Foi quase uma maratona: acordar cedo, permanecer horas de pé, coordenar equipes e ter sempre um sorriso no rosto. Mas, para quem fez parte do grupo de voluntários na Rio 2016, a rotina teve mais pontos positivos do que negativos.

Beatriz Pereira de Almeida, 55 anos, até tirou férias para trabalhar nos Jogos Olímpicos. Contatou a organização e pediu para ajudar no campo de golfe. O esporte, conta ela, é tradição de família.

Ela, que trabalha na área de eventos, tinha muito a aprender com a organização de um torneio mundial. Mas experiência não foi sua única conquista. “Eu ganho mais do que dou”, diz ela, que fez amigos – também voluntários – de países como EUA, Catar e Canadá, além de brasileiros. “Já temos grupo de WhatsApp para nos comunicarmos.”

Até sábado, ela cumpre o mesmo dia a dia das últimas duas semanas. Chega ao campo antes das 7h da manhã e sai apenas quando os jogadores vão embora. Orienta a equipe, atende os atletas e pede silêncio à torcida. Também tem que achar as bolinhas que somem de vista depois de uma tacada.

Da organização do evento, recebeu vale-transporte e tíquete-refeição. A viagem de São Paulo, onde mora, para o Rio e a hospedagem ficaram por conta dela. “Estou na casa de amigos”, diz Beatriz, que é voluntária também em uma fundação que atende crianças em Bertioga, no litoral paulista.

“Entendi que, apesar de ter 68 anos, tenho muita energia. Não imaginei que tivesse essa capacidade”

Para a gráfica aposentada Jandira Ferreira dos Santos, mais do que fazer amizades, o voluntariado nos jogos garantiu uma “experiência linda”. “Entendi que, apesar de ter 68 anos, tenho muita energia. Não imaginei que tivesse essa capacidade”, sinaliza ela, que ficou na área de transfer dos atletas no Aeroporto Santos Dumont, no centro do Rio.

A maratona de Jandira começava cedo: pegava trem da Baixada Fluminense, onde mora, para a Central do Brasil. De lá, tomava metrô para estar no aeroporto às 9h da manhã. Só deixava o expediente às 16h – mesmo assim porque negociou com o gerente para não ficar até as 18h e, assim, evitar a hora do rush na volta.

Não podia falar com os atletas, por exigência da organização. Mas, um dia, tirando foto das jogadoras de vôlei da seleção brasileira, foi notada por Jaqueline Carvalho, titular na equipe. “Ela veio até mim e tirou uma foto de nós duas juntas com o meu celular. Fiquei superemocionada”, lembra.

Jandira, que faz aulas de musculação, dança e hidroginástica, também recebeu ingressos para acompanhar as partidas de esgrima. “Foi um privilégio”, diz ela, acrescentando que, “nessa idade, tem que deixar as coisas negativas para trás”.

Ela, no entanto, não permaneceu todo o período dos jogos, mas 16 dias. A filha, que teve bebê neste ano, precisava de auxílio. “Por isso acho que não vou poder participar da Paraolimpíada.”

“Eu adoro ser voluntária, é uma coisa minha. O que eu puder fazer para ajudar, eu faço. Estou me doando sempre”

Segundo levantamento do Comitê Rio 2016, cerca de 30% dos 50 mil voluntários recrutados, entre brasileiros e estrangeiros, não compareceram para trabalhar nos Jogos Olímpicos.

A desempregada Silvia Helena Mazzoni, 50 anos, não só apareceu, como, segundo os organizadores, ganhou os apelidos de “pé quente” e “batom dourado”. Acompanhando a turma do atletismo, ela foi responsável por cuidar dos pertences do jamaicano Usain Bolt no dia 14, quando ele conquistou a medalha de ouro nos 100 metros. Teve a mesma tarefa com Thiago Braz, brasileiro que ficou com o primeiro lugar no pódio no salto com vara.

“Eu adoro ser voluntária, é uma coisa minha. O que eu puder fazer para ajudar, eu faço. Estou me doando sempre. Os Jogos Olímpicos são uma grande festa, não podia ficar de fora”, declarou ela à equipe de imprensa da Rio 2016.

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