A AARP é provedora deste conteúdo

Quando leciono sobre o tempo, começo perguntando a cada turma: “Você tem tempo suficiente no seu dia a dia?”. Invariavelmente, poucos levantam a mão – com frequência, apenas os que já se aposentaram, ainda que sempre, quando perguntados como se sentem sobre ter esse tempo, haja um sentimento de ansiedade, culpa ou tristeza.

Na cultura atual, somos definidos pelo que fazemos e pelo quão produtivos somos – quando somos privados disso, nos sentimos perdidos e sem propósito. Nós nos tornamos “fazedores humanos” em vez de “seres humanos”. Reconquistar nossa alegria e propósito na vida requer uma nova relação com o tempo.

Tudo tem se tornado programado – trabalho, momento em família, responsabilidades sociais, tarefas diárias e mesmo diversão. Ter mais tempo é algo que todos queremos, mas, quando isso chega sem ser anunciado, nós o preenchemos como nossa lista de afazeres ou nos sentimos ansiosos sobre tê-lo, em vez de nos deliciarmos com um pouco de tempo livre.

Como você se sente quando está preso no trânsito ou esperando 30 minutos para ser atendido no consultório médico? A vida inevitavelmente nos dá esses momentos, mas, em vez de relaxar e aproveitar essa pausa em nossas vidas agitadas, nós reclamamos ou ficamos tristes ou ansiosos. Não que eu dirija procurando congestionamentos. Mas mudar a relação moderna de luta contra o tempo para relaxar e para aproveitá-lo requer que aprendamos a saborear a pausa.

Um amigo recentemente confidenciou que seu único momento para sentar e confortavelmente ler nesses dias é durante suas frequentes viagens de avião. É um dos poucos períodos do dia em que ele se sente sozinho e fora de alcance do contínuo sempre ligado e sempre disponível. Não há mais a inatividade – pouco tempo para uma refeição tranquila ou poucos momentos de lazer com nada para fazer.

Ligadas ao celular, as pessoas não passeiam mais pela rua aproveitando o dia. Em vez disso, elas são consumidas pelo telefone, pelo Facebook ou por outros aplicativos de mensagens.

“Não importa quão bem e saudáveis vivamos, a vida é um evento de tempo limitado – para todos”

Como consultor e médico, leciono em programas sobre tempo e longevidade, ambos tópicos que ganham grande interesse conforme envelhecemos. No entanto, não importa quão bem e saudáveis vivamos, a vida é um evento de tempo limitado – para todos.

Enquanto dinheiro, fama, projetos e trabalho são feitos sem limite e podem ser reabastecidos, isso não acontece com o tempo. A estratégia moderna para superar esse problema tem uma aparência de sucesso, mas é uma ilusão que, progressivamente, causa mais estresse, desconforto e até mesmo doenças no decorrer da vida.

Muitos de nós têm adotado a constante estratégia de ser multitarefas e de acreditar que, se finalizarmos tudo mais rápida e eficientemente, então teremos mais tempo. Perceba essa insensatez em sua própria vida. Entramos numa esteira de fama, fortuna e realização que só fica mais rápida – e não nos atrevemos a sair dela, mesmo por uma xícara de chá ou um papo amigável com um vizinho ou um ente querido. Desde a infância, somos encorajados a nos “tornar alguém”, com o sucesso na vida sendo medido por nossas conquistas externas no mundo.

Sempre consulto pessoas bem-sucedidas, mas que se sentem vazias, como um fantasma faminto, vorazmente produtivas, mas nunca se sentindo satisfeitas com o que obtêm. Nós investimos muito de nosso tempo mantendo essa identidade, restando muito pouco para as simples alegrias da vida.

Na era agrária, as pessoas trabalhavam duro, apesar de estudos mostrarem que, naquela época, era empregado menos tempo para o trabalho do que nos tempos modernos – e as poucas tribos remanescentes de caça mostram mais tempo empregado para diversão e lazer que nossos modernos e avançados contemporâneos.

