A velha regra de que músculo que não é usado perde o vigor e até se atrofia aplica-se perfeitamente quando o assunto é o cérebro e as capacidades cognitivas. Por isso, a melhor receita para evitar o declínio e otimizar as reservas de memória, raciocínio e atenção é manter o cérebro ativo, com estimulação continuada.

"As pessoas que estão dispostas e interessadas em aprender algo vão continuar desafiando a mente. Vão potencializar suas habilidades, aumentar sua reserva cognitiva, despertar áreas do cérebro e estabelecer novas conexões neuronais", afirma Maria Helena Morgani de Almeida, professora do curso de terapia ocupacional na Faculdade de Medicina da USP e responsável pela área de geriatria e gerontologia.

Além da memória, do raciocínio e da atenção, outros componentes da capacidade cognitiva, como percepção (compreensão dos estímulos que chegam por meio dos sentidos), processamento da linguagem, concentração (que é uma atenção seletiva) e funções executivas (exigidas para planejamento, monitoramento e avaliação de ações), também são estimulados por atividades que desafiem a mente.

E o aprendizado, segundo Maria Helena, não se restringe àquele fornecido pela escola formal. A estimulação continuada, diz, pode vir tanto de atividades específicas, como treinos de memória, atenção, criatividade e de aguçamento de sentidos, quanto de ações que envolvam essas habilidades, como trabalho intelectual, voluntariado, atividades sociais, administrar o próprio dinheiro. "São todas atividades que desafiam a mente e mobilizam essas funções."

Ela cita ainda jogos de tabuleiro, quebra-cabeças e palavras cruzadas. E afirma que dirigir veículos envolve muitas funções integradas e de forma intensa. "A pessoa que tem interesse em continuar aprendendo vai se diferenciar daquelas que se acomodaram, que acham que já sabem o suficiente."

"Existe um forte componente cultural que interfere no envelhecimento: parte dos idosos concebe o envelhecimento como uma fase de descanso, na qual não precisam mais aprender nada. Em algumas culturas o envelhecimento é visto desse modo", afirma a terapeuta.

A memória, segundo a professora, é uma das habilidades mais afetadas pelo envelhecimento, em especial a memória recente (que se refere a lembranças de até meses atrás). Já a memória imediata (repetir algo que acabou de ouvir, por exemplo) e a remota (um ano ou mais para trás) são menos prejudicadas.

Maria Helena cita que a memória depende de três fatores: captação da informação, processamento e evocação. Por isso, os fatores envolvidos na captação, como a atenção e os sentidos (audição, visão etc), precisam funcionar bem. A atenção pode ser treinada e um bom acompanhamento médico vai manter em dia visão e audição.

Outro aspecto importante é usar técnicas de relaxamento para combater o estresse. "Estresse é deletério para a atenção, para a cognição de uma maneira geral, mas principalmente para a memória", afirma. Nessas situações, diz ela, ocorre a destruição de neurônios e há redução na chegada de nutrientes para as células cerebrais.

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