Você já ouviu falar em insuficiência cardíaca? Sabe o que é e quais os riscos de desenvolver essa condição cardiológica? Pois é importante colocarmos o tema em pauta para dar a devida dimensão que a doença tem no país.

Hoje é um dos males que mais encurtam a qualidade e a expectativa de vida dos brasileiros: estimativas apontam que a insuficiência cardíaca afete mais de 4 milhões de pessoas, a maioria acima dos 60 anos, e que sua incidência dobre a cada década de vida. A prevalência da doença é de cerca de 10% nas faixas etárias acima dos 80 anos.

Também é uma das principais causas de internação por questões cardiológicas no país, especialmente entre aqueles que já chegaram à terceira idade. E os agravantes não param por aí: nas formas mais avançadas da doença, cerca de 50% dos pacientes morrem em um período de até cinco anos após o diagnóstico - taxa de mortalidade acima da média de vários tipos de câncer.

Entendendo a insuficiência cardíaca

O coração se mantém ativo 24 horas por dia cumprindo sua principal função, a de bombear sangue pelo corpo todo e assim manter a vitalidade de órgãos e tecidos - o que nos permite considerá-lo o músculo mais trabalhador e incansável que temos. No entanto, a idade e outros fatores podem interferir nessa dinâmica e trazer prejuízos para seu funcionamento. Essa incapacidade de o coração atuar adequadamente na distribuição do sangue é o que chamamos de insuficiência cardíaca.

Portanto, como o próprio nome já diz, a condição se estabelece quando o músculo cardíaco trabalha de forma insatisfatória e não tem força para bombear o sangue com a pressão necessária para atender às necessidades do organismo. A insuficiência cardíaca, também conhecida como insuficiência cardíaca congestiva, é considerada um problema crônico e progressivo, que se desenvolve gradativamente. Porém, em alguns casos, é possível que ocorra de forma súbita, com necessidade de atenção médica imediata.

Indo um pouco mais a diante nos detalhes, podemos destrinchar a condição em dois tipos, considerando o entra e sai de sangue no órgão. No primeiro, temos a insuficiência sistólica (ou seja, fase de contração do coração, onde o sangue é bombeado para os vasos sanguíneos). Nesse tipo, o músculo do coração não tem força para bombear sangue para o corpo.

O segundo, em casos de insuficiência diastólica (fase de relaxamento, que permite o sangue entrar no coração), o problema está na rigidez do músculo cardíaco, que não se expande o suficiente, o que impede que os ventrículos se encham por completo, comprometendo a função cardíaca.

O que leva à insuficiência?

Normalmente, a insuficiência cardíaca, tal como outras doenças do coração, é resultado de múltiplos de fatores. Por isso, podemos mencionar diversas condições que podem levar a essa circunstância. A idade, conforme já mencionado, é uma delas, porém, há uma série de outras que influenciam. As mais comuns são: hipertensão, diabetes, obesidade, tabagismo, histórico familiar, níveis altos de colesterol, doença de Chagas ou por consequência de um tratamento oncológico.

Complicações cardiovasculares também entram nesse grupo, entre eles os problemas de ritmo cardíaco (arritmias), alterações congênitas ou adquiridas nas válvulas cardíacas, doença do músculo cardíaco (miocardite), danos ou disfunções nos ventrículos e a doença arterial coronariana (DAC) - a evolução da DAC leva ao infarto agudo do miocárdio, que também pode gerar um quadro de insuficiência cardíaca. Por isso, uma vez diagnosticada qualquer uma dessas condições é fundamental manter o check-up em dia a fim de prevenir o início ou o agravamento da insuficiência.

E o que eu sinto se estiver com insuficiência cardíaca?

De modo geral, a insuficiência cardíaca não é um problema que aparece sem dar avisos. Entre os principais sinais que podemos ter estão a tosse crônica, aumento de peso, falta de ar ou dificuldade para respirar, chiado, náusea, falta de apetite, frequência cardíaca alta e confusão mental. Como o coração não consegue exercer bem sua função, o indivíduo também começa a sentir fadiga extrema ao realizar atividades relativamente simples, como subir um lance de escada. Além disso, quase sempre a condição é acompanhada do acúmulo de líquidos, provocando inchaços (edemas).

