Como os distúrbios da tireoide podem afetar a saúde de quem chegou à terceira idade?

Em formato que lembra o de uma borboleta, ela está localizada na parte frontal do pescoço, logo abaixo do pomo de adão, o popular “gogó”. Estamos falando da tireoide, glândula importantíssima para o corpo, que através dos hormônios que produz influencia quase todos os nossos processos metabólicos, regulando a função de órgãos essenciais, como o coração, o cérebro, o fígado e os rins.

São dois os hormônios liberados pela tireoide: o T3 (triiodotironina) e T4 (tiroxina), cuja produção depende do estímulo do TSH (hormônio estimulador da tireoide), secretado pela hipófise. Para se ter ideia da relevância destas substâncias no metabolismo, elas são fundamentais, por exemplo, para garantir o crescimento e o desenvolvimento de crianças e adolescentes, ajudam o corpo a manter a pressão sanguínea, ritmo cardíaco, tônus muscular, funções sexuais, ciclos menstruais e fertilidade.

Atuam na regulação do peso, memória e concentração, humor e controle emocional, trânsito intestinal e até na oferta e no consumo de oxigênio pelos órgãos, o que intensifica a respiração celular, liberando calor no organismo. Portanto, uma quantidade anormal de T3 e T4 pode gerar inúmeros problemas que comprometem a saúde e a qualidade de vida.

De modo geral, os distúrbios da tireoide acontecem quando ela não funciona de maneira correta e acaba produzindo hormônios em quantidade insuficiente, causando o hipotireoidismo, ou em excesso, o que tem como consequência o hipertireoidismo. Essa produção irregular (para mais ou para menos) pode ainda acarretar em um pequeno e inofensivo bócio (aumento do volume da glândula) até um câncer com risco de vida. E isso tende a se intensificar e agravar com o avanço da idade.

Quando falamos especialmente do coração, os hormônios liberados pela tireoide possuem ações diretas e indiretas sobre o órgão, e tanto o excesso dessas substâncias como a deficiência influenciam no sistema cardiovascular, em especial na função cardíaca, nos vasos sanguíneos e nos níveis de colesterol. Em quase todos os casos essas alterações são reversíveis quando o distúrbio é diagnosticado e tratado.

Hipotireoidismo

O hipotireoidismo é muito comum em pessoas com mais de 60 anos e tem o seu risco aumentado com o passar dos anos. Dados apontam, no entanto, que 1 em cada 4 indivíduos pode ter hipotireoidismo não diagnosticado ao longo da vida. Em parte porque os sintomas são inespecíficos e podem gerar confusão, em especial nos mais velhos.

Por exemplo, a perda de memória ou uma diminuição do funcionamento cognitivo, frequentemente atribuída ao avanço da idade, podem ser os únicos sintomas do hipotireoidismo presentes. Outros sinais comuns incluem desânimo e depressão, retenção de líquido, ganho de peso, sonolência, pele seca, queda de cabelos, unhas quebradiças, redução da libido, prisão de ventre, intolerância ao frio, rouquidão, edemas, irritabilidade, dores musculares e nas articulações, paresias (paralisia que não se perde inteiramente a sensibilidade e o movimento), baixa resistência ao esforço físico e fadiga constante. Porém, vale reforçar: a falta de sintomas não exclui o diagnóstico.

hipertireoidismo

Crédito: imtmphoto/Shutterstock

Alguns fatores são tidos como desencadeadores do hipotireoidismo, como uma possível desordem autoimune (conhecida como Tireoidite de Hashimoto), quadro caracterizado quando o corpo ataca o tecido da tireoide que, eventualmente, morre por completo ou parcialmente e deixa de produzir hormônios; a remoção da glândula cirurgicamente ou quimicamente destruída; alterações alimentares e uso de determinados medicamentos.

Hipotireoidismo e o coração

O fato é que a diminuição e deficiência na produção ou na ação dos hormônios da tireoide podem ser perigosas por afetar também a redução generalizada dos processos metabólicos. O coração, por exemplo, bate mais devagar, há uma constrição dos vasos sanguíneos e o aumento da pressão arterial. As pessoas com hipotireoidismo podem chegar a uma hipertensão, especialmente da "mínima" ou diastólica - pressão observada no momento do relaxamento do músculo cardíaco.

