Você acha que é constrangedor dividir quarto em viagens, hospedar-se na casa de amigos ou parentes ou dormir no avião porque sabe que vai roncar? Pois então comece a pensar em procurar um especialista, porque os prejuízos causados por esse distúrbio do sono vão muito além dos sociais.

Provocado por um estreitamento da passagem de ar devido ao relaxamento anormal dos músculos da garganta _ o que produz uma vibração dos tecidos, gerando ruído _, o ronco, com o passar do tempo, pode evoluir para a apneia do sono, que consiste em paradas repetidas e temporárias da respiração.

E os dois distúrbios desencadeiam uma série de problemas, alerta o psiquiatra Alberto Remesar Lopez, especialista em medicina do sono e autor do livro "O Ronco e o Cutucão da Minha Mulher" (ed. Pandorga), lançado na última Bienal do Livro, em São Paulo.

Muito além da irritação e do mau humor após uma noite maldormida, os prejuízos incluem risco de arritmia, infarto e AVC, déficit de memória e de concentração e hipertensão, podendo levar à morte.

"Alguns trabalhos mostram que, antes, as pessoas morriam entre 6h e 12h. De uns anos para cá, verificou-se um aumento de mortes entre 24h e 6h. Foram investigar o motivo e descobriram que estava relacionado ao ronco e à apneia do sono", diz o especialista.

E o motivo, segundo Remesar, é que a apneia representa um ataque constante ao organismo. "A pessoa tem uma descarga contínua de adrenalina e de radicais livres. Com o passar do tempo, a situação pode se agravar."

E a privação de sono, diz o especialista, pode levar a um quadro semelhante ao da depressão, com sintomas como ansiedade, angústia e desânimo. "Qual a qualidade de vida que eu tenho dormindo mal?", questiona o psiquiatra.

Segundo Remesar, 33% da população na faixa de 18 a 80 anos sofre com ronco e apneia. E a lista de fatores ligados ao surgimento dos distúrbios é grande. Excesso de peso é talvez o principal: "Isso fica claro quando você vê, nos ambulatórios que trabalham com alterações de sono e respiratórias, crianças obesas roncando".

O envelhecimento também influencia bastante no quadro, ao provocar, em muitas pessoas, a flacidez das estruturas envolvidas na respiração. Fumar, consumir álcool, hipotireoidismo e especificidades anatômicas (como pescoço curto e alteração cranioencefálica) também contam.

A interrupção da produção de hormônios tem um peso grande: quando comparados homens com mulheres antes da menopausa, os distúrbios acometem duas a três vezes mais o sexo masculino. Na faixa etária pós-menopausa, a incidência é igual para homens e mulheres.

Alguns medicamentos, em especial os que são utilizados para reduzir a dificuldade para dormir, podem agravar o problema, por relaxarem a musculatura. O mesmo efeito pode ser provocado por certos analgésicos.

Segundo o especialista, a herança familiar também conta. Se o pai ou a mãe roncam, o paciente terá duas vezes mais chance de roncar que alguém da mesma faixa etária e sexo sem esse histórico na família. Se tanto o pai quanto a mãe roncam, a probabilidade sobe para quatro vezes mais. Mas não dá para dizer que é uma herança genética, diz Remesar, porque ainda não foram identificados os genes ligados a esse distúrbio.

O diagnóstico inclui a polissonografia, exame em que o sono do paciente é monitorado por equipamentos eletrônicos. Fora as cirurgias, que são indicadas na minoria dos casos, especialmente quando existem alterações anatômicas envolvidas, existem dois tipos de tratamento clínico, segundo o especialista.

Os casos mais leves de ronco e apneia são resolvidos com o uso de um aparelho intraoral, que é feito sob medida pelo dentista para ser encaixado nos dentes. A função é reposicionar a mandíbula e liberar as vias aéreas.

Para os casos mais graves, a indicação é para o uso do CPAP (sigla em inglês para Continuous Positive Airway Pressure). É um aparelho acoplado a uma máscara que fornece um fluxo contínuo de ar, a uma determinada pressão, de forma a "empurrar" a musculatura e liberar a passagem de ar.

Quanto ao cutucão citado no título do seu livro, Remesar garante: pode até funcionar, mas por brevíssimos segundos.

SERVIÇO

"O Ronco e o Cutucão da Minha Mulher"

Alberto Remesar

Editora Pandorga

302 págs.

R$ 34,90

Compartilhe com seus amigos