Uma pesquisa feita pela Universidade de Louisville, nos Estados Unidos, apontou um caminho inusitado para compreender a doença de Alzheimer, patologia degenerativa que afeta cerca de 54,8 milhões de pessoas no mundo, segundo a ABRAz (Associação Brasileira de Alzheimer). De acordo com o estudo, publicado na revista Science Advances, a infecção bucal provocada pela bactéria Porphyromonas gingivalis teria uma relação estreita com o surgimento da doença.

Encontrada na boca, a bactéria se espalha devido à má higiene bucal e pode causar a periodontite, uma inflamação dos ligamentos e ossos que dão suporte aos dentes. A pesquisa chegou a essa conclusão após identificar enzimas ligadas à bactéria P. gingivalis no cérebro de pacientes já falecidos e que tiveram Alzheimer, além de observar a presença de um material genético ligado à bactéria em pacientes vivos.


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Para investigar mais a fundo essa relação entre a periodontite e a doença de Alzheimer, a equipe esfregou a bactéria P. gingivalis nas gengivas de camundongos saudáveis a cada dois dias, durante seis semanas.

Após o período de experiência, a mesma bactéria foi detectada no cérebro dos animais, juntamente com neurônios que estavam morrendo. Os cientistas também observaram a presença de níveis mais altos que o normal de beta-amiloide, proteína que se acumula no cérebro de pacientes com Alzheimer.

Novo medicamento para a doença de Alzheimer 

Com base na descoberta, a equipe desenvolveu uma medicação para diminuir as consequências negativas causadas pela bactéria. Os resultados já apontaram que, pelo menos em ratos, o medicamento tem o poder de reduzir a neurodegerneração cerebral, o que pode indicar uma nova forma de combater o Alzheimer.

“A principal conclusão do estudo é que há uma quantidade significativamente maior de enzimas bacterianas tóxicas no cérebro de pacientes com Alzheimer, e a atividade tóxica das enzimas pode ser bloqueada com uma droga”, disse Stephen Dominy, principal autor do estudo.

Críticas

A neurologista do Departamento Científico de Neurologia Cognitiva e Envelhecimento da Associação Brasileira de Neurologia (ABN) Jerusa Smid acredita que o estudo é válido, mas pondera que também existem muitas outras linhas de pesquisa que tentam associar agentes infecciosos à doença de Alzheimer. “É cedo para concluir que essa bactéria seja a responsável pela doença, mas é um caminho a ser estudado”, afirma a especialista.

Jerusa lembra que a causa da doença ainda é desconhecida. Apesar de existir diversas pesquisas sobre a origem do problema, o principal fator de risco conhecido é o envelhecimento. “Após os 60 anos, a doença se torna mais frequente de maneira exponencial”, garante.


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Quanto à prevenção do Alzheimer, a especialista afirma que fazer atividade física regularmente, exercitar a memória e ter uma dieta saudável são alguns hábitos importantes para combater a doença.

Para a cirurgiã dentista Maria Luiza Moreira Arantes Frigerio, o estudo é interessante e pode abrir novos caminhos para tratar a doença, porém, só a presença da bactéria no cérebro dos pacientes não seria suficiente para concluir que ela provoca a demência. Isso porque as pessoas que sofrem com o Alzheimer também podem desenvolver a bactéria devido à má alimentação e/ou dificuldade de manter a saúde bucal, e não somente o contrário.

"Os pacientes que convivem com o problema, em geral, têm uma condição pior de higiene bucal porque elas sofrem com transtornos de personalidades"

“Os pacientes que convivem com o problema, em geral, têm uma condição pior de higiene bucal porque elas sofrem com transtornos de personalidades. Por isso, escovar os dentes não faz parte da sua rotina”, explica a dentista.

Embora ainda não seja possível concluir que a periodontite cause o Alzheimer, Maria Luiza afirma que manter a higiene bucal é essencial também para evitar outras doenças.  “Escovar bem os dentes e a língua com o uso de cremes dentais e flúor, usar fio dental, evitar consumir alimentos que contenham açúcar e manter uma dieta equilibrada, com refeições ricas em vitaminas E e C são hábitos que deveriam fazer parte da rotina de todos”, conclui.


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