Ele já esteve em maior evidência e foi alvo de mais preocupação, sempre figurando entre os principais destaques quando o assunto era a saúde cardiovascular. No entanto, de uns tempos para cá, parece que o colesterol perdeu parte do seu protagonismo. No último levantamento sobre o tema, realizado pela Sociedade Brasileira de Cardiologia, 67% dos entrevistados responderam que não sabiam como estava sua taxa de colesterol.

Porém, segundo dados do Ministério da Saúde, quatro em cada dez brasileiros têm colesterol acima do recomendado. O cenário preocupa. Isso porque o colesterol elevado no sangue continua sendo um dos fatores de risco que mais interferem na incidência de doenças e eventos que atingem o coração, como o infarto do miocárdio e o acidente vascular cerebral (AVC).

O fato é que, mesmo com o diagnóstico, grande parte das pessoas acredita que ao fazer algumas mudanças nos hábitos e, especialmente, ao tomar o medicamento indicado, os níveis de colesterol baixam e o problema desaparece. A realidade é que o colesterol não tem cura e precisa de tratamento, cuidados e atenção por toda a vida. Caso contrário, pode se revelar um inimigo silencioso.

Por isso, vamos abordar aqui alguns pontos e esclarecer questões essenciais em relação ao tema. Para começar, é importante entender do que estamos falando. Em resumo, o colesterol é um tipo de gordura produzida no organismo e adquirida nos alimentos. Trata-se de uma substância química pertencente ao grupo dos esteroides, isto é, álcoois de alto peso molecular. Em nós, humanos, é sintetizado pelo fígado.

O colesterol apresenta intensa dificuldade em se dissolver em água, portanto, é um composto lipossolúvel. Não é encontrado apenas no sangue, mas em qualquer tecido do corpo humano. O que nem todo mundo sabe é que colesterol é fundamental para manter o bom funcionamento do organismo. É apenas no excesso da substância que mora o perigo.

O que você precisa saber sobre o colesterol

1 - Colesterol não deve ser associado só a algo ruim

Embora muitos ainda achem que o colesterol é somente maléfico, precisamos entender que esta gordura tem papeis importantes. Participa da construção e manutenção das membranas que evolvem nossas células e que permitem a troca de substâncias que dali entram e saem. Faz parte, por exemplo, da estrutura das células do cérebro, nervos, músculos, pele, fígado, intestinos e coração.

Também é essencial na produção de hormônios e vitaminas. É utilizado como precursor (substância-base para a síntese de outra) de todas as classes de hormônios, como estrogênio, progesterona, cortisol e testosterona. O colesterol está ainda envolvido no metabolismo das vitaminas lipossolúveis, como A, D, E e K. Além disso, participa da fabricação da bile (dos ácidos biliares que atuam na digestão). Ou seja, não se trata de um vilão, mas sim de um elemento primordial para o corpo.

2 - A alimentação contribui com somente 30 % da formação do colesterol

Apesar dos hábitos alimentares exercerem influência direta nos níveis de colesterol, apenas 30 % vem dos alimentos. Os outros 70% são produzidos pelo próprio corpo, como mencionado, pelo fígado. Vale destacar que a capacidade do organismo em absorver colesterol é limitada a 300 miligramas por dia (em adultos).

Depois de passar pela circulação sanguínea e cumprir suas funções, quando em condições normais, tem seu excesso eliminado. Portanto, os níveis de colesterol no sangue dependem, principalmente, da capacidade do fígado em removê-lo - e isso varia de pessoa para pessoa.

3 – Não há só um tipo de colesterol no nosso organismo

Para que o colesterol seja transportado pelo sangue até os tecidos, é fundamental que esteja dissolvido. Como é insolúvel em água, segue na forma de lipoproteína, ou seja, associa-se a um fosfolipídio e a uma proteína. Por esse motivo, durante a produção do colesterol no fígado, ele adere a diferentes combinações de fosfolipídios e proteínas, o que faz surgir diferentes tipos de colesterol.

LDL, o colesterol ruim - O LDL (Low Density Lipoprotein ou proteína de baixa densidade) é uma proteína que se une ao colesterol para leva-lo às células. É considerado ruim justamente por essa função: se houver aumento de sua taxa, mais colesterol (mais gordura) será encaminhado. E, ao permanecer nos vasos sanguíneos, dará origem as placas de gordura que poderão entupir as artérias. Quanto maior a taxa de LDL, maior o risco de aparecimento e agravamento de doenças cardiovasculares.

