Até você terminar de ler esta reportagem, 4 brasileiros terão morrido em decorrência de doenças vasculares, de acordo com a plataforma Cardiômetro, da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). Os números assustam: são mais de 1.000 mortes por dia, 43 por hora, uma a cada 90 segundos. “É como se 7 ou mais aviões comerciais caíssem, todos os dias, sem deixar sobreviventes”, compara Marcus Vinícius Bolivar Malachias, ex-presidente do órgão.

Elas causam o dobro de mortes que todos os tipos de cânceres juntos; 2,3 vezes mais que todas as causas externas (acidentes e violência); 3 vezes mais que as doenças respiratórias e 6,5 vezes mais que todas as infecções, incluindo a Aids, segundo a SBC. Não à toa, as doenças cardiovasculares são a principal causa de óbitos no Brasil e devem vitimar 400 mil pessoas este ano. Segundo a Organização Mundial de Saúde, respondem por 1/3 das mortes de mulheres no mundo.


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“O fenômeno ocorre, em parte, por três fatores principais: maior envelhecimento populacional; estilo de vida inadequado, com um aporte nutricional contendo excessos de sal, gordura e açúcares; e sedentarismo”, explica o cardiologista Decarthon Vitor D. Targino, do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia e do HCor de São Paulo e autor do livro “Mitos e Verdades sobre o Coração”.

Entre as brasileiras, principalmente acima dos 40 anos, as cardiopatias chegam a representar 30% das causas de morte. “As mudanças hormonais relacionadas ao climatério e à pós-menopausa geram alterações significativas tanto em termos de metabolismo de gorduras quanto na circulação sanguínea. Há uma tendência maior à obesidade e à formação de placas de gordura dentro dos vasos, que podem gerar oclusões graves, inclusive com infarto agudo do miocárdio”, completa.

Além disso, observa o especialista, “o fato de os sintomas cardíacos serem menos específicos e atípicos no sexo feminino é também um dos facilitadores para a não procura imediata aos serviços de emergência, aumentando o risco de óbito”.

Doenças cardiovasculares: sintomas do infarto nas mulheres

Por muito tempo, acreditou-se que as mulheres não sofriam infarto e tinham menos incidência de doenças cardiovasculares. Mas estudos apontam que, no Brasil, uma a cada cinco mulheres tem risco de sofrer um ataque cardíaco. Estimativas também revelam que a probabilidade de a mulher morrer de infarto é 50% maior quando comparada ao homem. Um dos motivos seria negligenciar os sintomas, que, na população feminina, são:

  • azia e/ou náusea
  • dor ou queimação gástrica
  • dor nas costas, nos ombros ou na mandíbula
  • falta de ar
  • fraqueza

“É muito frequente criar-se a imagem de que um infarto esteja ocorrendo apenas se houver dor aguda no peito, com irradiação para o braço esquerdo. Porém, em unidades de pronto-atendimento, não raro diagnosticamos o infarto em mulheres que possuem como queixa principal apenas uma sensação de queimação no estômago ou no tórax, associada a náuseas e falta de ar”, exemplifica Targino. “É necessária extrema atenção a esses sintomas, sobretudo se a paciente possuir diabetes ou tiver mais de 65 anos de idade.”

Para o cardiologista, “embora a percepção do infarto através da dor seja uma das experiências mais traumatizantes que um indivíduo possa ter, é também o que o faz se deslocar imediatamente para o pronto-socorro, onde é feito o diagnóstico imediato e instituído o tratamento que salvará sua vida. Em termos de infarto temos uma máxima de que ‘tempo é músculo’. A demora excessiva até o atendimento médico inicial pode gerar sequelas cardíacas irreparáveis, como alguns casos de insuficiência cardíaca, ou mesmo o óbito, por arritmias fatais”.

Doenças cardiovasculares: atenção na menopausa

O coração da mulher é ligeiramente menor do que o do homem e apresenta uma fisiologia diferente: artérias coronárias mais finas e maior tendência a sofrer com bloqueios não apenas nas artérias principais, mas também nas menores, que fornecem sangue ao coração. E é por isso que, quando elas têm um ataque cardíaco, descrevem uma pressão ou aperto no peito, não uma dor lancinante.

