Nossa geração, que estudou em escola pública, aprendeu francês no ginásio e só conhecia o mundo pelos livros de geografia, pois no máximo viajava pra casa dos tios no interior, pôde oferecer aos filhos muito mais.

Estimulamos a independência deles, criamos oportunidades, colégio particular, aula de inglês, música, esportes, computador, viagens de avião, intercâmbio em outro país pra ficarem fluentes no idioma.

Mas não esperávamos o óbvio: o mundo pra eles virou uma aldeia. Tailândia, Holanda, China ou Austrália saíram do mapa para a esquina de casa, tornaram-se bairros bons de morar. Nossos filhos bateram asas pelas galáxias afora e foram criar raízes longe de nós.

Voltaram só de visita pra nos apresentar um gringo de olhos azuis e logo netinhos loiros, que hoje miram admirados os avós alienígenas, habitantes de um país exótico no Sul do globo e falantes do tal português, língua difícil demais.

E a gente que sonhava com família reunida no almoço de domingo, aniversário de neto com brigadeiro e guaraná, contar histórias para eles... A gente faz o quê?

Quem disse que filho se cria para o mundo, hein? Lorota pura! A gente esperneia, chora, deprime. Aos poucos – tem jeito? – vai aceitando. No fim, dá graças à Santa Tecnologia, que permite amenizar as saudades e acompanhar o crescimento das crianças.

Até os dois anos de idade, meu neto Leo achava que a avó morava no computador. Foi descobrir minha existência real no aeroporto, nos Estados Unidos, onde me esperava com os pais para passar uns dias com eles. Seu espanto foi tão grande, que arrancou gargalhadas de todos.

“Vovó???!!!... can’t believe it!!!”, exclamou a figurinha, correndo pra me abraçar.

Depois do Leo vieram outro americaninho e duas australianas –por sorte tem uma brasileirinha também. Então, morar no computador é a saída. De outra forma, como veríamos os boys jogando futebol? Ganhando troféus na natação? O cupcake dos aniversários? O teatro das girls na escola, em Cingapura? – sim, a família australiana vive na Ásia! Vê-las dançar e cantar “Garota de Ipanema” em inglês? Conhecer a cachorrinha que chegou? Não dá pra abraçar ninguém, mas já é alguma coisa...

Muitos dizem que família espalhada pelo mundo tem também suas vantagens. Em parte, concordo.

Primeiro: a gente sempre tem pra onde viajar.

Segundo: os raros encontros “ao vivo”, no Brasil, são pura emoção e encantamento.

Terceiro: somos obrigados a encarar desafios. Estudar inglês, por exemplo. Há pouco voltei a ser student com livro, caderno, lição de casa e jovens colegas de classe.

Aliás, amanhã tem prova. Vou parando por aqui, bora estudar, gente...

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