Dar banho, ajudar a se vestir, dar comida na boca, segurar pelas mãos e acompanhar de perto cada passo para evitar que caia e se machuque. Ao fim do dia, ajudar na escovação dos dentes e colocá-lo para dormir com os anjinhos. Apesar da grande semelhança, não estamos nos referindo aos cuidados com uma criança, mas com um idoso que, com o passar dos anos, perdeu sua autonomia. A esse quadro, muitos cuidadores e familiares acrescentam uma fala infantilizada com palavras no diminutivo na hora da comunicação. É o que especialistas chamam de infantilização do idoso.

A psicóloga clínica Rebeca Zar explica que, seja no seio familiar ou em uma instituição de longa permanência (ILPI), o tratamento deve ser baseado na excessividade do cuidado com o idoso. "O trato com idosos passa a ser muito similar ao trato com crianças, relativos à hora do banho, à hora de comer, remédios, até mesmo à hora da caminhada ou de passear, como se fosse a hora de ir ao parquinho com as crianças", exemplifica.


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Para ela, o problema é quando esse cuidado excessivo ultrapassa a linha que põe o idoso como ser desejante, individual e subjetivo, que possui direitos e deveres. "Essa anulação do idoso como ser desejante se encaixa em um quadro de violência", garante Rebeca. "Vista de longe, enxerga-se apenas como carinho, atenção e cuidado, por isso que chamamos de violência velada ou simbólica. Mas se vista de perto, observa-se um abuso ao idoso, um abuso sobre suas capacidades cognitivas, sobre a sua personalidade, entre tudo, um ataque ao seu psiquismo", avalia.

Ela pontua que, ao falar sobre uma pessoa idosa, muitas vezes esquecemos de que se trata de um ser humano que já passou por todas as outras fases do desenvolvimento. "É alguém que nasceu e se tornou criança, enfrentou os conflitos da adolescência, foi adulto em uma construção social que exige atitudes e responsabilidades, enfrentou os conflitos da meia idade, incluindo a menopausa ou andropausa, e agora, a posteriori a todas essas mudanças, chega à velhice, ao envelhecimento do corpo e cérebro".

Fora os abusos e a violência física cometidos pelas famílias, ILPIs e sociedade, que são visíveis, ainda há outros tipos de violência que muitas vezes passam despercebidas. Trata-se da violência implícita, pois acomete os idosos de maneira velada, quando os mesmos são, supostamente, preservados de situações com as quais teriam condições cognitivas e emocionais de lidar. Alguns pesquisadores relacionam tal fato à infantilização do idoso, que acaba por privá-lo de um direito de participação e decisão.

Formas de infantilização do idoso

Há duas maneiras subjetivas de infantilizar o idoso, explica a psicóloga. A primeira seria a rejeição/negação ao seu envelhecimento, quando os familiares continuam a olhar para aquele indivíduo como alguém jovem e capaz de tudo, não assumindo suas limitações. A segunda é quando a sociedade designa o idoso como um ser impotente, incapaz e debilitado, tanto fisicamente como mentalmente, seja pela preservação excessiva do mesmo em relação a algo que ele tenha condições de lidar, seja pela postura de tratá-lo, referente a banho, alimentação, lazer, entre outros. "Nesse momento de cuidados ao idoso que está fragilizado, acabamos pondo-o em uma condição infantil", comenta a especialista.

Integrar a pessoa idosa à rotina e aos afazeres da casa é uma forma de melhorar a convivência e reforçar sua autonomia. Mas, para isso, é preciso assegurar que o idoso não corra risco de sofrer acidentes domésticos. Uma ótima opção é contratar um seguro que ofereça segurança financeira em caso de acidentes, além de serviços de assistência doméstica, como o Master Acidentes Domiciliares.

"A maneira mais comum de infantilizar o idoso é atestando a ele a incapacidade de gerir sua própria vida"

"A maneira mais comum de infantilizar o idoso é atestando a ele a incapacidade de gerir sua própria vida, retirando-o do seu habitat, mesmo que essa atitude seja visando ao bem-estar e à comodidade do mesmo, para casa de familiares ou para uma instituição asilar, para que possam receber melhores cuidados, desconsiderando totalmente os anseios do idoso. Com isso, a família toma as decisões por ele, manipulando-o como um objeto, retirando dele o direito de expressar as suas próprias vontades, anulando-o como ser de desejo", alerta.

A atitude de infantilizar o idoso também pode ser considerada uma forma de violência simbólica na utilização de uma linguagem carregada no diminutivo e modificando suas ações e postura no cotidiano. Segundo Rebeca, essa forma de violência tem sido exercitada em nome do carinho, do bem-estar e do amor dos cuidadores.

O que diz o Estatuto do Idoso?

Contudo, o artigo 10 do Estatuto do Idoso (2004) nos mostra que é obrigação da sociedade assegurar à pessoa idosa a liberdade, o respeito e a dignidade, como pessoa humana e sujeito de direitos civis, políticos, individuais e sociais, garantidas na Constituição e nas leis. Esse direito à liberdade inclui o direito à opinião e à expressão. "É o direito de expressão que é tirado do idoso quando o infantilizamos, tiramos deles a oportunidade de expressar suas especificidades", comenta a especialista.

Para ela, a velhice não precisa ser encarada de forma negativa, pois se trata apenas de mais uma das etapas naturais da vida. "É preciso ofertar a esse sujeito um lugar que lhe permita viver ao invés de sobreviver esperando a morte". Rebeca defende ainda que o tempo da velhice não pode ser vazio e nem sem significado, mas o contrário, deveria ser repleto de sentidos e realizações, havendo a possibilidade de um horizonte de futuro com a abertura para novas perspectivas.

"Pois é necessário lembrar que o corpo envelhece, mas o espírito pode permanecer jovem, sem que haja uma negação do envelhecimento, e sim uma aceitação das faltas que a velhice lhe proporciona".

Aceitando as limitações da idade, conclui a psicóloga, uma pessoa idosa poderá seguir em frente através de saídas positivas, que significam criatividade, e essa por sua vez, significa boa saúde mental.

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