“Elas pinicam, sinto uma comichão que vem de dentro para fora e só quando faço um alongamento na cama ou dou uma caminhada pelo quarto consigo aliviar essa dorzinha chata, que, em geral, aparece justamente quando estou pegando no sono”, relatou a servidora pública Ana Claudia Araújo, 56 anos, à sua médica. Depois de alguns exames, veio o diagnóstico: síndrome das pernas inquietas.

“É uma queixa comum em adultos, principalmente acima de 40 anos, e atinge de 5% a 8% da população”, diz a neurologista Rosana Cardoso Alves, especialista em medicina do sono do Fleury Medicina e Saúde. “A pessoa tem uma sensação irresistível de movimentar as pernas, que pode ser aliviada com a própria movimentação, uma massagem, uma atividade física leve ou até mesmo um banho.”

Causas da síndrome das pernas inquietas

“As causas ainda não estão completamente definidas, mas sabe-se que existe uma redução na concentração de ferro em determinadas áreas do sistema nervoso central e uma provável disfunção nos mecanismos que regulam a concentração de ferro em determinadas células nervosas”, explica Fernando Nakandakare, neurologista do Hospital Santa Cruz.

A mais comum é a predisposição genética. “Aproximadamente 50% dos casos tem herança familiar”, pontua o especialista. Embora a maioria dos casos seja primária, a síndrome das pernas inquietas pode também ser secundária e estar associada a:

  • Deficiência de ferro;
  • Doenças da medula espinhal;
  • Doença de Parkinson;
  • Doenças reumatológicas;
  • Esclerose múltipla;
  • Gravidez;
  • Insuficiência renal;
  • Neuropatias (alcoólica, diabética).

“A incidência da síndrome das pernas inquietas aumenta com o envelhecimento e é bem maior em idosos com quadros de demência, Alzheimer, Parkinson e outras doenças neurodegenerativas. Às vezes, o diagnóstico é mais difícil porque esses indivíduos não sabem relatar bem o que estão sentindo. Mas incomoda muito e atrapalha o sono”, pontua a neurologista do Fleury.


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O uso de algumas medicações pode desencadear a síndrome ou mesmo exacerbar o quadro, como é o caso de alguns antidepressivos, anti-istamínicos e antipsicóticos. Assim como o consumo de álcool, cafeína e tabaco.

Atividade física leve, alongamento, ioga e massagem, em geral, melhoram os sintomas; no entanto, atividades físicas mais intensas costumam piorar”, afirma ela.

Sintomas da síndrome das pernas inquietas

Os pacientes descrevem a síndrome das pernas inquietas como uma sensação desagradável, mas nem sempre dolorosa, como arrepio, comichão, cãibra, choque, formigamento e pinicamento, que leva a uma necessidade irresistível de movimentar os membros para obtenção de alívio.

Assim como relatou a servidora Ana Claudia, 80% deles apresentam movimentos involuntários das pernas durante o sono, com duração de 0,5 a 10 segundos, em intervalos de 20 a 40 segundos, de acordo com o especialista do Hospital Santa Cruz.

“Como surgem no repouso e no período noturno, podem despertar a pessoa e causar insônia, com prejuízo na qualidade do sono, resultando em sonolência diurna e reduzindo a capacidade de concentração com repercussões negativas no humor e na vida social”, diz ele.

síndrome das pernas inquietas

Crédito: PR Image Factory/Shutterstock

Para a neurologista do Fleury, “se a pessoa já tem alguma tendência à alteração de sono, pode haver piora e levar a outros sintomas cognitivos; se tem tendência à depressão, a síndrome das pernas inquietas pode acentuar os sintomas”.

Há relatos, segundo ela, de pacientes que não conseguem assistir a uma simples sessão de cinema, ir ao teatro ou permanecer sentados por mais tempo durante uma reunião social ou de negócios, nem dentro de um automóvel ou de um avião. “Ela se manifesta em atividades mais monótonas”, justifica. 

Diagnóstico e tratamento da síndrome das pernas inquietas

“O diagnóstico é clínico, feito a partir de uma boa anamnese [histórico], que pode incluir também o exame de polissonografia, pela presença da movimentação periódica dos membros, muitas vezes relatada pelo parceiro que dorme junto”, explica a neurologista.

Em alguns casos, pode ser solicitada também a dosagem de ferro sérico e de ferritina. “Para alguns pacientes, a reposição desses nutrientes pode aliviar bastante os sintomas”, diz ela. 

A maioria dos casos de síndrome das pernas inquietas pode ser melhorada com atividade física leve e ajuste da alimentação, evitando álcool, cafeína e tabaco. 

“O tratamento sintomático é, na maioria dos casos, bastante eficaz, e os medicamentos de primeira escolha são os agonistas da dopamina”, diz o especialista do Hospital Santa Cruz. 

Alguns hospitais públicos têm especialistas em medicina do sono e oferecem tratamento gratuito pelo SUS (Sistema Único de Saúde).


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