Num estudo pouco divulgado, o Mobilize Brasil, uma organização dedicada “full time” à mobilidade urbana, foi conferir a qualidade das calçadas das 27 capitais brasileiras em 2019. E o resultado, pelo que se percebe a olho nu, não foi nada surpreendente: nenhuma das pesquisadas obteve uma nota minimamente razoável!

Caminhar por uma dessas cidades é quase um ato de heroísmo: quem insistir, inexoravelmente, vai encontrar calçadas estreitas, buracos, degraus, postes, faixas de travessia apagadas, semáforos ausentes ou deficientes, ambientes agressivos e poluídos e nenhum local para descanso em dias de calor ou chuva. Em outras palavras, as cidades brasileiras apresentam baixa caminhabilidade.

“Caminhabilidade (do inglês, walkability) é uma medida quantitativa e qualitativa para avaliar quão convidativa uma rua, praça ou qualquer espaço público pode ser para pedestres, cadeirantes e outras pessoas com deficiência. E avaliar a caminhabilidade de uma rua, um bairro ou de uma cidade é o primeiro passo para transformar esse lugar”, explica Ricky Ribeiro, fundador do Mobilize Brasil e um dos realizadores do estudo.

Trabalho de fôlego

Para essa avaliação, a equipe reunida pelo Mobilize Brasil realizou uma ampla pesquisa das experiências internacionais, seguida por uma série de encontros com especialistas de organizações brasileiras que atuam no estímulo à mobilidade ativa. O trabalho resultou em uma metodologia de avaliação simples e intuitiva que pode ser aplicada em qualquer cidade brasileira, por qualquer pessoa com um mínimo de treinamento.

Com apoio dessa metodologia, foi formada uma rede de colaboradores nas 27 capitais, que saíram às ruas entre os meses de abril e julho (2019) para fazer o levantamento das proximidades de locais com grande circulação de pessoas a pé, como hospitais, escolas, mercados, terminais de transportes, edifícios da administração pública, praças e parques, entre outros espaços.

Os avaliadores visitaram, fotografaram, tomaram medições e atribuíram notas de zero a dez para cada um dos 13 itens considerados na pesquisa: regularidade do piso, largura da calçada, inclinação transversal da calçada, existência de barreiras e obstáculos, condições de rampas de acessibilidade, faixas de pedestres, semáforos de pedestres, mapas e placas de orientação, arborização e paisagismo, mobiliário urbano, poluição atmosférica, ruído urbano e segurança. Por fim, essas notas foram ponderadas e tabuladas para a geração de dados sobre cada cidade e de todo o Brasil.

Resultados não surpreendem

A média nacional, entre todas as 27 capitais e considerando todos os itens avaliados, ficou em 5,71, uma média considerada baixa, já que os critérios do estudo estabeleciam que o mínimo aceitável seria a nota 8, numa escala de zero a dez.

O mais grave é que todos os 835 locais avaliados estão sob responsabilidade direta dos governos, em seus três níveis. Se os governantes não cumprem as leis e normas, como esperar que o morador zele por sua calçada?

Das 27 capitais, Belém do Pará foi a pior: de zero a dez, a capital paraense ficou em último lugar, com média 4,52.

Índice civilizatório

“Calçada é a parte principal do sistema viário de qualquer cidade. Lugar de encontro. Calçada é índice civilizatório. Cidade sem calçadas largas, limpas, desimpedidas, construídas com o piso adequado, não existe. É anti-cidade.”

O texto acima é do arquiteto e urbanista Jorge Ricca e serviu para apresentar em sua página de Facebook uma foto magnífica das calçadas da região central de Nova Iorque.

O artista plástico Joaquim Gimeno, em viagem recente à Espanha, fotografou, a meu pedido, as calçadas de Saragoza: esplêndidas!

Enquanto isso, o jornalista Gregor Gomes fotografava, também a meu pedido, as calçadas do bairro Mandaqui, em São Paulo!

As fotos falam por si mesmas. Olhem com atenção cada uma delas e reflitam junto comigo sobre o que as cidades brasileiras, de um modo bem generalizado, fazem com seus idosos e portadores de necessidades especiais.

Compartilhe com seus amigos

Receba os conteúdos do Instituto de Longevidade em seu e-mail. Inscreva-se: