O número de pedidos de divórcio cresceu na China na pandemia de Covid-19. Os relatos de jornais locais ou voltados para a comunidade internacional, como o “The Global Times”, revelam que esse movimento foi acentuado em boa parte do país – em alguns locais, os escritórios do governo responsáveis pelas separações estavam sem horários vagos para atendimento pelas próximas semanas.

Um dos motivos para esse aumento de rupturas nas relações é, obviamente, o estresse externo, devido à ameaça do novo coronavírus. Outro é a convivência forçada, por 24 horas, com as manias e as idiossincrasias das pessoas, segundo a psicóloga e coach especializada em relacionamentos Renata de Azevedo. São coisas que já incomodavam, mas com as quais não era preciso lidar permanentemente. “Agora, você está tendo que conviver com elas durante o dia todo.”


Garanta proteção e tranquilidade financeira para você e sua família com um bom seguro de vida. Conheça a WinSocial, a primeira seguradora do Brasil que oferece descontos de acordo com seus hábitos saudáveis. 


Somado a isso estão outras questões que surgiram com o confinamento, como a divisão das tarefas de casa, os cuidados com os filhos e o trabalho em casa – ou a falta dele. Tudo pode influenciar negativamente, diz a psicóloga, “principalmente se a relação já não estava boa”.

Com mais tempo, num processo de autoconhecimento de si e da relação possibilitado pelo isolamento social, pode-se chegar a algumas descobertas, segundo o filósofo e psicanalista Fabiano de Abreu. Muitas pessoas podem perceber que o cotidiano atribulado as deixou preguiçosas ou sem tempo para o relacionamento. “Não se parou para avaliar e refletir no porquê de estar junto.” Azevedo completa: “Sse o casal tava com alguma questão debaixo do tapete, ela virá à tona nesse momento”.

Abreu faz um alerta: é preciso considerar que a quarentena é um momento atípico, que envolve a ansiedade da clausura, o medo em relação a dificuldades econômicas e o temor de uma doença. Tudo isso pode despertar, segundo ele, emoções não desejadas. “Elas devem ser filtradas e ponderadas com calma” antes de a pessoa tomar qualquer decisão.

Tentativa a dois

Se uma das pessoas sente que há chance de o relacionamento se manter e se solidificar, a opinião de Abreu é a de que o casal tente reparar essas fendas antes de pensar em divórcio. “Não se engane pelo estresse do momento atual e saiba separar as coisas”, recomenda ele.

Não é, contudo, um movimento solitário. Os dois devem estar engajados e dispostos a investir nessa tentativa. “Pense que duas cabeças pensam melhor que uma e, juntos, podem vencer este momento e preparar o futuro”, destaca o psicanalista.

Para que esse esforço tenha mais chances de dar resultado, é bom ter em mente algumas regras de convivência. São elas:

O que fazer

  • Respeitar o espaço e o momento do outro;
  • Trabalhar em conjunto;
  • Buscar juntos funções que deixem a casa e o dia organizados;
  • Conversar, caso note que a pessoa está bitolada em conteúdos negativos na internet ou não está bem;
  • Apoiar, quando a pessoa está nervosa. “A conversa dentro de um raciocínio lógico é a maneira mais inteligente de chegar a um acordo”, diz Abreu;
  • Pensar conjuntamente em formas de superar a crise;
  • Falar sobre o que está acontecendo, os medos e as angústias de cada um. “Haverá muitas oportunidades para estar em contato com o que incomoda e para falar sobre o assunto”, diz Azevedo;
  • Relembrar bons momentos a dois.

O que não fazer

  • Gritar;
  • Descontar o estresse ou a irritação em outra pessoa;
  • Concentrar os cuidados com os filhos em um só;
  • Manter as tarefas domésticas para apenas uma pessoa;
  • Discutir por bobagens, como toalha molhada em cima da cama ou levar o lixo para fora.

A psicóloga sugere que o casal tente manter no lar um “espaço de paz, de refúgio, de coisa boa, senão a gente vai ter só contato com coisas negativas”. E complementa: “É legal a gente ver no outro esse momento de carinho, de calma e tranquilidade”.

O filósofo recomenda ter em mente que todas as relações são afetadas. “Pode ser que um amigo não entenda a sua mudança comportamental. Com o tempo, a quarentena fará com que se adapte à solidão e pode ser que, ao ver ou falar com ele, você pareça mais distante. Tem que fazer o outro compreender que as suas mudanças comportamentais são devido ao momento.”

Caminho para o divórcio

O contrário pode acontecer: a convivência constante pode fortalecer a relação. Para o filósofo e psicanalista, a desconexão da rotina resulta num sentimento de união. “Existem casais que, na adversidade, não cedem aos impulsos e usam o momento para pensar em dupla. Usam a quarentena para delinear estratégias, buscando um ponto de equilíbrio.”

Mas, se não for esse o caso ou se as tentativas de reconexão não surtirem efeito, é bom ponderar. “Se não consegue mesmo conviver com a pessoa, se a presença incomoda, se acordar ao lado não te faz bem, então não tem jeito”, afirma ele. E completa: “Dê a liberdade para a pessoa buscar quem a deixe mais feliz”.

Compartilhe com seus amigos

Receba os conteúdos do Instituto de Longevidade em seu e-mail. Inscreva-se: