Na Inglaterra, um estudo sobre a ação do cigarro eletrônico no organismo humano, desenvolvido por pesquisadores da Queen Mary University of London, concluiu que seus efeitos parecem bem menos prejudiciais do que os dos cigarros convencionais.

Já no Japão, uma equipe de cientistas concluiu que o cigarro eletrônico é 10 vezes mais cancerígenos que o tabaco convencional por causa da presença de substâncias tóxicas como formaldeído e acetaldeído.

Enquanto a ciência não chega a uma conclusão, a discussão tem crescido cada vez mais em rodas de fumantes, não-fumantes e ex-fumantes de todo o mundo. Porém, o crescimento mais preocupante tem sido no volume de usuários. No mês passado, autoridades de saúde dos Estados Unidos alertaram para o crescimento vertiginoso de 78% do uso do cigarro eletrônico entre jovens daquele país no período de um ano. O número chegou a 4,9 milhões em 2018, em comparação aos 3,6 milhões de usuários identificados em 2017.

Cigarro eletrônico. Foto: Gianluca Rasile/shutterstock

No Brasil, um estudo realizado pelo INCA (Instituto Nacional do Câncer) em parceria com a OPAS (Organização Panamericana da Saúde) e a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) concluiu pela falta de evidências científicas sobre a segurança desses produtos. Desde 2009, a Anvisa proíbe a comercialização, a importação e a propaganda de quaisquer dispositivos eletrônicos para fumar ou que se apresentem como alternativa ao tratamento do tabagismo no Brasil.

Em julho de 2017, a agência reguladora recebeu um documento de apoio à proibição dos dispositivos eletrônicos assinado pela Associação Médica Brasileira (AMB) e pelas Sociedades Médicas a ela filiadas. De acordo com o documento, a alegação de oferecer menos risco à saúde transmite a falsa sensação de segurança e pode induzir não fumantes a aderirem ao cigarro eletrônico.

Dados sobre o uso do cigarro eletrônico são inconclusivos

Para o oncologista clínico da Rede D’Or Ricardo Marques, até o momento, as informações sobre o assunto são inconclusivas. “Há poucas coisas que nós sabemos hoje de forma científica e concreta. Uma delas vem de um estudo recente envolvendo quase 900 fumantes na Inglaterra. Eles [os pesquisadores] utilizaram o cigarro eletrônico para saber se seria mais eficaz na ajuda para parar de fumar do que as gomas de mascar ou os adesivos de nicotina”.

O grupo também participou de sessões de terapia comportamental para receber apoio psicológico de profissionais especializados. Ao final de um ano, o estudo concluiu que, das pessoas que receberam terapia de apoio, psicologia comportamental e adesivos, apenas 10% haviam parado de fumar. Por outro lado, quando utilizado o cigarro eletrônico em substituição ao adesivo, o número dobrou e chegou aos 20%. 


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Contudo, os cientistas ainda não conseguiram concluir se o uso do cigarro eletrônico pode ter efeitos deletérios na saúde do indivíduo e causar doenças como câncer de pulmão, derrame ou AVC. 

"A resposta mais honesta é: a gente não sabe", afirma o especialista. "A questão principal é que o conteúdo das substâncias que têm dentro do cigarro eletrônico, do ponto de vista científico, não têm nada a ver com a mesma combustão de outros elementos cancerígenos que você encontra no cigarro tradicional e qualquer sentido de criminalizar o cigarro eletrônico por doenças do tipo câncer, câncer de laringe, de pulmão, de bexiga, entupimento de artérias ou AVC é cientificamente impróprio", defende.

Autoridades temem o aumento do vício da nicotina entre jovens

Recentemente, alguns países da Europa e os Estados Unidos levantaram a hipótese de que o cigarro eletrônico possa fazer com que adolescentes que nunca fumaram passem a usar o dispositivo indiscriminadamente.

Para o oncologista, isso é muito preocupante. "Você tem duas coisas embutidas nisso. Uma suspeita, sem evidência científica para isso, de que na realidade o cigarro eletrônico poderia ser uma introdução para o adolescente começar a fumar e depois ele migraria para o cigarro tradicional, mas isso a gente não sabe se vai acontecer, não há provas científicas".

Ao contrário dos cigarros comuns, que promovem a combustão de cerca de 4.720 substâncias tóxicas e algumas radioativas como o polônio 210 e o cádmio (o mesmo das baterias dos carros), os eletrônicos usam uma descarga elétrica para vaporizar uma mistura de nicotina com aromatizantes, sem a quantidade de substâncias cancerígenas do cigarro convencional. A indústria do cigarro argumenta que, com isso, o produto fornece um grande benefício à saúde dos fumantes.

Cigarro eletronico. Foto: Viatkins/shutterstock

Para Marques, a única certeza que se tem é de que, como a nicotina é viciante, o uso do cigarro eletrônico induziria a um tipo de vício à nicotina. E que, para se tirar a experiência desagradável do cheiro e do sabor da nicotina, coloca-se uma grande quantidade de substâncias aromatizantes no cigarro eletrônico, as quais se desconhece o efeito a longo prazo no organismo humano.

"Esquece o cigarro tradicional e pensa nessa pergunta médica: quais são os malefícios de uma pessoa se viciar em nicotina?", argumenta Marques. "Não estou fazendo uma relação de causa-efeito, mas, por exemplo, a gente sabe que o cigarro tradicional está também mais associado a uma pessoa usar outras drogas do tipo heroína e cocaína".


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De acordo com Marques, não significa que o indivíduo que fumou cigarro tradicional também seja usuário de drogas mais fortes. Longe disso, o que a ciência identifica é que o mesmo indivíduo com vício em nicotina tem uma maior propensão a também se viciar em outras drogas. "São associações, não são causa-efeito. Não quer dizer que o sujeito que usa cigarro eletrônico necessariamente vá usar cocaína e heroína", enfatiza.

Números do setor

Segundo informações do Ministério da Saúde, o número de fumantes no país é de 21 milhões, o que representa cerca de 12% da população brasileira e causa um prejuízo anual de R$ 56,9 bilhões aos cofres públicos. Desse total, R$ 39,4 bilhões são com custos médicos diretos e os outros R$ 17,5 bilhões com custos indiretos (perda de produtividade provocadas por morte prematura ou por incapacitação de trabalhadores).

O tabagismo é hoje responsável por 63% das mortes relacionadas a doenças crônicas não transmissíveis em todo o mundo e a principal causa de mortes evitáveis, de acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde). Também é um forte fator de risco para o desenvolvimento de males como tuberculose, infecções respiratórias, osteoporose, catarata, úlcera gastrintestinal, impotência sexual e infertilidade.

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