De acordo com projeções da Organização Mundial de Saúde (OMS), em 2025, serão aproximadamente 800 milhões de pessoas com idade superior a 65 anos em todo mundo. No ano de 2050, o número de idosos terá ultrapassado o de jovens. No Brasil, uma pesquisa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) em 2018 concluiu que, a partir de 2039, haverá no país mais pessoas idosas do que crianças e que, em 2060, um em cada quatro brasileiros terá mais de 65 anos.

Falar de envelhecimento saudável, portanto, torna-se cada vez mais essencial. Não podemos deixar para nos preocupar com isso apenas quando a velhice já estiver batendo à porta. Porém, apesar das mudanças que o tempo traz ao corpo e ao funcionamento do organismo, precisamos sempre reforçar que envelhecer não é sinônimo de adoecer. E isso inclui a saúde cardiovascular. No entanto, é preciso planejamento.

O fato é que os cuidados que mantemos ao longo da vida vão fazer diferença lá na frente, com o avanço da idade. É importante então entender quais efeitos o envelhecimento gera no nosso corpo e agir para conquistar uma maturidade com um sistema cardiovascular em pleno funcionamento. Isso quer dizer: válvulas em dinâmica adequada, órgão no tamanho normal e artérias coronárias sem qualquer entupimento. Como fazer isso? Vamos por partes...

O processo de envelhecimento

Embora seja uma fase previsível da vida, o processo de envelhecimento não é geneticamente programado, como se acreditava antigamente. Não existem genes que determinam como e quando vamos envelhecer. Há, sim, genes variantes que favorecem a longevidade ou reduzem a duração da vida.

Estudos sugerem que a genética é responsável por apenas 25% do ritmo do envelhecimento. Os outros 75% correspondem às particularidades de cada indivíduo, caracterizadas, por exemplo, por hábitos e estilo de vida, fatores ambientais, condições socioeconômicas e doenças crônicas. Portanto, o envelhecimento pode variar muito de pessoa para pessoa, ser mais tranquilo ou desafiador, gradativo para uns e mais rápido para outros.

Mulher de 50 a 60 anos se exercita em uma praça, ao ar livre. Ela olha para a câmera e segura um coração em frente ao peito. Foto ilustra o artigo sobre efeitos do envelhecimento no coração.

Crédito Desizned/Shutterstock

No caso do sistema cardiovascular, o envelhecimento causa uma série de mudanças e adaptações. Também aumenta as chances de problemas. E aqui podemos incluir complicações que envolvem o coração, os vasos sanguíneos ou ambos. A probabilidade de doenças ou eventos graves é maior entre os adultos com 65 anos ou mais.

Entretanto, mais uma vez, não é possível generalizar. Tudo vai depender do histórico de cada um ao longo dos anos. Livre de doenças, anormalidades ou fatores de risco, como pressão alta, tabagismo, diabetes, obesidade e sedentarismo, o coração será poupado, mantendo sua dinâmica mesmo na oitava década de vida, não perdendo função ou vigor com o passar dos anos. Ou seja, o coração de um idoso tem capacidade de funcionar tão bem quanto de um jovem.

Alterações no coração e vasos sanguíneos

Com o envelhecimento, diversas alterações podem acontecer no sistema cardiovascular, em diferentes aspectos: musculatura cardíaca, valvas, artérias coronárias, sistema elétrico, dinâmica cardíaca, entre outros. O que não quer dizer que gerem alguma repercussão prejudicial. São adaptações necessárias. Aqui vamos dar mais detalhes de algumas.

Com a idade, a função do coração é influenciada, principalmente, pela diminuição da elasticidade e da capacidade do órgão em responder às mudanças de pressão do sistema arterial, aumentando assim sua resistência à ação de bombeamento, e como consequência, o trabalho necessário para conduzir o sangue.

Normalmente, o coração continua a bombear sangue suficiente, suprindo todas as partes do corpo. Porém, em determinados casos, pode não ser capaz de desempenhar tal função tão bem quanto antes, em especial em situações que exigem mais, como em casos de constante tensão emocional e estresse, esforço físico excessivo, doenças, infecções, lesões e até em decorrência de certos medicamentos.

Além disso, o coração é um órgão que, com o envelhecimento, não apenas se atrofia, mas se hipertrofia, ou seja, aumenta de tamanho. Entre 30 e 90 anos de idade há um aumento da massa cardíaca de 1 a 1,5 g/ano. Isso por si só não traz nenhum problema. O risco surge para aqueles com esclerose valvar ou pressão arterial alta, principalmente quando não há um controle bem estabelecido.

Não devemos esquecer de mencionar as possíveis alterações da dinâmica cardíaca. Em repouso, o coração de um indivíduo mais maduro funciona quase do mesmo modo que o órgão de um jovem, porém, a frequência cardíaca (número de vezes que o coração bate em um minuto) é discretamente mais baixa. Durante atividades físicas, o coração do idoso não atingirá frequência cardíaca máxima dos tempos de juventude.

