Há alguns anos, um amigo jornalista foi atingido por uma bala perdida numa importante via do Rio de Janeiro. Ela achou a cabeça do seu fêmur, transpassou sua virilha e, por ser de fuzil, causou grande estrago, inclusive no seu aparelho reprodutor. Na ocasião, devia ter uns 60 anos e sua recuperação foi longa e sofrida.

Fui visitá-lo no hospital ainda sem saber a extensão dos estragos, se teria algum risco de impotência e não querendo constrangê-lo, deixei-o à vontade para contar o que havia acontecido. Apesar de ele demonstrar tranquilidade e otimismo, confidenciou-me que poderia ter problemas com suas atividades sexuais. Foi uma conversa natural, mas a verdade é que ninguém está preparado para uma situação dessa.

Atordoado, resolvi abordar o assunto, um tabu para a maioria dos homens, com humor: “Fique tranquilo, meu amigo. Se você ficar broxa vai se livrar de um problemão. Ejaculação precoce? Nunca mais! Dificuldade de ereção? Seus problemas acabaram!”, conclui já às gargalhadas. Rimos longamente das nossas idiossincrasias penianas. Aquilo que nos proporciona prazer e alegrias, é também fonte das mais recônditas preocupações masculinas.

dura vida do falo

Créditos: Marta Pons Moreta / shutterstock

Minha opinião: ‘Ele’ sempre foi um enorme peso para nós, homens. A obrigação de estar sempre pronto para o trabalho, independentemente da situação, é um bom indicador disso. Quando nega fogo, lascou! É o ápice da humilhação masculina. Dizem que o pênis é fundamental para formação do caráter. Não tenho certeza se isso procede, mas é bem instigante a possibilidade. Outra teoria perturbadora diz respeito ao sequestro da amígdala pela ‘cabeça de baixo’. A amígdala é uma região do cérebro que faz parte do sistema límbico e é um importante centro regulador do comportamento sexual. Pense um pouco e você se lembrará de alguém que já passou por isso.


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Crescemos acreditando que mastro em pé é demonstração de poder e diploma de amantes infalíveis. Não é bem assim. Uma amiga das antigas, que sempre considerei exemplo de mulher resolvida, dizia que importante é a coisa ir crescendo aos poucos. Brincava dizendo: “Detesto ser espetada antes do tempo! Acho mais legal quando a brincadeira começa com o ‘dito’ sonolento, valorizando os toques, com mais carícias e menos estocadas. Acredito que bom mesmo é deixar que as coisas aconteçam lenta e naturalmente”. Não tenho certeza, mas acho que a maioria das mulheres concorda com ela.

Equilibrar a tênue relação entre o falo e os sentimentos é um grande desafio para os homens. Quem conseguir certamente vai estar mais preparado para o momento que, seja pela idade ou saúde, a dificuldade de ereção e a impotência chegarem. Elas não são uma regra, hoje tem drogas e tratamentos, mas na maioria dos homens começa após os 60 anos. No caso da idade, ela vem aos poucos. O ‘galho’ que era de maçaranduba, duro feito pedra, aos poucos vai virando de goiabeira, bem flexível. Posso afirmar, por experiência própria, que não é o fim do mundo. Como a natureza é sábia e a maturidade uma dádiva, as transformações vão acontecendo aos poucos, dando oportunidade de nos adaptarmos, de desenvolvermos novas habilidades, de controlarmos a ansiedade e de viver o prazer num outro ritmo. Enfim, com um pouco de esforço é possível enfrentar a transição sem traumas ou frustrações. Ah sim, os remédios ajudam, mas se não houver desejo são simplesmente inócuos.

dura vida do falo

Créditos: Kaspars Grinvalds / shutterstock

Por fim, duas histórias engraçadas do poeta e compositor, Vinicius de Moraes, que se encaixam bem nesta temática.

Certa vez, um grupo de amigos conversava sobre vida após a morte, como gostariam de voltar caso reencarnassem, Vinicius pensa e diz: “Gostaria de voltar do mesmo jeito, só com o pinto um pouquinho maior”. Em outra ocasião, num voo, o cronista Antônio Maria, muito amigo de Vinícius, sentou-se ao lado de uma bela mulher que lia um livro de poesias de Vinicius. Para esquecer o medo que tinha de avião Antônio Maria puxou conversa: “Você já viu uma foto do Vinícius?”. No que ela respondeu que não, ele rapidinho disse: “Eu sou Vinícius de Moraes e fico feliz de você estar lendo um livro meu”. Depois de muita conversa os dois terminaram a noite juntos, na cama. No dia seguinte, Antônio Maria telefonou para Vinícius contando a história. O Poetinha quis saber mais: “Conta aí Maria, como eu fui?” Ao que o cronista respondeu: “No começo foi bem, um grande amante! Ela era maravilhosa, linda mesmo! Mas na hora H, lamento dizer meu caro, você broxou”.

O que importa é se preparar para a maturidade, de preferência sem perder a graça e o bom humor.

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