Ao falarmos sobre as Atividades Básicas da Vida Diária (ABVDs), estamos nos referindo às atividades relacionadas ao cuidado de si, ou seja, as atividades que envolvem a higiene do corpo, vestuário e alimentação. Para muitos, essa nomenclatura é desconhecida, mas para as pessoas com deficiência em geral, é muito comum desde a tenra infância, uma vez que isto faz parte do trabalho de habilitação e reabilitação da Terapia Ocupacional (TO). Na APAE DE SÃO PAULO, por exemplo, a pessoa com deficiência realiza o tratamento com a TO ou são orientadas pelo profissional direta ou indiretamente (através de professores, agentes de saúde, acompanhantes terapêuticos etc.).

Na pessoa com Deficiência Intelectual (DI), em processo de envelhecimento, é necessário realizar uma avaliação funcional para obtenção de dados de habilidades e limitações na realização de tarefas da sua vida diária, analisando as capacidades e dificuldades em executar tarefas como vestir-se, comer, banhar-se, controlar os esfíncteres, entre outras. A avaliação também permite a visualização da necessidade de introdução de algum dispositivo de tecnologia assistiva para que a pessoa permaneça por mais tempo independente.

O processo de avaliação do estado funcional permite detectar se a pessoa com DI envelhecida tem capacidade de realizar de forma independente as ABVDs. Na análise dos dados, temos que levar em consideração e redobrar a atenção nos pontos avaliados, pois dependendo do grau de deficiência cognitiva e/ou da superproteção familiar, a pessoa com DI talvez nunca tenha executado de fato aquela tarefa solicitada. Então, como poderemos afirmar que ela está declinando naquela função?

A observação clínica do terapeuta ocupacional e a entrevista com a família ou cuidadores faz-se necessária e de suma importância para a percepção de certos pontos da avaliação. Podemos erroneamente induzir a reposta ao declínio se comparamos a pessoa com DI envelhecida a um idoso comum que normalmente faria a tarefa e deixa de fazê-la por questões de doenças limitantes ou demência.

O processo de declínio da habilidade de realizar as ABVDs deve ser comparado da pessoa com DI com ela mesma, ou seja, como ela executava a tarefa há algum tempo e como executa neste momento, observando-se o tempo de realização, sequência, capacidade de organização da tarefa, qualidade da execução, entre outras.

Muitas vezes, esperamos que o declínio ocorra de forma radical e que chame nossa atenção. Porém, a observação diária da família e dos cuidadores em detalhes da execução das tarefas de autocuidado pode nos trazer indícios do declínio da pessoa com DI em fase de envelhecimento. Outro fator a ser apontado é que as próprias famílias não são orientadas para esta nova forma de olhar, pois as mudanças sutis dentro do processo do fazer não são visualizadas ou não chamam a atenção porque ainda executam a tarefa. Somente se dão conta quando a tarefa não é mais cumprida de forma satisfatória ou nem mesmo são executadas. Nossa mensagem é para que todos observem o processo de execução e não somente o resultado final.

Por Andréa Mayumi
(Terapeuta ocupacional)

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