A idade é considerada um dos principais fatores de risco para a hipertensão arterial (HA), a popular pressão alta. A estimativa é que cerca de 25% dos adultos brasileiros (acima dos 18 anos) sejam hipertensos e os dados confirmam que a incidência é maior conforme os anos vão passando.

Segundo a Pesquisa Nacional de Saúde (2019), para aqueles com mais de 60 anos e menos de 65 a proporção chega a 47% e atinge pelo menos seis a cada dez pessoas com mais de 75 anos (dados divulgados pela Empresa Brasil de Comunicação no último dia 26, Dia Nacional de Prevenção e Combate à Hipertensão). Já a Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (SOCESP) aponta que a doença atinge atualmente mais de 60% dos idosos no Brasil.

De tão comum, é possível até dizer que depois de certa idade é normal ter pressão alta. O fato é que, apesar de poder atingir indivíduos em qualquer fase da vida, a prevalência e gravidade do problema realmente tendem a aumentar com o tempo. E isso se deve a uma série de aspectos.

Para começar a entender, primeiro é importante ter em mente a relação direta entre a hipertensão e os eventos cardiovasculares. Só para se ter ideia, a hipertensão é responsável por oito a cada dez acidentes vasculares cerebrais (AVCs) registrados no país e por seis a cada dez infartos (informação da Sociedade Brasileira de Cardiologia).

Do que estamos falando

Resumidamente, a hipertensão arterial é definida como um aumento dos níveis da pressão sistólica (contração do coração) máxima e mínima (diastólica - relaxamento entre um batimento cardíaco e outro) de forma constante e por um longo período.

A pressão tida como normal é máxima de 12 e mínima de 8 (120 x 80 mmHg). Quadros de pré-hipertensão são definidos por uma pressão sistólica entre 130 e 139 mmHg e diastólica entre 85 e 89 mmHg. Para ser considerado um quadro de hipertensão, ela deve alcançar 14 por 9 ou mais (140 x 90 mm Hg).

Se isso acontecer, o coração estará trabalhando mais para bombear o sangue na corrente sanguínea, que passa então a circular com velocidade e força além das que seriam recomendáveis. E aí, os danos são perigosos se os níveis não forem controlados.

A HA desencadeia lesões na camada mais interna das artérias (o endotélio), o que pode levar à sua ruptura, induzindo a formação da doença obstrutiva das artérias coronárias e das artérias periféricas, responsáveis pelo infarto do miocárdio e do AVC, já mencionados anteriormente. Outros danos ao organismo seriam a hipertrofia do ventrículo esquerdo, quadro que pode evoluir para uma insuficiência cardíaca e arritmias; dilatação da aorta, causando o aparecimento de aneurismas, isso sem falar das consequências em outros órgãos, como os rins. Pacientes com a pressão descontrolada podem também apresentar mais complicações por Covid-19.

Com o passar dos anos...

O envelhecimento resulta em várias alterações estruturais e funcionais nas artérias. Esta combinação de mudanças refletem o endurecimento dos vasos sanguíneos e a redução da complacência arterial (elasticidade das artérias). Com isso, tanto pressão arterial sistólica (PAS) como pressão arterial diastólica (PAD) aumentam com a idade. A PAS aumenta progressivamente até 70 ou 80 anos, enquanto a PAD até 50 ou 60 anos e depois tende a nivelar ou até a diminuir ligeiramente.

Outro fator que interfere na pressão são as transformações enfrentadas pelos rins com o avanço da idade. Podemos dizer que há um declínio da função renal, o que gera dificuldade do indivíduo em eliminar o sal. O órgão passa a apresentar sensibilidade à substância, provocando a vasoconstrição e uma maior resistência vascular. Isso se torna um ciclo vicioso, no qual a pressão elevada prejudica os rins e os rins contribuem para o aumento da pressão. Quadro que traz prejuízos para o coração e o cérebro.

Sintomas e outras causas

Um agravante é que pelo menos metade dos hipertensos não sabem que têm a doença, que pode ser silenciosa e sem diagnóstico por anos, até que aconteça um infarto ou AVC. Por isso dizemos que é uma doença sorrateira. Quando apresenta sintomas, os principais são: dor de cabeça (especialmente na nuca), falta de ar, palpitações, tonturas, vista turva e cansaço repentino.

A idade é uma das condições para aparecimento da hipertensão, mas existe a possibilidade do desenvolvimento da doença em pessoas mais jovens, tanto pelo excesso do consumo de sal, como por outros motivos, como pré-diabetes e diabetes, sedentarismo, obesidade, consumo abusivo de álcool, cigarro, estresse e histórico familiar. E o quadro pode ser pior quando há uma combinação desses fatores de risco.

No caso das mulheres, é preciso lembrar ainda das mudanças trazidas com a chegada da menopausa, quando ocorre a diminuição da produção do estrógeno, hormônio que tem efeito positivo sobre a parede arterial e, consequentemente, é considerado um aliado do coração. Quando os níveis de estrógeno diminuem, o coração e os vasos sanguíneos passam a ficar mais rígidos, o que também pode interferir na pressão arterial, que tende a subir.

Uma alimentação balanceada, com pouco sal, é crucial para evitar a hipertensão na terceira idade. Foto: Evgenia Tuzinska / Shutterstock.

Uma alimentação balanceada, com pouco sal, é crucial para evitar a hipertensão na terceira idade. Foto: Evgenia Tuzinska / Shutterstock.

Como controlar e prevenir a hipertensão na terceira idade

Antigamente, a pressão alta era tida como um fenômeno natural do envelhecimento. No entanto, estudos com idosos revelaram ao longo dos últimos anos que o tratamento para reduzir a pressão arterial afasta os riscos das complicações e consequências associadas à doença.

As estratégias de controle da hipertensão em adultos idosos precisam considerar o grau de fragilidade, comorbidades e fatores psicossociais e, portanto, devem ser individualizadas. No entanto, de modo geral, a recomendação mais importante é manter a rotina de exames e o acompanhamento médico, assim o monitoramento da pressão arterial com regularidade, especialmente para aqueles que já têm o diagnóstico.

Atividades físicas regulares e a alimentação balanceada, com baixo consumo de sal, também são cruciais. A SOCESP recomenda até 5 gramas de sal por dia ou uma colher de chá (2 gramas de sódio) - sem esquecer que o sal está presente em boa parte dos alimentos processados e industrializados. Ou seja, não importa a idade, a prevenção e os cuidados permanentes ainda são o melhor caminho.

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