Com o órgão mais fraco, flácido e incapaz de bombear o sangue venoso (aquele que retorna ao coração após ter circulado pelo corpo) adequadamente, ocorre a retenção de fluido nas extremidades. Os pés e tornozelos, localizados na periferia do sistema circulatório, são os que mais sofrem com essas alterações na corrente sanguínea. Em alguns casos é possível notar ainda um aparente acúmulo de líquidos na área abdominal, aumentando a circunferência.

Essas são as manifestações mais aparentes, mas há outros efeitos ou edemas que não se vemos ou percebemos com clareza. O fato é que a falta de capacidade do coração em fazer o seu trabalho prejudica o organismo. Os órgãos ficam mal irrigados, com déficit de oxigênio e nutrientes, provocando uma desorganização do sistema como um todo. Diante da insuficiência se abre assim um leque para possibilidade de várias complicações, por exemplo, no pulmão, no caso de uma embolia pulmonar.

Qualidade de vida e a importância do diagnóstico

A insuficiência cardíaca é, portanto, uma condição de longo prazo que tende a piorar com o tempo, tornando-se assim limitante. De modo geral, não pode ser curada, mas passível de controle. A falta de diagnóstico e tratamento corretos para a doença interfere no bem-estar e qualidade de vida, em especial na capacidade de realizar atividades físicas e sociais - sem falar da expectativa de vida.

Por essa razão, devemos reforçar a importância da detecção e início de tratamento o quanto antes. Um dos desafios é que seus sintomas são facilmente confundidos ou creditados ao avanço da idade. Muitos associam cansaço e falta de ar à asma ou ao excesso de peso, e não a um problema cardíaco. O diagnóstico da insuficiência é realizado por meio de avaliação médica. Na investigação, além de histórico e estado de saúde do paciente, são realizados alguns exames conforme a necessidade, entre eles o ecocardiograma.

No que diz respeito ao tratamento, no geral, a doença é controlada com uma combinação de medicamentos e mudanças no estilo de vida. Alguns pacientes podem se beneficiar de um programa de reabilitação cardíaca, particularmente se tiverem sofrido um evento cardiovascular, como um infarto do miocárdio. Quando necessário, ainda há a opção de implante de dispositivos que melhorem a contração do coração e até o transplante do órgão.

No radar das ameaças: a Covid-19

Outro dado preocupante é o aumento dos fatores de risco, particularmente em indivíduos que ainda não têm a doença, mas apresentam alto potencial para desenvolvê-la, a exemplo de obesos, hipertensos, diabéticos e fumantes. Aqui entra ainda mais um agravante: a Covid-19. Estudos revelam que em alguns casos o vírus pode chegar ao músculo cardíaco e provocar uma insuficiência.

Cientistas da Universidade de Washington (EUA) realizaram um amplo estudo que revelou que a infecção causada pelo coronavírus aumenta os riscos do desenvolvimento de doenças que envolvem o coração.  A pesquisa, publicada no periódico científico Nature, aponta que pessoas que se recuperaram da Covid apresentaram aumentos acentuados em pelo menos vinte problemas cardiovasculares ao longo de um ano após a infecção. O levantamento revela que o risco de insuficiência cardíaca aumentou 72% entre aqueles que tiveram contato com o vírus, mesmo com sintomas leves.

Acredita-se que esse aumento esteja associado ao desequilíbrio no sistema imunológico ocasionado pela Covid. Porém, além da doença em si, a pandemia trouxe junto com ela mudanças comportamentais expressivas, como a redução de medidas de prevenção e controle das doenças cardiovasculares e seus fatores de risco. Vimos subir os casos de estresse, sedentarismo e de hábitos inadequados, como falta de cuidados alimentares, fumar e beber excessivamente, questões determinantes para o desenvolvimento da insuficiência.

Entendemos que, tanto no Brasil como no mundo, ainda é preciso avançar no controle da doença. A boa notícia é que temos cada vez mais ferramentas e métodos novos e avançados para diagnóstico precoce e tratamento. É necessário atenção e empenho na ampliação do acesso à informação, a medicações e procedimentos. Precisamos ter em mente que cuidar da insuficiência cardíaca não deve ter como foco apenas os casos de emergências, mas sim a prevenção ao longo de toda a vida.

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