“O que tem sentido na vida não é a quantidade de nosso tempo, mas a qualidade e o fazer algo que importe muito para nós”

Nenhuma última palavra revela o desejo por ter gasto mais tempo no escritório. O que tem sentido na vida não é a quantidade de nosso tempo, mas a qualidade e o fazer algo que importe muito para nós. O que você está fazendo com o seu dia? Como você está usando seu tempo, especialmente sabendo que esse momento não voltará?

Com foco em estar ocupados, nós gostamos de aprender a fazer malabarismos com três bolas e depois dominar quatro ou cinco bolas. Uma vez que isso foi atingido, qual é a recompensa? A sexta bola. Não há fim para a quantidade dessas bolas na vida. E não há problema em jogá-las para cima. O estressante é mantê-las no ar todas de uma vez.

“Cultivar uma grande consciência do momento presente é o primeiro passo em direção a um grande relaxamento e apreciação de nossas vidas”

O agora é tudo o que existe. Cultivar uma grande consciência do momento presente é o primeiro passo em direção a um grande relaxamento e apreciação de nossas vidas. Sem essa capacidade, continuamos nos sentindo estressados sobre algo que não está saindo da maneira que queremos.

O estresse é uma reação e, como tal, nós temos a habilidade de liberá-la. Ele é simplesmente nossa resistência ao que é no momento presente. Todo ele está relacionado a querer que as coisas sejam diferentes do que estão agora.

A capacidade de planejar e alterar nossas condições para melhor é claramente um traço memorável que os humanos desenvolveram. Embora consigamos o melhor em mudar nossa realidade, isso nos leva à menor aceitação de uma vida OK, assim como ela é agora.

A menos que possamos dominar essa aceitação, o estresse será um ponto fundamental na vida de uma pessoa. O autor Alan Cohen capturou bem essa situação no título de um de seus livros: “Você é Feliz como seu Cachorro?”.

Estamos todos cientes que a vida tem ficado mais rápida. O antropólogo Edward Hall declarou que você pode conhecer o ritmo de qualquer sociedade ouvindo sua música. Desnecessário dizer, não vivemos em um tempo de Bach ou Beethoven – o passo da vida segue um rápido disco music ou uma batida de rap como o som de uma metralhadora atirando.

A boa notícia é que existe um antídoto simples e reaprender é fácil – só requer uma mudança nos hábitos de como nos relacionamos com o tempo.

Encontrar o equilíbrio na vida é similar a pedalar uma bicicleta de 20 marchas. O verdadeiro sucesso, a profunda satisfação e a longevidade são promovidos aprendendo-se a mudar as marchas para encontrar o melhor ritmo para cada momento.

Se for subindo uma montanha íngreme, indo por um declive ou pedalando por uma trilha sinuosa, a pessoa pode mudar a marcha e pedalar com facilidade. A vida é uma maratona e corrê-la continuamente a toda velocidade é o que leva a ataques cardíacos e, assim, morrer antes da linha de chegada.

Aprender a mudar as marchas permite nos mostrar diferentemente e mais apropriadamente em cada momento. O período mais frequente de discussão entre casais é quando um dos parceiros chega em casa após o trabalho. Estar em ritmos diferentes causa fricção e, no fim, é o motivo de negociações ou relacionamentos terminarem.

No entanto, todos nós conhecemos a sensação de “ir conforme a maré”, seja nos esportes, seja no trabalho, seja passeando pela rua. Nós nos sentimos mais felizes com as pessoas à nossa volta, à vontade, e parece que nossos problemas são solucionados mais facilmente e que nosso caminho parece estar mais aberto, sem preocupações. Isso pode ser aprendido e se tornar mais frequente em nossas vidas. Esses momentos de graça, quando o tempo flui facilmente, acrescentam um dinamismo à nossa vida, reenergizam nossas sempre descarregadas baterias internas e nós nos tornamos mais criativos sem qualquer pressa.