Há ainda mudanças nas válvulas cardíacas, as responsáveis por manter o sangue fluindo na direção correta. A estenose (estreitamento) das válvulas pode dificultar o fluxo de sangue. Válvulas cardíacas com vazamento, por sua vez, acarretam no acúmulo de fluido, o que prejudica o bombeamento do coração. Ambas as condições enfraquecem o coração com o tempo.  A estenose valvar aórtica (ou estreitamento da válvula aórtica) é a doença valvar mais comum em adultos idosos.

Mulher (enfermeira ou médica) examina o coração de um homem idoso. A imagem ilustra o artigo sobre efeitos do envelhecimento no coração.

Crédito: Inside Creative House/Shutterstock

Em relação as artérias coronárias, com o tempo, existe um risco maior do desenvolvimento da chamada doença arterial coronária (DAC). No entanto, é preciso destacar que ela não ocorre apenas pela idade. Pelo contrário. Fatores de risco já mencionados aqui (genética, hipertensão arterial sistêmica, diabetes, dislipidemia, tabagismo, obesidade e sedentarismo) são as principais causas dessa enfermidade.

Já o miocárdio (músculo cardíaco) sofre uma degeneração muscular com substituição de células miocárdicas por tecido fibroso. Também é possível observar o acúmulo de gordura (inclusive placas gordurosas) e aumento do colágeno em determinadas regiões do órgão. Modificações que são decorrentes do desgaste progressivo e da perda de elasticidade e maior rigidez  nas paredes arteriais. Isso provoca ampliação da calcificação das artérias e propicia o desenvolvimento de arteriosclerose (o endurecimento destes vasos sanguíneos).

O consequente endurecimento das artérias leva a uma pressão arterial elevada, que sem os cuidados necessários e se somado a fatores adicionais, podem desencadear o desenvolvimento de distúrbios cardiovasculares, como a DAC, um infarto ou acidente vascular cerebral (AVC).  Além disso, há a possibilidade de aneurismas, que se desenvolvem em uma das principais artérias do coração ou do cérebro. Os aneurismas são um alargamento ou abaulamento de uma parte de uma artéria devido à fraqueza na parede do vaso sanguíneo. Se um aneurisma romper, causa sangramento e até a morte.

Outra consequência é uma possível dificuldade no relaxamento da musculatura do ventrículo esquerdo, o que pode levar a diminuição no enchimento desta cavidade do coração e, em decorrência disso, a uma insuficiência cardíaca. A insuficiência cardíaca, aliás, é umas das complicações cardiovasculares mais comuns em pessoas idosas. Naqueles com mais de 75 anos, ocorre 10 vezes mais frequentemente do que em adultos jovens. Surge tanto de repente, sem sinais, como em decorrência secundária a infecções, a partir do histórico de doença arterial coronariana ou ainda depois de um ou mais ataques cardíacos (infarto do miocárdio).

O envelhecimento gera também alterações do sistema de condução dos estímulos elétricos do órgão. Quando isso ocorre, há um bloqueio parcial dos batimentos cardíacos e, como resultado, a ocorrência de desmaios e talvez a necessidade do implante de um marca-passo. Entre os problemas com o coração e vasos sanguíneos é possível incluir: coágulos sanguíneos, trombose venosa profunda, tromboflebite, doença vascular periférica, resultando em dor intermitente nas pernas ao caminhar e varizes.

O que fazer então ao longo da vida?

Prevenção é a maneira mais sábia de proteger o sistema cardiovascular, independente da idade. Muitas das possíveis complicações do envelhecimento sobre o coração e os vasos sanguíneos podem ser reduzidos com hábitos saudáveis, entre eles uma alimentação balanceada e a prática regular de exercícios, que ajudam a manter a capacidade cardíaca, massa magra e a forma física.

Para ajudar seu sistema cardiocirculatório é essencial cuidar dos fatores de risco, especialmente aqueles sobre os quais você tem algum controle, como pressão arterial alta, níveis de colesterol, diabetes, fumo e o consumo de álcool. Além disso, manter o check-up médico em dia é fundamental. No caso dos idosos, mesmo aqueles sem doenças, é aconselhável um acompanhamento a cada 6 meses.

O processo de envelhecimento é uma realidade. Da mesma forma que passamos a infância e a adolescência nos preparando para nos tornarmos adultos, devemos incluir a velhice no planejamento da vida, a fim de minimizar perdas e mudanças naturais que tendem a vir com a idade. Envelhecer bem, isto é, com autonomia física, cognitiva e emocional, satisfação e motivação, é importante e possível. Precisamos entender o envelhecimento como um processo, que ocorre durante toda a existência, e não apenas uma etapa que se inicia em determinada idade, separada do que já vivemos.

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