HDL, o colesterol bom – O HDL (High Density Lipoprotein ou proteína de alta densidade) é o responsável pela remoção do excesso de colesterol dos tecidos e artérias. É ele quem leva a substância de volta ao fígado - para depois ser eliminado, impedindo assim seu acúmulo. Em outras palavras, o HDL auxilia a limpar o excedente de gordura dos vasos sanguíneos. Quando essa proteína está em níveis baixos, há chances maiores de problemas cardiovasculares.

4 – Muito provavelmente você não vai perceber que está com a taxa de colesterol lá no alto!

Um dos grandes desafios é que a ocorrência da taxa de colesterol elevada é silenciosa e a situação piora lentamente, sem sintomas evidentes. Quando o corpo dá algum sinal, provavelmente, já é reflexo de um evento grave, como o infarto.

Logo fica mais evidente a importância de termos sempre conhecimento a respeito dos níveis de colesterol no corpo. O acompanhamento pode ser feito em check ups de rotina. Por meio de um exame de sangue é possível verificar níveis totais de colesterol, bem como do HDL e do LDL.

5 - Como avaliar sua taxa de colesterol

Um índice alto nem sempre é reflexo de problemas! É preciso avaliar o detalhamento. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a recomendação é manter os níveis de colesterol total, HDL e LDL da seguinte forma:
- Colesterol total (medida sem distinção entre HDL e LDL): em adultos, abaixo de 200 mg de colesterol por decilitro de sangue (200 mg/dl) e, em crianças, abaixo de 170 mg/dl;

- HDL: acima de 35 mg por decilitro (35 mg/dl);

- LDL: abaixo de 130 mg por decilitro (130 mg/dl).

Porém, os limites são mais restritos para quem já apresenta fatores de risco para doenças cardiovasculares. Em pessoas com risco intermediário, o objetivo é ter menos de 100 miligramas por decilitro (mg/dl) de sangue de LDL. Para quem têm um risco alto, os valores ideais do LDL são de 70 mg/dl; e para aqueles com um risco muito alto, é de 50 mg/dl.

Por fim, é importante reforçar um aspecto quanto a taxa de colesterol total: se ela estiver abaixo do esperado, em torno de 30mg/dl a 40mg/dl, as chances de lesão nas membranas celulares aumentam, uma vez que elas necessitam do colesterol.

6 – O colesterol tem relação direta com a saúde cardiovascular

O excesso de LDL é que está associado às doenças cardíacas. Caso seus níveis estejam altos no sangue, aumenta-se a chance da gordura acumulada ficar depositada nas paredes internas das artérias (arteriosclerose), o que, gradualmente, forma uma placa de gordura que chamamos de ateroma. Esses ateromas obstruem os vasos dificultando ou bloqueando a passagem do sangue. Com o tempo, isso pode resultar na doença arterial coronária (DAC), em um infarto ou um AVC.

Leva muitos anos para uma placa de ateroma se desenvolver. No entanto, quanto mais avançada a idade, maior o risco. Para evitar problemas, é crucial manter também os outros fatores de risco bem controlados, como a glicose (diabetes), a pressão arterial, o peso, entre outros.

7 – No prato: o que realmente aumenta e o que reduz os níveis de colesterol?

Quando o assunto é alimentação, em resumo, a ideia é limitar o consumo de gorduras saturadas e trans presentes em alimentos de origem animal, como carnes vermelhas e derivados do leite, além de frituras, produtos industrializados e ultraprocessados, como biscoitos e salgadinhos de pacote, margarina, embutidos, comidas congeladas (batata frita, lasanha, nuggets, etc) e fast food.

Atenção também ao modismo nas dietas. Aquelas que indicam excluir carboidratos, por exemplo, podem estimular o aumento do colesterol ruim. Isso porque dietas saudáveis devem conter todos os nutrientes: carboidrato, proteína e gordura. Ao cortar totalmente carboidratos, as pessoas tendem a aumentar o consumo de proteína e gordura, elevando assim o colesterol. Porém, vale lembrar: no caso dos carboidratos, dê preferência para as versões integral.

