Eles deixam de telefonar. Não encontram tempo para ficarem juntos. Preferem ver TV a conversar. Oferecem pouco suporte emocional ou financeiro. Sim, muitos pais têm queixas, que vêm acompanhadas principalmente da sensação de distanciamento dos filhos adultos.

É natural que a proximidade física se perca quando os filhos vão morar em outro lugar, sinaliza o psicólogo Roberto Debski. “É normal, saudável e esperado que saiam de casa para viver suas vidas, e a partir de então a relação com os pais muda.”

Os filhos, complementa Debski, trabalham, têm suas próprias relações afetivas, suas amizades, outros interesses. “O tempo passa a ficar mais limitado, mas isso não quer dizer que o afeto e o amor entre filhos e pais tenha sido modificado”, considera.

O problema, diz ele, é que há pais que viveram muito tempo em função dos filhos. Quando alçam voo por conta própria, fica a sensação de vazio – que antes era preenchida por eles.

“Quando os filhos saem de casa, se os pais tinham uma vida própria com suas atividades pessoais, profissionais, boa relação entre si, sentirão a mudança, mas continuarão se sentindo bem, mantendo suas funções e atividades, priorizando a relação do casal, descobrindo novas atividades, sem a presença dos filhos”, avalia o psicólogo.

No entanto, se os pais passaram décadas em função da prole, “essa falta será sentida como sofrimento”. “Uma relação de dependência pode se revelar, gerando ressentimentos, mágoas, culpa, cobranças e prejuízo da relação entre eles” – e ampliando ainda mais a sensação de distanciamento dos filhos adultos.

Outros tempos

Há algumas décadas, diz Debski, as famílias tinham uma vida mais caseira, com menos atividades, e se mantinham mais próximas – o que contribui para que a sensação de distanciamento seja maior hoje.

“O amor adulto é um amor que se encontra dentro de cada um, não necessita o tempo todo estar perto”

Mas a proximidade física não significa proximidade emocional e afetiva. Muitos vivem juntos na mesma casa, porém, afetivamente, há um abismo. “Quando os filhos saem de casa, a separação só expõe a distância que já existia.”

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Os vínculos, destaca ele, sempre dependem da relação que foi criada e mantida – e não da distância. “O amor adulto é um amor que se encontra dentro de cada um, não necessita o tempo todo estar perto.”

Possíveis causas

Debski explica que é preciso avaliar cada caso individualmente para explicar a razão do distanciamento dos filhos adultos, mas levanta algumas hipóteses:

- rigidez na relação;

- muita liberdade;

- cobranças exageradas;

- geração de expectativas irreais nos filhos;

- pais que projetaram seus projetos e desejos nos filhos;

- pais que buscavam filhos para suprir suas carências;

- filhos que queriam cuidar de seus pais ou que preenchiam vazios na relação de seus pais, entre outras possibilidades.

Como resolver?

A partir do momento que pais e filhos notam o distanciamento, se há amor na relação, ele pode ser cuidado para que transforme a vivência em algo saudável, não doentia ou disfuncional.

“Por vezes, há a necessidade de procurar auxílio profissional, de um psicoterapeuta, de uma terapia familiar ou uma constelação familiar para olhar de onde vem a origem desse desequilíbrio nas relações”, destaca o psicólogo.

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