Apesar de o urologista ser visto por quase 4 em cada 10 brasileiros como o médico do homem, 59% deles não agendam consultas periódicas com este profissional, revela a pesquisa “Um Novo Olhar para a Saúde do Homem”, que mapeou as percepções e os cuidados com a saúde de 2.405 pessoas.

Na leitura por faixa etária, uso de rede pública ou privada e região, chama a atenção que quase metade dos entrevistados com 40 anos ou mais não tem o hábito de ir ao urologista, e o percentual se eleva para 58% entre os usuários do SUS (Sistema Único de Saúde) e para 54% no Sul do Brasil.

“No nosso país, as pessoas costumam procurar ajuda médica apenas quando sentem algum sintoma, ou seja, não é comum a realização de exames preventivos”, avalia Davidson Bezerra da Silva, doutor em urologia pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e professor na Universidade Anhembi Morumbi.


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“Se formos pegar o câncer de próstata como exemplo, ele só apresenta sintomas em estágios avançados; logo, em teoria, não haveria motivos de ir ao médico, se não está sentindo nada. Além disso, ao observar homens mais idosos, o preconceito em relação ao exame prostático ainda é importante, sendo, possivelmente, um dos fatores que os afasta do urologista”, complementa.

Prevenção do câncer de próstata

Na pesquisa, os entrevistados demonstram algumas noções sobre o câncer de próstata, mas ainda não estão esclarecidos sobre alguns pontos: 54% concordam ou não sabem dizer que o exame de PSA é suficiente para detectar a doença, e 75% discordam ou ignoram que o rastreamento em negros deve começar mais cedo.

Ainda que 25% dos respondentes apontem ter um familiar próximo já diagnosticado com câncer de próstata, 36% dos participantes com 50 anos ou mais não costumam ir ao urologista – 10% nunca realizaram o PSA e 35% nunca passaram pelo toque retal. Os números pioram no contexto do SUS.

Segundo a Sociedade Brasileira de Urologia, a avaliação prostática deve ter início aos 45 anos de idade para que tem parentes de primeiro grau (pai e irmãos) com câncer na próstata. Isso porque o fato de ter um parente com a doença aumenta duas vezes a chance de desenvolver esse tumor, enquanto ter dois sobe para seis vezes.

Os negros devem iniciar o rastreamento mais cedo, em função do maior risco da doença nesta população. O restante dos homens deve realizar o exame da próstata aos 50 anos.

O PSA, explica o professor da disciplina de urologia da Anhembi Morumbi, é uma substância produzida quase que exclusivamente pela próstata. “Apesar de o câncer de próstata não ser a principal patologia que leva à alteração do PSA, é a doença mais preocupante pelo risco de morte, logo é quem precisa ser descartada.”

Segundo dados do Datasus, no ano de 2017 houve 42 mortes por dia em decorrência do câncer de próstata. Em 2018, o Instituto Nacional de Câncer (INCA) estimou, aproximadamente, 68 mil novos casos no Brasil.

Por isso, ressalta o urologista, a avaliação precisa ser anual, com a coleta de PSA no sangue e o toque retal. “Vale ressaltar que os exames são complementares, ou seja, eles não se excluem. A importância do toque retal está no fato de que 20% dos cânceres de próstata serem diagnosticados por uma alteração apenas no toque retal.”

Urologista aponta 11 sintomas de possíveis problemas urológicos

O estudo Um Novo Olhar para a Saúde do Homem mapeou também a presença de sintomas que podem demandar a consulta com um urologista: 48% dos homens relatam ter de urinar várias vezes ao dia; 37% apontam gotejamento; 30%, necessidade de ir duas ou mais vezes ao banheiro à noite; 22%, perda de desejo sexual; e 20%, problemas de ereção, entre outros.

Os homens, reforça Bezerra da Silva, em geral só procuram o urologista quando apresentam algum problema urinário. “A questão é que o câncer de próstata, em seu início, costuma não dar sintomas. Eles só estão presentes nas fases mais avançadas e, consequentemente, no momento em que a possibilidade de cura é menor.”

