Foi por volta dos 60 anos, quando a maioria das pessoas se prepara para se aposentar e "pendurar as chuteiras", que Alaides Puppin Ruschel, 85 anos, descobriu uma nova vocação: as artes plásticas. Ao se aposentar da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), a engenheira agrônoma começou a pensar em uma nova atividade. 

Resolveu então juntar duas paixões, a argila, matéria-prima com a qual lidou durante toda a sua carreira de pesquisadora (e que aponta como "um dos únicos elementos que têm todos os nutrientes"), e as esculturas que a emocionavam nos museus e igrejas da Europa, para onde viajava com frequência a trabalho. 

Movida pela mesma inquietação que na juventude a levou a deixar a mineira Itajubá ("Tinha lá uma escola de engenharia, mas eu não queria isso. Engenharia era só estudar matemática, eu queria estudar outras coisas") rumo à cidade do Rio de Janeiro, onde se formou e conheceu o futuro marido, Alaides dedicou-se a pesquisar e a produzir. 

"Não sou uma artista que estudou arte. Sou uma artista que tenta fazer alguma coisa com arte"

 Dos moldes em argila começaram então a surgir as peças em materiais como bronze, alumínio, resina. "Não sou uma artista que estudou arte. Sou uma artista que tenta fazer alguma coisa com arte", afirma. 

"Trabalhei no sentido de fazer o que eu queria, como eu queria, produzir o que eu pensava. Antes eu já pensava bastante, mas nunca tinha posto isso numa escultura", diz a capixaba nascida em Alfredo Chaves (ES), na fazenda de café da família paterna. 

Quando o café já não conseguia sustentar a família, o pai seguiu para Cachoeiro do Itapemirim (ES) e depois Itajubá (MG). Com o marido, Alaides viveu também em Goiás. Hoje mora em Piracicaba (SP), cidade em que trabalhou por vários anos e onde mantém seu ateliê. 

[gallery columns="2" ids="8593,8591,8592,8594"]

“A inspiração vem do dia a dia, do que eu vejo"

Ela fala com entusiasmo de cada peça guardada no ateliê e de como os trabalhos nascem de uma história, de uma ideia. A inspiração, conta, vem do dia a dia, "do que eu vejo". 

E revela que tem muito orgulho de sua produção. "Eu acho que evoluí na argila pela minha capacidade de trabalho e pelos meus conhecimentos", diz. "Cada coisa que eu faço, eu faço diferente de todo mundo. É meu. Sabe que eu vibro com isso?" 

Alaides vê influências da pesquisadora em engenharia agronômica na sua produção artística. "Se eu não entendesse nada de química, nada de biologia, eu não ia fazer uma escultura do jeito que eu faço." 

Algumas obras podem levar até um ano para serem finalizadas. E é esse processo de criação que a atrai. Ela conta que fez algumas incursões pela pintura, mas não levou adiante. "A pintura é somente a impressão. A escultura tem modelagem, tem a forma, o movimento." 

Nessas mais de duas décadas da nova carreira, Alaides participou de mostras nacionais e internacionais e colecionou prêmios. Seu maior orgulho foi o primeiro prêmio na categoria escultura em um evento em Roma, na Itália, em 2002.  

Com o desenvolvimento da carreira, ela decidiu adotar um nome artístico, Alayde. "São muitas Alaides, enquanto a artista é a Alayde", explica. 

"Envelhecimento é uma coisa natural, você tem que aceitar"

 Viúva, com quatro filhos, ela mora sozinha e cuida da saúde. Caminha, faz musculação três vezes por semana, prepara suas refeições ("Como muita salada"), cultiva alguns temperos no quintal. E fala com carinho das plantas que tem no jardim. 

 "Envelhecimento é uma coisa natural, você tem que aceitar. Mas você também tem que trabalhar para que não envelheça muito", acredita. 

 

Alaides nunca parou para contar quantas esculturas já produziu. Mas tem uma certeza: não pretende parar. 

Compartilhe com seus amigos