Eles vão bagunçar tudo, danificar a mobília da sua casa com dentes e unhas afiadas, comer seus calçados, rasgar suas roupas, almofadas e qualquer tecido que der sopa. Também vão fazer xixi e espalhar pelos por todos os cantos da sua casa. Vão latir, miar, piar e tirar o seu sono. Você vai reclamar, quem sabe até xingar um nome feio, mas vai amar esses bichinhos incondicionalmente. E logo vai entender que eles podem ser os melhores amigos que alguém pode ter.

São incontáveis os benefícios que um animal de estimação pode trazer para a vida de seus donos. Um simples carinho em um pet já provoca um efeito imediato no organismo humano, com uma descarga de hormônios responsáveis pelas sensações de bem-estar e segurança. Estudos mostram que essa interação traz benefícios à saúde física e emocional, principalmente de pessoas com mais idade, como redução da pressão arterial e controle da hipertensão e do estresse.

Popularmente conhecida como Pet Terapia, a Terapia Assistida por Animais (TAA) é um tratamento auxiliar para diversos tipos de doenças que vem sendo cada vez mais aplicada a pacientes psiquiátricos, hospitalizados e idosos. Além do bem-estar, ela promove a saúde emocional, física, social e cognitiva.

Um trabalho divulgado em 2017 pela Revisa de Medicina apontou que o pet é “o principal agente da terapia que funciona como ponte de ligação entre o tratamento e o idoso”. De acordo com o estudo, os bichinhos ajudam a evitar o estresse e a ansiedade, fatores que contribuem para o surgimento de doenças cardiovasculares.

“Com a presença de um animal, a atividade fica mais lúdica, como se o paciente fizesse fisioterapia sem perceber que está fazendo fisioterapia”

“Com a presença de um animal, a atividade fica mais lúdica, como se o paciente fizesse fisioterapia sem perceber que está fazendo fisioterapia”, explica professora de Medicina Veterinária na Universidade de Vila Velha (UVV), no Espírito Santo, Fernanda Vieira. Especialista em TAA, ela explica o motivo de tanta procura pela metodologia: “É divertido, o que estimula a realização da atividade”. De acordo com a especialista, o paciente “não associa a uma atividade chata da fisioterapia, mas a uma atividade com um cachorro”, pontua.

Há 13 anos, Fernanda coordena um grupo de pesquisa sobre o tema na UVV. O grupo também desenvolve atividades de TAA com crianças e idosos.

“Começamos com o projeto Bicho Solidário, que funcionou por cinco anos com idosos de uma instituição e também com crianças cadeirantes, vítimas da mielomeningocele. Oferecíamos, às crianças, fisioterapia assistida por animais, que aconteciam em sessões semanais, para as quais contávamos com o apoio de cães, gatos e de uma calopsita”, conta Fernanda.

Já com os idosos, o grupo realizava apenas atividades assistidas por animais. “Visitávamos o lar de idosos aos sábados pela manhã onde permanecíamos por cerca de uma hora e meia. O incentivo era uma coisa mais de carinho. Alguns se sentiam motivados a fazer uma caminhada com o animal”, explica. “Os cuidadores relatavam que alguns idoso que não gostavam de caminhar, se ofereciam para dar uma volta com os cachorros no dia das atividades”.


Fernanda também destaca outro importante benefício às pessoas com mais idade, desta vez ligado à manutenção da memória. “Acho interessante que sempre eles remetiam a alguma lembrança do passado, de um cachorrinho que tinham, lembravam do nome e de toda uma história com aquele animal do passado, o que auxiliava de maneira bastante eficaz no exercício de memória”, acrescenta.

Mas depois de cinco anos de intensas atividades, o Bicho Solidário foi interrompido em 2010. De acordo com Fernanda, o motivo foi o surgimento de questões burocráticas dentro da universidade. “O projeto já tinha muito tempo e eles queriam dar lugar a novos estudos”, lamentou.

Este ano, o grupo conseguiu retomar as atividades com um novo projeto, o Animais Terapeutas, que oferece, a crianças com Síndrome de Down, sessões de fisioterapia, fonoaudiologia e terapia ocupacional.

Por ora, o projeto não irá abranger o atendimento a idosos por questões logísticas. “Dependemos de voluntários para o trabalho, em sua maioria, alunos dos nossos cursos, que precisam acompanhar o animal durante todo o período da terapia. Outro complicador é que o animal precisa estar de banho tomado no dia da terapia, e muitos tutores não têm disponibilidade de acompanhar o animal ao pet shop ou dar banho em casa”. As sessões acontecem às quintas-feiras, das 19h às 21h, na Faculdade de Medicina Veterinária da UVV.

Outras iniciativas

E são muitas as instituições pelo país que já fazem uso da TAA. Desde 2009, o Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, permite a entrada de bichos de estimação, só necessitando da autorização prévia do médico responsável pelo paciente. Para tomar essa decisão, a direção do hospital se baseou em diversos estudos antes de criar um fluxo e uma rotina, com procedimentos claramente definidos e institucionalizados.

Outra instituição que também adotou prática semelhante foi a Cora Residencial Senior. Instituição de longa permanência de idosos, com várias filiais em São Paulo, a Cora recebe todo mês em suas unidades a visita dos pets da Cão Cidadão que alegram as tardes de seus residentes.

“Hoje sabemos que o animal de estimação melhora vários aspectos da saúde do idoso. Os ganhos são percebidos no humor, na memória, na socialização e até mesmo no melhor controle de doenças crônicas como a pressão alta e o diabetes”, afirma Rodrigo César Schiocchet da Costa, geriatra da Cora. Ele conta que, na literatura médica, há diversos casos de aumento na funcionalidade e na independência de idosos que passaram a ter contato com animais, o que reforça a importância dessa relação.

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