Outro aspecto característico é o aumento dos níveis de colesterol total, do LDL (o colesterol ruim) e de triglicérides, situações adversas para o coração e o sistema cardiovascular. É possível assim que o quadro evolua para uma aterosclerose (acúmulo de placas de gordura nas artérias), insuficiência cardíaca, infarto do miocárdio e até a morte.

Hipertireoidismo

Já em casos de hipertireoidismo, devido ao estímulo provocado pelos hormônios tireoidianos no organismo, os tecidos passam a utilizar o oxigênio mais rápido do que o normal e ocorre uma liberação maior de produtos metabólicos. Ou seja, com o excesso de hormônios da tireoide, todas as funções do corpo tendem a acelerar.

Enquanto o paciente mais jovem frequentemente tem múltiplos sintomas relacionados à tireoide hiperativa, o idoso pode ter apenas um ou dois sintomas. Entre eles: estado de alta excitabilidade, exoftalmia (olhos saltados), redução da sudorese, intolerância ao calor, perda de peso ligeira a extrema, fraqueza muscular, diarreia, fadiga extrema acompanhada de insônia, tremor nas mãos, nervosismo ou outros transtornos psíquicos.

hipertireoidismo

Crédito: Mama Belle and the kids/Shutterstock

Entre as principais causas desta condição está a Doença de Graves, distúrbio em que o sistema imunológico ataca a tireoide e faz com que ela produza mais hormônio do que o nosso corpo necessita. Há ainda a chance de hipertireoidismo por adenomas tóxicos, ou seja, nódulos que se desenvolvem na glândula e começam a secretar os hormônios, perturbando o equilíbrio.  

Outra possibilidade se dá por inflamação da tireoide, o que faz com que a glândula solte hormônios em excesso, resultando em um quadro temporário. O hipertireoidismo também pode se desenvolver a partir do mau funcionamento da hipófise ou do crescimento canceroso da glândula tireoide.

No caso de hipertireoidismo, o coração também é afetado?

A repercussão do hipertireoidismo no metabolismo faz intensificar a vasodilatação e, consequentemente, o fluxo de sangue, elevando também o débito cardíaco (volume total de sangue bombeado pelo ventrículo esquerdo por minuto). Há um efeito direto então sobre a excitabilidade do coração, o que aumenta a frequência dos batimentos.

O crescimento da atividade enzimática gerado pelos hormônios da tireoide provoca uma ampliação da força de contração cardíaca. O coração passa assim a trabalhar com mais intensidade, causando o desgaste do órgão.

Nesses casos, crescem as chances de insuficiência cardíaca, dilatação do coração, palpitação e arritmias (entre elas a fibrilação atrial), acidente vascular cerebral (AVC) e eventos trombóticos. Além disso, indivíduos com hipertireoidismo podem apresentar hipertensão arterial, especialmente da "máxima" ou sistólica (pressão observada no momento da contração do coração).

O monitoramento é fundamental para todos

As disfunções na tireoide podem ocorrer com qualquer pessoa e em diferentes fases da vida, inclusive em crianças e até neonatos, no entanto, mulheres acima dos 40 anos e homens com mais de 60 anos são mais suscetíveis.

Como falado, as alterações no funcionamento da tireoide não apresentam sintomas exclusivos, o que pode gerar confusão e atraso na busca por atendimento médico. Por isso, mesmo sem sinais claros, o rastreamento, feito pela dosagem do TSH, é recomendado a cada cinco anos para homens acima dos 65 e mulheres com mais de 35.

Por causa da elevada incidência de hipotireoidismo em idosos, a triagem anual é indicada para aqueles que já atingiram os 70 anos. O exame também é indicado para recém-nascidos (o chamado Teste do Pezinho) e gestantes. No caso de pacientes com fatores de risco para doenças da tireoide, o teste deve ser feito com mais frequência, conforme a orientação de um especialista.

A triagem é muito eficaz e fundamental na prevenção dos efeitos adversos sobre o sistema cardiovascular, assim como para a normalização do metabolismo em geral. A maioria dos problemas da tireoide pode ser bem administrada se diagnosticada e tratada adequadamente.

A presença (ou ausência) e a gravidade dos sintomas relacionados à tireoide e doenças coexistentes, tais como doença arterial coronária ou insuficiência cardíaca, determinarão a necessidade e a dose de reposição do hormônio tiroidiano que será administrada. Os pacientes mais velhos com distúrbios da tireoide requerem atenção especial e tratamento cuidadoso, com acompanhamento permanente.

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