“Caminhando contra o vento, sem lenço, sem documento” (Caetano Veloso)

Nos meus imberbes dezoito anos escutei pela prima este verso e não entendi nada. Fiquei atônito quando o público, ao findar a “música” aplaudia de pé gritando já ganhou, já ganhou. Será que só eu, burro, não entendi patavina do que disse esse baianinho de cabelo enrolado? Ou todos os ouvintes, naquele longínquo festival da música popular brasileira, seriam geniais, ou também não entenderam, mas gostaram do embalo da música.

Mas amadureci, assim como a Jaca no pé, que ora cai com o vento e se esborracha toda. E foram tantas as esborrachadas que nem sei se ainda sou o mesmo que minha mãe pariu, ou sou um arremedo de gente todo remendado. Mas hoje, por incrível que pareça, hoje consigo depreender dos versos um canto de revolta pela ditadura, assim como o Geraldo no “Pra não dizer que não falei de flores”, ou um Chico com sua “Roda Vida”.

E compreendi mais. Sei que os militares foram injustiçados e taxados como carrascos. E alguns o foram sim. Mas depreendi que daqueles anos “de chumbo” como muitos gostam de dizer, houve firmeza em não deixar a nação entrar num comunismo bravo. Dilma, Dirceu, Gabeira ainda se afirmam como heróis, mas hoje sabemos que seu ídolo Che também era um carrasco, revolucionário e anarquista sem uma causa definida que resolveu definir como causas as lutas em outros países que não o seu.

Mas deixemos a política pela política. Já as há demais em nossos amargos dias.

Voltemos ás músicas. Por que não, porque não? Ou porque sim. Porque a música pode e deve embalar nossos dias soturnos para torná-los alegres. Deixei de escutar meus CD’s, que em tardes idas ouvia ao mesmo tempo em que escrevia em meu velho computador. Embalado pelo Queen, meus dedos céleres escreviam contos, crônicas e até um arremedo de poesia. Perdi-os todos, os meus escritos daqueles e de outros anos. E comecei novamente, já velho, de cabelos grisalhos, a batucar nas teclas uma música que continua a me enlevar até hoje. A música divina da criação. E vejo surgir ante meus olhos, palavras e mais palavras que não posso chamar de minhas, pois depois de escrevê-las ganham vida própria e me espanta o fato de tê-las escrito.

De onde surgem estas emendas, trovas e frases, que dão sentido aos sentimentos, que nem mesmo sei onde os escondo? Só sei que as embalo carinhosamente, uma a uma, como filhas que o mundo não as pode me tomar. Estas não perco, por palavras mal ditas, ou gestos mal pensados. Estas são frutos do ventre de minha mente, portanto, só minhas e de quem, como eu, tem prazer de lê-las. Usufruam, pois, pois aqui confesso meus desvelos. Vibrem com elas, ou apenas as absorvam se assim aprouver. Senão, deixe-as esquecidas na tela do computador, que ali elas encontram o olhar de outros notívagos. E boêmios como eu, as cantam e decantam no cadinho da vida.

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