Em uma década, o Brasil terá uma pessoa com mais de 60 anos para cada jovem. Para que a área de saúde esteja preparada para atender parte dessa população mais velha, a ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) criou, em 2016, o programa Idoso Bem Cuidado, que está em fase de implantação e já apresenta alguns resultados.

A iniciativa é voltada a quem tem plano de saúde privado e visa reorientar o cuidado à geração com mais de 60 anos. Em foco estão melhorias de qualidade e na prestação de serviços primários, que envolvem consultas, exames e atendimentos menos complexos. Os modelos em implantação preveem cinco níveis de atenção: acolhimento, núcleo integrado de cuidado, ambulatório geriátrico, cuidados complexos de curta duração e cuidados de longa duração.

Ao todo, 67 projetos estão sendo desenvolvidos por 49 operadoras e 18 prestadores de serviço, segundo a ANS. Estão envolvidas instituições parceiras e dedicadas à pesquisa e à execução de medidas nas áreas de envelhecimento ativo, qualidade da atenção e racionalização dos custos em saúde.

Segundo a agência, os primeiros resultados mostram que, entre os participantes do grupo-piloto, houve melhora em indicadores relevantes de cuidado em saúde, como maior acesso a médicos generalistas (clínicos, médicos de família e geriatras) e a equipes multiprofissionais de saúde.

O projeto Idoso Bem cuidado registrou ainda menos idas desnecessárias à emergência e diminuição de internações. “A iniciativa encontra-se em fase de reestruturação, tendo como ponto-chave atrelar os indicadores de qualidade à implementação de modelos inovadores de remuneração no cuidado ao idoso”, informa a ANS por meio de sua assessoria de imprensa.

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Com os resultados monitorados e mensurados, a proposta da agência é identificar modelos viáveis e que possam ser replicados. O objetivo divulgado durante o lançamento do Idoso Bem Cuidado é “estimular mudanças perenes no sistema de saúde”.

Capacitação profissional

A médica Maisa Kairalla, presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia de São Paulo (SBGG-SP), avalia positivamente a iniciativa, mas destaca que a falta de profissionais capacitados em saúde de pessoas com mais de 60 anos é um dos principais desafios para atender a essa demanda populacional. “Ainda temos um modelo de saúde suplementar que pode ser considerado deficitário no que cabe ao idoso”, diz.

Outro desafio é o acesso. Embora a ANS oriente as empresas a não dificultar ou impedir o ingresso de novos associados aos serviços de saúde suplementar devido à idade, à condição de saúde ou à deficiência, isso não ocorre na prática, segundo a médica.

Kairalla lembra ainda que está em análise na Câmara dos Deputados um projeto de lei que prevê mudanças nos planos de saúde – que inclui redução de cobertura, de rede assistencial e de penalidade às prestadoras de serviço que descumpram a lei. Algumas organizações – como Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor), AMB (Associação Médica Brasileira) e Fundação Procon‐SP – se uniram em um movimento contra as alterações, que representam “uma perda de direitos dos consumidores”.

Principais queixas

Segundo a ANS, os temas das reclamações recebidas por pessoas com mais de 60 anos em seus canais de atendimento não diferem das enviadas pelo restante dos segurados. São elas, nesta ordem: cobertura, contratos e regulamentos, mensalidades e reajustes.

Entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017, a ANS identificou um crescimento de 4% no número de beneficiários com mais de 60 anos de idade. No total, 7,73 milhões de idosos são assistidos por planos de saúde.

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