A energia vital da alegria é fundamental para a vida dos seres humanos. No entanto, é difícil conceituar esse sentimento. Ou, por outro lado, são tantos os conceitos da alegria que os dicionários apresentam, que as religiões pregam, que a bioquímica explica, que a psicologia tenta desvendar, que teríamos que escrever muitas laudas para tentar defini-la.

Poderíamos escrever sobre a alegria "terrena", a do prazer, do contentamento fugaz em contraste com o contentamento profundo, de mais "sustança". Poderíamos discorrer sobre a alegria "espiritual", a alegria da iluminação, a alegria que as religiões cristãs, o budismo, o taoísmo e tantas outras, apresentam quando se tem contato com o Divino. Mas para isso tudo seria necessário um verdadeiro tratado filosófico.

Como não temos a capacidade nem a presunção para essa empreitada, vamos nos ater ao tema central desta coluna. Não é à toa que a música popular do mundo inteiro usa o tema da alegria em inúmeras canções. Seguem várias canções brasileiras e uma portuguesa que comentam a alegria de variadas maneiras.

O Brasil está precisando muito dessa energia vital nestes momentos difíceis que estamos vivendo. Como seria bom se os nossos políticos pudessem aprender com a música popular. Com certeza, estaríamos mais bem servidos.

ALEGRIA, ALEGRIA - CAETANO VELOSO

O Festival de Música Popular Brasileira da TV Record de 1967 é considerado por muitos como o mais importante dos festivais de música realizados no Brasil no final dos anos 60 e início dos 70. Um jovem de Santo Amaro da Purificação, Bahia, conquistou a platéia com "Alegria, Alegria" e conquistou o 4º lugar do certame e quebrou um paradigma utilizando guitarras elétricas no acompanhamento feito por jovens argentinos. Ou seja, pura subversão musical. Utilizar guitarras elétricas na música brasileira era considerado à época como uma afronta às nossas tradições.

Estávamos na 1ª fase da ditadura militar no Brasil, ainda sem a fortíssima repressão que veio com a 2ª fase, e Caetano falava de um jovem normal entusiasmado com a efervercência da década que mudava o mundo e as repercussões do que acontecia nos Estados Unidos e na Europa no nosso país. É a alegria da juventude, da novidade, dos novos horizontes, de estar bem consigo mesmo.

A FORÇA SECRETA DAQUELA ALEGRIA - JORGE MAUTNER E GILBERTO GIL

A alegria baseada na espiritualidade, na beleza dos detalhes, na felicidade fugidia dos pequenos momentos, das pequenas descobertas, é disso tudo que trata o samba ultra moderno de Jorge Mautner e Gilberto Gil, "A Força Secreta daquela Alegria", presente no disco de Mautner, "A Bomba de Estrelas", de 1981. Para jardineiros profissionais, amadores e demais apreciadores de flores e plantas.

ESCRAVO DA ALEGRIA - VINÍCIUS DE MORAES E TOQUINHO

A alegria ao encontrar um novo amor traz em seu bojo uma inseparável angústia, a angústia de perdê-lo. É dessa dicotomia, alegria e uma inseparável tristeza, que trata a canção de Vinícius de Moraes e Toquinho, presente no último disco de ambos, "Um Pouco de Ilusão", de 1980. Saber-se escravo de um novo momento de amor que, conforme a música e as grandes paixões, já traz a perspectiva de terminar um dia.

Ó LUZ DA ALEGRIA - MADREDEUS

Um? vídeo muito bonito acompanha a canção do grupo português Madredeus que fala de encantamento, paz e alegria espiritual. "Ó Luz da Alegria" está presente no disco "Um Amor Infinito", de 2004. A composição é de Pedro Ayres Magalhães e a voz solo é de Teresa Salgueiro.

ALEGRIA COMIGO MORA - CRIS AFLALO

Pedro de Alcântara Filho, o Xerém, nasceu no Ceará no início do século passado e fez muito sucesso no Rio de Janeiro nas décadas de 30 e 40. Essa canção, "Alegria Comigo Mora", foi composta por ele e Mané Baião. Sua neta, Cris Aflalo, excelente cantora, fez dois discos muito bons em sua carreira. O primeiro deles foi totalmente dedicado às canções de seu avô e uma faixa dele fala exatamente sobre a alegria e a resolução de afastar a tristeza. Uma graça.

CONTRASTES - JARDS MACALÉ

O contraste da alegria com a tristeza, o contraste entre as faces distintas de uma mesma situação, as ambiguidades e o humor involuntário dos nomes de ruas e praças servem como mote para a criação de um grande samba. Ismael Silva é seu autor e Jards Macalé o apresenta com a sua categoria habitual. Macalé gravou "Contrastes" em 1977 no disco de mesmo nome.

ALEGRIA OCIDENTAL - VÂNIA BASTOS

A canção "Alegria Ocidental" de Daniela Mercury e Liminha tem como tema o carnaval na Bahia, a alegria dos momentos de festa, das grandes comemorações, festas que têm prazo para terminar mas mesmo assim, para os foliões, valem a espera durante o ano inteiro. A faixa escolhida apresenta uma bela interpretação da excelente Vânia Bastos, cantora paulista, musa da Vanguarda Paulistana, cena que "balançou o coreto" nos anos 80. Vânia gravou "Alegria Ocidental" em seu disco "Belas e Feras", de 1999, em que homenageia grandes compositoras brasileiras. É de se notar o ótimo arranjo para a canção.

Eloy Varandas

Compartilhe com seus amigos