Além disso, o hormônio estrogênio ajuda a proteger seu corpo das doenças cardíacas antes da menopausa, aumentando o colesterol HDL (“bom”) e reduzindo o LDL (“ruim”). Mas, após a última menstruação, o sexo feminino tem concentrações mais altas de colesterol do que os homens.

Os triglicerídeos elevados também contribuem para o risco cardiovascular, o que aumenta a probabilidade de morte por doença cardíaca após os 65 anos. A diabetes é outro fator que faz crescer  a ocorrência de doenças cardíacas nas mulheres mais do que nos homens. Isso ocorre porque, em geral, a condição está associada a obesidade, hipertensão e colesterol alto.

Doenças cardiovasculares: sedentarismo e estresse 

A pesquisa Saúde Cardiovascular da Mulher Brasileira, que avaliou hábitos de vida e fatores de riscos cardiovascular em homens e mulheres assistidos em unidades básicas de saúde e centros de referências, acendeu um alerta: se, por um lado, elas consomem com mais regularidade frutas, legumes e verduras, o que ajuda a reduzir em aproximadamente 30% o perigo de infarto, a prática de atividade física é menor no universo feminino – ficou na faixa de 28%, ante 34% no masculino.

O índice “é muito preocupante, por tratar-se de um hábito de vida de extrema importância na prevenção da principal causa de morte nas mulheres”, pontua o cardiologista Valdir Lauro Schwerz, da Cia. da Consulta. O sedentarismo possui forte impacto na saúde global e cardiovascular. Estima-se que pessoas que realizam exercícios regularmente possam estar 20% mais protegidas de vir a ter um infarto e 40%, de um AVC. E não é preciso muito: uma hora de atividade mais intensa 3 vezes/semana ou 30 minutos 5 vezes/semana.

As mulheres têm uma vantagem, explica o especialista: “O Estudo Elsa demonstrou que o homem precisa de maior duração e intensidade nos exercícios para obter os mesmos benefícios de prevenção que as mulheres. Isso ocorre porque os parâmetros homeostáticos –frequência cardíaca, pressão arterial, gasto calórico e níveis de glicose, entre outros – do homem em repouso são mais elevados que o da mulher e, para atingir o mesmo resultado, ele precisa de maior tempo e intensidade nas atividades.”

Paralelamente, a saúde mental se tornou, ao longo dos anos, outro fator de risco cardiovascular de grande importância para a população em geral. Segundo a pesquisa Saúde Cardiovascular da Mulher Brasileira, são elas que relataram ter passado por um estresse importante no último ano.

“Hoje a mulher necessita dividir seu tempo entre os papéis de mãe, companheira e protagonista de sua carreira. Por vezes, o estresse associado à tentativa de manter um equilíbrio entre essas três esferas pode servir de gatilho para transtornos de ansiedade e até mesmo depressão”, afirma Targino.

“E, somado a isso, a adoção de hábitos alimentares pouco saudáveis, com horários imprecisos, excesso de gorduras e carboidratos e, claro, sedentarismo, se transformam em uma coleção de fatores de risco para o desenvolvimento de aterosclerose, infarto e AVC”, acrescenta.  

Doenças cardiovasculares: 5 hábitos para preveni-las 

Ainda que sejam as principais causas de morte entre as mulheres, as doenças cardiovasculares são também as mais preveníveis. Além de uma avaliação médica para detectar fatores de risco, alguns hábitos devem ser adotados, sugerem os especialistas:

  1. Pare de fumar
  2. Faça exercícios regulares: pelo menos 30 minutos 5 vezes por semana
  3. Mantenha uma dieta saudável, que privilegie verduras, legumes e frutas, carnes magras e laticínios com pouca gordura; além de grãos integrais. Evite embutidos, açúcares e quantidades elevadas de sal
  4. Reduza o estresse
  5. Trate ansiedades e depressões

“O coração das mulheres brasileiras corre, sim, muito perigo”, conclui o cardiologista da Cia da Consulta. Mas “reverter as estatísticas é possível e depende diretamente de cada pessoa”.

Quer saber mais? Baixe a Cartilha de Prevenção Cardiovascular.

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