Essas cenas são mais comuns do que se imagina: antes, o companheiro era a melhor companhia para conhecer novos lugares, ir a jantares com amigos, ajudar a arrumar a casa assistir a um filme no cinema; depois, com o tempo, parece que os únicos interesses dele são redes sociais e futebol na TV.

A “síndrome do sofá” – em que o móvel parece ser o único atrativo nos momentos vagos – não ataca somente os homens. Mas são as mulheres que expõem a situação com mais frequência do que eles – ainda que seja anonimamente em fóruns de discussão na internet.

“Ele fica sentado o dia inteiro, só pedindo as coisas para mim, vendo jogo na televisão e mexendo no Facebook”

“Às vezes me sinto mãe dele, é um saco”, reclama Michelle C., 47 anos. Casada há seis anos e com um filho de 3 anos, a maquiadora e assistente de comunicação diz que o marido não levanta do sofá nem para pegar um copo de água. “No começo eu gostava de bancar a esposinha, mas, com o tempo, passei a me revoltar.”

Trabalhando em dois lugares diferentes e sem ajuda nas tarefas domésticas, ela diz fazer tudo sozinha. “Ele fica sentado o dia inteiro, só pedindo as coisas para mim, vendo jogo na televisão e mexendo no Facebook.”

Para a psicóloga e especialista em terapia de casais Fernanda Brito, as queixas existem dos dois lados – tanto do deles, quando do delas. Mas têm fundos diferentes.

As reclamações de parte delas giram em torno de frases como “ele não me olha mais”, “não quer mais saber de mim”, “nunca me valoriza”. As deles passam por “ela não reconhece o que faço”.

“As pessoas casadas têm dificuldade de ter uma vida individual. E aí a gente se sente menos produtivo, menos reconhecido”

A psicóloga explica que o homem tende a sentir que a parceira exige muito dele – o que faz com que se sinta enfraquecido. A mulher, complementa, pode acreditar que o parceiro se interessa por outras pessoas ou hobbies – o que pode provocar insegurança.

De acordo com a especialista, a aposentadoria pode ser um fator que agrava o problema. “Ter uma ‘vida útil’ está muito relacionado a produzir algo para a sociedade, ou seja, existe um vínculo com o trabalho.”


Para tentar resolver os conflitos, muitas mulheres tentam conversar com o parceiro, o que nem sempre ajuda a solucionar o problema. Michelle, por exemplo, já tentou falar o que ela estava sentindo, mas a iniciativa sempre acaba em discussão. “Aí desisti.”

Segundo a psicóloga, não existe uma receita certa para solucionar a vida de um casal, mas uma solução válida é a terapia de casal. Além disso, a especialista aconselha conhecer pessoas novas, fazer mais atividades e ter mais tempo para se conhecer.

“As pessoas casadas têm dificuldade de ter uma vida individual, de ter um círculo de amizades diferente do outro. E aí a gente se sente menos produtivo, menos reconhecido.”

“A gente discute 100 vezes por dia, mas se ama 200”

Esta solução para Viviane e Oscar Sammut, casados há 57 anos, parece funcionar. Com 76 e 87 anos, respectivamente, ambos são muito ativos e mantêm uma vida conjunta, mas com um certo grau de separação.

Oscar dá aula de inglês, francês e italiano, ajuda a esposa nas tarefas de casa, lava a louça, faz compras e é responsável pelos pagamentos e dirige, enquanto ela faz hidroginástica, pilates e todo domingo se reúne com suas amigas para jogar tranca, além de trabalhar com vendas.

Viviane diz que o desgaste em um relacionamento não pode ser evitado. Não é incomum uma briguinha, mas eles sempre acabam se entendendo: “A gente discute 100 vezes por dia, mas se ama 200.”

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