Uma busca na internet dá o tom da relevância que o mapeamento genético adquiriu nos últimos tempos. Há milhares de páginas com o tema. Algumas delas, inclusive, oferecem testes que podem ser feitos em casa.

No laboratório Genera, por exemplo, há os que mostram a ancestralidade – de que região do mundo são seus antepassados. E existe o Aging, que vem com a explicação: “Prever o futuro ainda é impossível, mas podemos dizer quais desafios seu DNA reserva para você nos dias que virão”.

No Aging, são analisados dados como maior longevidade, severidade do processo de fotoenvelhecimento, deficiência de vitamina D, densidade óssea, probabilidade de apresentar calvície masculina e risco de obesidade e desenvolvimento de diabetes tipo 2. O mapeamento genético traz também o comprimento dos telômeros, a parte final dos cromossomos que protegem o material genético.


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“A coleta da amostra é feita por um tipo de cotonete especial chamado swab, que é passado pela parte de dentro da boca. No teste, são genotipados cerca de 700 mil pontos do DNA [chamados de SNPs] e selecionados aqueles que em artigos científicos demonstram influenciar o envelhecimento de um indivíduo”, explica Ricardo di Lazzaro Filho, sócio-fundador e diretor-médico do Genera.

Segundo ele, apesar de o teste, que custa R$ 499, mostrar as chances de desenvolver condições como diabetes tipo 2, “o foco não é doença, e sim, o envelhecimento saudável”. Esse mapeamento genético é uma ajuda para que as pessoas possam se preparar para os próximos anos, segundo o especialista.

“Revelando as propensões a deficiências de vitaminas, resistência óssea e diabetes, por exemplo, o paciente e os profissionais de saúde que o acompanham poderão pensar em exames laboratoriais, dietas e atividades físicas de maneira mais personalizada”, afirma.

Mapeamento genético: estilo de vida

Mas, até por ser uma área relativamente nova, há alguns poréns para quem pensa em fazer um teste genético. “Muito ainda será descoberto sobre riscos e propensões”, diz Lazzaro Filho. Outro ponto é que “a genética é só um dos fatores que influenciam como cada organismo irá envelhecer. Fatores ambientais e de hábitos de vida têm um peso, às vezes, superior ao da genética”.

O médico Marcello Bossois, pesquisador assistente do Departamento de Genética da Ulaval (Université Laval), no Canadá, é enfático: em testes, “muitas alterações genéticas são encontradas, e o paciente não apresenta absolutamente nada”. E completa: “Você pode ter oncogene [gene relacionado ao aparecimento e crescimento de tumores malignos ou benignos] para câncer de mama, mas tem hábitos de vida saudáveis. E você inibe a expressão ou desativa o oncogene”.

Ou seja, essa equação não é exata: o gene não determina o aparecimento da doença. E se na conta forem incluídos hábitos como alimentação saudável, exercícios físicos e boas relações sociais, a chance de desenvolver algo é reduzida.

Exemplo disso, diz Bossois, é um estudo que mostra a diferença entre as mulheres japonesas imigrantes que se estabeleceram na Califórnia (EUA) e as que permaneceram na terra natal. “As primeiras têm índice de câncer maior. Alimentação e estilo de vida influenciam”, afirma ele, acrescentando outros fatores, como radicais livres.

Mapeamento genético: necessidade

Para quem pensa em fazer um mapeamento genético, Bossois sugere primeiro buscar um médico geneticista. “Ele vai fazer uma boa coleta do histórico familiar, da doença atual e dos sintomas e, a partir de um fenótipo [características morfológicas, fisiológicas ou comportamentais], vai investigar o genótipo [constituição genética].”

“Como medida preventiva, sem indicação clínica, não vai contribuir em nada. Porque muitas alterações genéticas são encontradas, mas não tem fenótipo para a doença”, reforça o pesquisador.

E quando há indicação clínica? Bossois exemplifica: pacientes que tenham diversos familiares com casos de doença neoplásica ou cardíaca, com recomendação médica. Ou uma família que precise de aconselhamento para que o filho não desenvolva uma doença genética.

mapeamento genético

Crédito: PopTika/Shutterstock

Há ainda casos em que os medicamentos, por exemplo, provocam efeitos colaterais. Uma análise genética pode ser feita para identificar os que podem ser usados para melhorar a resposta do paciente. “Inclusive, estamos desenvolvendo pesquisa de farmacogenéticos [procedimentos para identificar qual é o tratamento medicamentoso mais adequado para cada paciente] para asma”, adianta o pesquisador.

O mesmo, segundo Bossois, vale para antidepressivos. Há aqueles que pioram a depressão, e o sequenciamento genético pode auxiliar o médico na escolha do melhor medicamento para o paciente.

Mapeamento genético: no SUS ou por planos de saúde

A ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) estipula que as operadoras de planos de saúde ofereçam alguns testes. Mesmo assim, há indicações específicas para a sua realização. É o caso das mutações para os genes BRCA1 e BRCA2, que ganharam as páginas de jornal quando a atriz Angelina Jolie revelou ter retirado ovários e mamas para prevenir câncer.

No SUS (Sistema Único de Saúde), o teste para esses genes, por exemplo, ainda não é oferecido. No ano passado, a Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher da Câmara dos Deputados aprovou o Projeto de Lei 25/19, que assegura a realização do teste de mapeamento genético pelo Sistema Único de Saúde (SUS) às mulheres que forem classificadas em laudo médico com elevado risco de desenvolver câncer de mama. O PL ainda precisa passar por outras comissões e ser aprovado antes de seguir para o Senado.

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