Assim que o coronavírus chegou ao Brasil, fui pega de surpresa com a seguinte pergunta: “O que você vai fazer assim que a pandemia terminar?”. Já faz bastante tempo, mas me lembro muito bem da minha resposta: “Quero encontrar meus pais e comer pamonha”.

Nasci em Goiânia, mas moro no Rio há seis anos. Meus pais permaneceram por lá, a alguns bons quilômetros, mas a apenas um pulo de avião (ou dois, já que o voo direto entre as duas cidades é um pouco difícil). Apesar da distância, era uma saudade que conseguíamos vencer de tempos em tempos.

Bem, não vejo meus pais há mais de um ano. E não como pamonha há mais tempo que isso. Os cariocas que me perdoem, mas para uma goiana raiz, não existe comida melhor neste mundo.

Antes, quando sentia saudades, era algo momentâneo, com a certeza de que em breve estaríamos juntos. Agora, o aperto no peito é maior, fortalecido pela incerteza de quando poderei visitar minha terra de novo. E, acreditem, é um aperto diário, alguns dias mais suportáveis, outros dias nem tanto.

Não me levem a mal, não quero deixar ninguém soluçando de tristeza com o meu texto. Minha intenção aqui é apenas lembrar, já que estamos falando de saudades. Não é mesmo?

Passamos a vida toda presos em um redemoinho de obrigações e pressa. Por isso, às vezes não nos damos conta dos pequenos momentos que podem até passar desapercebidos, mas são responsáveis por preencher aquele buraquinho no coração de calor e conforto.

Como sentar na varanda com a minha mãe, bebendo uma cerveja e vendo o sol se por. Ou fazer tai chi chuan com o meu pai logo ao amanhecer e depois caminhar pelo parque. Ou segurar a mão da minha sobrinha enquanto ela sobe uma árvore. Ou pegar o meu sobrinho no colo pela primeira vez.

Ou embarcar num avião de Goiânia para o Rio com uma pequena bagagem de mão para as roupas e uma mala grande cheia de pamonha. Acontece.

A minha saudade, hoje, é de momentos assim. Do dia a dia, de compartilhar o tempo e de construir lembranças juntos. Talvez só por alguns minutos, uma hora, um instante sem muito significado, mas com todo o significado do mundo. De segurar a mão de quem eu amo e me sentir feliz com apenas isso.

Hoje, sou feita puramente de saudade, mas também carrego um pouquinho de esperança de que em breve poderemos nos reencontrar. Quem sabe comendo uma boa pamonha com bastante queijo numa estrada entre Goiânia e Rio de Janeiro.

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