Quantas vezes na vida você recebeu ou deu um sorriso amarelo? A expressão, bastante usada para representar a reação de uma pessoa que perde a graça por algum motivo, quando interpretada ao pé da letra, pode muito bem descrever um problema estético que tem incomodado cada vez mais pessoas: o escurecimento dos dentes.

Ao longo do tempo, a ação de ácidos que se formam na boca causa um desgaste natural da superfície dentária. Por isso, a escovação após cada refeição é tão importante para manter a integridade dos dentes. Mas mesmo com uma boa higienização diária, o escurecimento dos dentes se torna inevitável, principalmente por hábitos como tabagismo e pelo consumo excessivo de cafeína e de alguns alimentos à base de cola, chás ou vinho tinto.


Na busca pela estética dos dentes brancos, o clareamento dental começou a ser feito de forma indiscriminada por pacientes sem a supervisão de um profissional. Para entender mais sobre os riscos e os cuidados necessários na hora de realizar o procedimento, o portal do Instituto de Longevidade Mongeral Aegon conversou com a cirurgiã-dentista Liana Pinheiro. Com 29 anos de experiência clínica, ela é Membro Titular Imortal da Academia Brasileira de Odontologia e da Academia de Odontologia do Rio de Janeiro, além de ser Membro Titular da Sociedade Brasileira dos Dentistas Escritores. Com doutorado em ortodontia e ortopedia facial, Liana é responsável pelo 1º Curso Brasileiro de Atualização em Ortodontia Lingual e professora responsável pelos cursos de atualização da Oficina de Ortodontia.

  1.  Quais as principais causas do amarelamento dos dentes? 

São vários. Um traumatismo, por exemplo, pode escurecer o dente devido à hemorragia interna ou necrose da polpa. Materiais utilizados durante o tratamento de canal e a decomposição da polpa também podem causar escurecimento.

Com o envelhecimento, a câmara pulpar do dente diminui de tamanho pelo aumento da camada de dentina, que é quem dá cor ao dente. Uma camada mais espessa dessa dentina, associada ao desgaste da superfície do esmalte de um dente mais envelhecido, também deixa o tom mais escurecido.

A ingestão excessiva de flúor durante o período de formação dos dentes (no período intrauterino para dentes de leite e na primeira infância para dentes permanentes) também pode causar mudanças drásticas na cor dos dentes. Da mesma forma, o uso de tetraciclina* durante o período de formação dos dentes permanentes pode deixá-los com cor amarelada tendendo para o castanho ou cinza.

O uso contínuo e em excesso de bebidas e alimentos que possuem pigmentos podem causar o escurecimento dental. Café, chimarrão, chá, refrigerante, vinho, suco de uva, molho shoyu, curry e ketchup, beterraba, ameixa, amora, açaí, balas, chicletes e chocolates coloridos artificialmente podem ser inimigos de dentes brancos.

O hábito de fumar expõe os dentes a pigmentos como a nicotina, deixando-os amarelados e escurecidos.

*Grupo de antibióticos naturais ou semissintéticos usados no tratamento de um amplo espectro de bactérias tanto Gram-negativas quanto gram-positivas e alguns protozoários e até alguns fungos.

  1.  Quais riscos à saúde do paciente um procedimento mal feito pode causar?

Quando aplicados nos dentes, os agentes clareadores atuam como soluções ácidas e aumentam a porosidade superficial do esmalte. Podem promover também, ao longo do tempo de uso, a infiltração de restaurações de resina além de induzir à hipersensibilidade dentinária. Isso ocorre porque, quando o material clareador é aplicado sobre os túbulos dentinários, alarga-os por desmineralização. Na junção entre o esmalte e o cemento, as áreas de dentina exposta também aumentam. Outra coisa que acontece é a queimadura dos tecidos moles pelo efeito cáustico do peróxido de hidrogênio.

  1.  Poderia causar problemas mais graves, como câncer?

Os agentes à base de peróxido de hidrogênio potencializam os efeitos desencadeados pelos agentes carcinogênicos. Vários estudos mostram com clareza que o material de clareamento não é cancerígeno. Porém, junto com outros agentes carcinógenos presentes diariamente na boca dos pacientes, advindos de pesticidas, herbicidas, alimentos, tabaco, álcool, vírus e muitos outros, podem ser um motivo real de problema.

 

  1.  Quais os cuidados necessários para a realização do clareamento dental?

O cirurgião-dentista tem a responsabilidade profissional para realizar o clareamento dental oferecendo a segurança necessária para que o agente clareador não espalhe sobre a gengiva, retrações dentárias, mucosa bucal, evitando também a ingestão do produto. Ele tem também a capacidade de avaliar a presença de restaurações e respectivas cores, a condição das gengivas, se existe retração ou alguma lesão oral, além do principal, que é avaliar a pré-disposição do paciente junto aos agentes co-carcinogênicos já explicados.

Um cirurgião-dentista não aplica produtos clareadores, a não ser que adote medidas preventivas que impeçam o seu contato com as partes moles. As barreiras resinosas protegem a gengiva e a mucosa bucal e impedem que o paciente engula o clareador. No clareamento caseiro, as moldeiras são confeccionadas com alívios na região do esmalte para que o material, em menor quantidade, fique retido na moldeira e não extravase para a boca.

  1.  Alguma dieta é recomendada?

Sim, uma dieta livre de corantes e alimentos pigmentados também deve ser orientada pelo profissional, a fim de auxiliar no processo de clareamento.

  1.  Quais os maiores erros cometidos por pessoas que tentam fazer o clareamento em casa?

O uso de clareadores dentários por parte dos pacientes, em suas casas, não permite que essa proteção seja exercida adequadamente, e o contato do peróxido de hidrogênio com retrações dentárias, gengivas, mucosa oral e faríngea, além da mucosa gastrintestinal, será inevitável.

Moldeiras não adaptadas corretamente permitem que o agente clareador seja ingerido e também tenha contato direto com gengivas e mucosas.

  1.  Algumas pessoas fazem uso de água oxigenada para o clareamento. Isso é correto?

Vale a pena ressaltar que na internet algumas pessoas irresponsavelmente têm indicado a água oxigenada em bochechos diários, para que diminua os germes da boca e desinflame as gengivas, ao mesmo tempo que deixaria os dentes mais limpos e brancos. A água oxigenada, além de deixar as mucosas e gengivas vermelhas pela agressão, pode até necrosar as papilas gengivais. Ela desmineraliza o esmalte removendo as sujeiras e pigmentos aderidos, porém o esmalte fica mais poroso e o alimento o escurece mais ainda. O esmalte vai ficando mais erosionado e, se houver restaurações, induz infiltrações na sua interface com o dente. Se queimar a mucosa e desmineralizar o esmalte fossem os principais problemas, até se poderia pensar em uso com moderação. O problema maior é o que já foi falado sobre a água oxigenada ser um agente carcinógeno promotor, potencializando o efeito dos indutores de câncer na boca, da garganta, esôfago, estômago e intestino.

 

  1.  Qual o intervalo de tempo recomendado entre os procedimentos de clareamento dental?

Uma vez ao ano seria ideal para ter um efeito co-carcinogênico mínimo, sem danos aos tecidos e dentes.

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