Confira, a seguir, 11 sintomas de problemas urológicos relatados pelos entrevistados e comentados pelo especialista:   

Urinar muitas vezes ao longo do dia

A quantidade de vezes que vamos ao banheiro durante o dia vai depender do volume de líquidos que consumimos. Um intervalo miccional aceitável é de até duas horas. Menos do que isso pode significar uma alteração nas funções de esvaziamento e armazenamento da bexiga.

Ter gotejamento no fim do fluxo

O gotejamento terminal pode ser consequência de um resquício de urina na uretra (canal que transporta a urina para o meio externo). Isso ocorre em patologias que dificultam a saída da urina da bexiga ou em doenças que afetam a sua contração.

Levantar duas ou mais vezes durante a noite para urinar

É aceitável levantar até uma vez durante a madrugada para ir ao banheiro. Mais do que isso pode significar que o individuo não esvaziou a bexiga adequadamente durante o dia, levando a um resíduo alto de urina no seu interior, condição esta que pode estar associada a uma hiperplasia prostática benigna, por exemplo. Outra condição seria uma contração inapropriada da bexiga, presente na síndrome da bexiga hiperativa.

Perder o desejo sexual

A perda do desejo sexual pode estar relacionada com causas orgânicas e/ou psicológicas. Dentre as causas orgânicas, destacam-se níveis baixos de testosterona no sangue, que é o hormônio masculino; dentre as psicológicas, a depressão.

Ter dificuldade de ereção

Semelhante à perda do desejo sexual, a disfunção erétil pode ser consequência de causas orgânicas e/ou psicológicas. Alterações hormonais, como níveis de testosterona baixos, tabagismo, diabetes, idade avançada, alterações vasculares, alterações neurológicas, depressão e ansiedade estão entre possíveis causadores da impotência sexual.

Sentir vontade súbita e muito forte de urinar, podendo haver ou não perda de urina

O desejo súbito e forte de urinar é chamado de urgência miccional. Pode ser decorrente de uma contração inapropriada da bexiga, ou seja, ela “funciona” quando não deveria. A doença que pode estar relacionada com esse sintoma é a síndrome da bexiga hiperativa, que se caracteriza pela urgência miccional e pode estar acompanhada de uma diminuição do intervalo miccional (ida várias vezes ao banheiro em um intervalo curto de tempo) e ao ato de levantar muitas vezes à noite para urinar. A incontinência urinária (perda de urina) pode ou não estar associada ao quadro clínico relatado.

Ter dificuldade em iniciar e manter um jato de urina contínuo

O padrão miccional normal é um jato urinário forte, continuo, sem utilização de força para urinar e que proporcione o esvaziamento completo da bexiga. Homens que apresentam alterações na força do jato urinário podem ser portadores de uma obstrução na uretra. Neste caso, as principais doenças que podem levar a essa condição são a hiperplasia prostática benigna e a estenose de uretra. Entretanto, a alteração no jato de urina pode estar relacionada ao enfraquecimento da força de contração da bexiga. 

Apresentar incontinência urinária

Há vários tipos de incontinência urinária. Os mais comuns são a de esforço, a de urgência e a mista. A incontinência de esforço é a perda de urina associada ao esforço físico (tosse, espirro, risada, pegar peso). Na mulher, pode ser explicada pela fraqueza da musculatura pélvica e/ou um déficit no fechamento uretral. No homem, no entanto, essa condição pode ser secundária a uma cirurgia em que a próstata foi retirada completamente. A incontinência urinária de urgência é a perda de urina associada a um desejo incontrolável de urinar e pode estar associada a uma contração inadequada da bexiga. A incontinência urinária mista é a perda de urina que acontece tanto ao esforço como na urgência.

Sentir dor e precisar de esforço para começar ou manter o jato de urina 

Uma das principais causas do esforço para começar a urinar ou manter o jato de urina é a obstrução da saída da urina. Os dois principais exemplos de doenças que podem levar a isso são a hiperplasia prostática benigna e a estenose de uretra.

Sentir dor na ejaculação

A prostatite, que é uma inflamação da próstata, pode ter como uma de suas manifestações dor ao ejacular.

Ter sangue na urina

A presença de sangue na urina pode ter diversas causas, como infecção de urina, calculose renal, câncer de bexiga e câncer renal.

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