E o ovo? Tido como o grande vilão do colesterol no passado, não deve ser deixado de fora do cardápio. É uma das fontes de proteína mais completas e contém diversas vitaminas e nutrientes. As recomendações atuais, porém, indicam a ingestão de um ovo ao dia - se outros alimentos ricos em colesterol forem limitados na dieta. Inclua ainda nas refeições: castanhas, nozes, amêndoas, azeite de oliva, abacate, carnes brancas (peixes e aves), queijos magros, frutas, vegetais e fibras (como as presentes no feijão e aveia).

8 - Pessoas magras também têm taxas de colesterol elevadas

Excesso de peso não significa colesterol alto! Um dos mitos mais ultrapassados é acreditar que o colesterol é problema apenas de quem tem obesidade. Pessoas magras podem apresentar descontrole nos níveis de gordura no sangue e estar no grupo de risco de infarto e AVC.

Primeiro porque alguns indivíduos, apesar de estarem no peso considerado ideal, exageram em alimentos gordurosos, industrializados e ultraprocessados. Depois, por um componente genético que interfere na capacidade de remoção de colesterol pelo fígado.  Um parente de primeiro grau com colesterol alto torna maiores as chances de ter colesterol elevado, independente de outros fatores. Histórico familiar de algumas doenças, como diabetes, hipotireoidismo e síndrome de Cushing, também aumentam a probabilidade de níveis elevados de colesterol no organismo.

9. Seu colesterol é alto demais e parece sem controle? Pode ser questão de família!

Colesterol alto também tem como causa a genética. É o que acontece na chamada hipercolesterolemia familiar (HF), problema hereditário que impede a remoção dos excessos de colesterol do corpo. Como consequência, o risco de desenvolver complicações cardiovasculares não só aumenta como elas aparecem ainda mais cedo. Seus portadores têm níveis muito elevados de LDL: até quatro vezes maiores do que o apresentado por pessoas sem a disfunção genética.

A HF é uma condição grave, responsável por 5 a 10% dos casos de eventos cardiovasculares em pessoas abaixo de 50 anos. O problema é que grande parte dos portadores de HF não sabem disso: estima-se que menos de 10% dos indivíduos com a patologia têm o diagnóstico conhecido e menos de 25% recebem tratamento. A disfunção que origina a HF é de transmissão autossômica dominante, o que significa que a metade dos descendentes em primeiro grau de um indivíduo afetado vão ser portadores do problema e irão apresentar níveis elevados de LDL desde o nascimento.

10. Todos acima de 10 anos devem verificar o colesterol

Por tudo o que vimos até agora, fica claro que é muito importante fazer o exame para saber como está o seu colesterol desde cedo. O recomendado é que todos acima de 10 anos façam a dosagem do colesterol e suas frações, mesmo sem nenhum indício ou histórico familiar. Nos indivíduos que têm pais ou parentes próximos com colesterol elevado e que tiveram doenças cardiovasculares precoces, a recomendação é que a dosagem seja feita a partir do segundo ano de vida.

Vale destacar aqui ainda que as crianças de hoje são menos ativas fisicamente e tendem ao ganho de peso precoce e a obesidade, questão no qual o colesterol está presente. Dados do Ministério da Saúde apontam que 20% dos adolescentes, de 12 a 17 anos, têm índices elevados de colesterol.

11. O tratamento é preventivo e permanente

Quanto mais alto o colesterol, mais indispensável é o tratamento, inclusive com índices expressivos de redução da mortalidade: a cada 40mg/dL de colesterol LDL reduzido, a mortalidade por infarto diminui em 20%. Dentre os medicamentos, as estatinas são os mais usados. Elas inibem a produção de colesterol pelo fígado. Seu uso regular, conforme a prescrição médica, é capaz de reduzir em até 70% os riscos para doenças cardiovasculares. Mas existem outros, especialmente úteis a quadros mais graves, como na hipercolesterolemia familiar.

O tratamento do colesterol deve ser preventivo e para a vida toda. Não adianta tratar por um período e depois abandonar. Se parar, o colesterol sobe de novo. O que é preciso ficar claro é que não se busca uma cura e sim um controle, que envolve a prática de exercícios físicos, cuidados com a alimentação, hábitos saudáveis, como não fumar, e, quando necessário, o uso de medicamentos.

Compartilhe com seus amigos

Receba os conteúdos do Instituto de Longevidade em seu e-mail. Inscreva-se: