de Will Smith era, inicialmente, despretensiosa. "Quando eu decidi que queria gravar esse momento, foi algo 'ei, isso pode ser legal'. Eu não sabia que descobriria um pólipo pré-canceroso. Compartilhar isso com as pessoas pode fazer com que elas compreendam melhor, para estarem saudáveis e felizes."


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