O renomado pianista Artur Rubinstein uma vez foi perguntado por um admirador fervoroso: “Como você lida tão bem com as notas?”. Ele respondeu: “Não lido melhor com as notas do que muitos outros, mas as pausas, ah!, é onde a arte mora”.

Eu literalmente acabei de escrever a linha acima enquanto espero por um voo internacional de volta aos Estados Unidos, onde compromissos me esperam amanhã. Em vez de ouvir o anúncio de embarque, fomos informados de que o voo será cancelado até amanhã de manhã. Mas o que acontece com nossos planos quando a vida intervém? Irritação e aborrecimento iniciais podem ser a primeira experiência, mas, para alguns, isso pode durar a noite toda e arruinar o dia seguinte. Eu respirei algumas vezes para relaxar e percebi que tudo ainda estava bem no mundo. Fui dominado por uma deliciosa sensação de liberdade.

Quando era mais jovem, eu teria permanecido chateado e bravo quando algo parecido acontecesse. Enquanto a sociedade foca a juventude, ao longo do tempo nós podemos aprender a aceitar a vida com todas as voltas e reviravoltas. E a vida, de fato, se torna mais fácil e mais agradável.

“A sabedoria vem através de muitas experiências de vida e do aprendizado de como conquistar mais com menos esforço e mais facilidade”

O envelhecimento bem-sucedido é dar o ritmo a si mesmo. A sabedoria vem através de muitas experiências de vida e do aprendizado de como conquistar mais com menos esforço e mais facilidade. E, enquanto nos abrimos nesse processo de aceitar a vida como ela é, há mais alegria e paz – e mais tempo.

Há poucos reorientadores de tempo que podem mudar dramaticamente e nos ajudar na relação com o tempo e conosco, criando assim mais alegria e liberdade na vida.

Torne-se o mestre da pausa – seja dizendo uma prece antes da refeição, seja respirando algumas vezes sem pressa antes de uma reunião ou um telefonema. Encontre pausas durante o dia para iniciar um ritmo mais relaxado. Escute música clássica ou pacífica. Aprenda a mudar seu ritmo em vez de ser pego em alta velocidade todo o tempo.

“Encontre algo que te acenda e te faça se sentir bem; e, se nada vier à mente, pratique a desaceleração até que você encontre isso”

Tire um tempo para você – priorizamos as nossas responsabilidades deixando muito pouco para nós. Transforme em uma rotina diária ter tempo para algo que você aprecie sem nenhuma produtividade vinculada a isso. Simplesmente encontre algo que te acenda e te faça se sentir bem. E, se nada vier à mente, pratique a desaceleração até que você encontre isso.

Desligue seus equipamentos eletrônicos por uma hora enquanto está comendo ou passando um tempo com a família ou simplesmente para ter um momento calmo consigo mesmo e o que o interesse nesse momento.

“Estudos mostram que envelhecemos melhor estando abertos a coisas novas em vez de ficarmos presos ao costume do mesmo de sempre”

Programe um momento espontâneo. Você conhece o sentimento maravilhoso de um “snow day” [dia em que escolas, comércios e outros estabelecimentos são fechados devido à neve]? Então crie um. Deixe o escritório ao meio-dia sem planos e apenas explore ou arrume um tempo com seu parceiro para fazer algo que nunca fizeram ou que há muito não fazem.

Estudos mostram que envelhecemos melhor estando abertos a coisas novas em vez de ficarmos presos ao costume do “mesmo de sempre”.

Tente ioga ou meditação para encontrar equilíbrio no ritmo frenético. Vá navegar, assistir uma ópera ou andar pelos bosques. Há investimentos em nós que nos reenergizam e criam uma saudável e vigorosa longevidade.

Copyright © 2013 por Stephan Rechtschaffen /AARP. Todos os direitos reservados.

Compartilhe com seus amigos