De acordo com a pesquisa Estatísticas do Registro Civil 2016, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), só naquele ano foram concedidos 344.526 divórcios no Brasil, número 4,7% maior na comparação com o ano anterior, quando foram registradas 328.960 separações.

No mesmo ano, o país registrou 1.095.535 casamentos civis, sendo 1.090.181 entre pessoas de sexos diferentes e 5.354 entre pessoas do mesmo sexo. O número representa uma queda de 3,7% no total de matrimônios em relação a 2015. Entre pessoas com mais de 50 anos, divórcio e casamento são mais comuns.

Nas uniões civis entre solteiros de sexos diferentes, os homens se casam, em média, aos 30 anos, e as mulheres, aos 28 anos. Nas uniões entre pessoas do mesmo sexo, a idade média para o casamento é de 34 anos.


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Já com relação aos divórcios, o homem tende a se separar em média aos 43 anos, contra os 40 anos dela. Os matrimônios duram aproximadamente 15 anos.

Mas por que o número de divórcio e casamento tem aumentado tanto nos últimos anos?

Para a psicóloga e Gestalt-terapeuta Valéria Daumas, a melhoria da condição da vida humana foi um facilitador para trazer clareza sobre o assunto, além de coragem. “Não reprimir sentimento ficou possível, aceitável, compreensivo. As pessoas hoje têm coragem para se expressar e fazer fluir os sentimentos, sejam eles quais forem. O faz de conta está perdendo lugar”, explica Valéria.

“Os filhos cresceram, os netos chegaram com tanta modernidade e ensinamentos, que fizeram esses pais e avós refletirem se vale a pena permanecer no mesmo lugar”

De acordo com a especialista, muitos dos que se casaram por acordo, comodidade ou até combinações parentais, hoje estão dispostos a fazer valer os seus próprios desejos. “Os filhos cresceram, os netos chegaram com tanta modernidade e ensinamentos, que fizeram esses pais e avós refletirem se vale a pena permanecer no mesmo lugar”, destaca.

A pesquisa do IBGE confirma a percepção da terapeuta. Segundo os dados, a maior proporção das dissoluções ocorreu em famílias constituídas somente com filhos menores de idade (47,5%) e em famílias sem filhos (27,2%). A guarda dos filhos menores é ainda predominantemente da mãe e passou de 78,8% em 2015 para 74,4% em 2016. A guarda compartilhada aumentou de 12,9% em 2015 para 16,9% no ano passado. “É aquela sensação de missão cumprida, agora é minha vez de ser feliz", afirma Valéria.

O divórcio no Brasil

No Brasil, o divórcio foi instituído oficialmente com a emenda constitucional número 9, de 28 de junho de 1977, e regulamentada pela 6.515, em 26 de dezembro do mesmo ano. De autoria do então senador Nelson Carneiro e sancionada por Ernesto Geisel, general que ocupava a presidência na época, a norma foi objeto de grande polêmica, principalmente pela influência religiosa que ainda pairava sobre o Estado. A inovação permitia extinguir por inteiro os vínculos de um casamento e autorizava que a pessoa casasse novamente com outra pessoa.

Com o tempo, duas importantes mudanças foram implementadas em seu texto: a primeira ocorreu há onze anos, com a Lei 11.441/2007, e possibilitou a separação e o divórcio no cartório extrajudicial, sem necessidade de processo judicial, o que costumava demorar muitos anos. A segunda foi a Emenda Constitucional 66/2010, que acabou com o prazo mínimo para o divórcio e a necessidade de prévia separação judicial.

Aos 78 anos de idade, a juíza de paz Arethuza de Aguiar se orgulha de ter sido a primeira mulher a se divorciar no Brasil, dois dias depois de a Lei ter sido sancionada. Na época, com 38 anos, Arethuza era mãe de duas filhas e já estava separada do marido havia cinco anos.

Ela conta que, antes das atualizações da Lei, a decisão sobre o divórcio ficava nas mãos do juiz, que poderia recusar a homologação e não conceder o direito à separação se apurasse que a medida não preservaria suficientemente os interesses dos filhos ou de um dos cônjuges.

“Mas se há uma discórdia e o casal dialoga para solução e vão dormir aliviados, felizes, é porque se amam, se respeitam, a par deste binômio matrimonial, gostam do cheiro, um do outro”

“Na minha opinião e observação, hoje as pessoas se divorciam mais pela facilidade. Quando só era permitido um divórcio no país, as pessoas se seguravam mais, tinham mais paciência e vontade para compreender um ao outro. Mas lá no interior de cada um do casal, permanecia aquele sentimento de ‘ruim com ele ou ela, pior sem’, acrescido da dependência econômica de um ou outro”, analisa.

Pontos como falta de consistência e de paciência são outros motivos apontados pela juíza como responsáveis pelo aumento no número de divórcios. Mas o pior de todos, destaca Arethuza, é a traição. “A traição acontece continuadamente, haja vista a mulher ter subido intelectualmente e estar numa área de trabalho que o homem até hoje acha que é o marido da Doutora, de Sua Excelência. Nesse caso, ele prefere continuar no contrato, pois casamento virou contrato, e ter seus casos por fora, ou o conjunto da obra”, comenta. “Mas se há uma discórdia e o casal dialoga para solução e vão dormir aliviados, felizes, é porque se amam, se respeitam, a par deste binômio matrimonial, gostam do cheiro, um do outro”.

Especializada em Direito da Família, Arethuza conta que desenvolveu uma tese. “Isso foi há muitos anos, quando ainda advogava. No meio da história que estavam me contando, eu perguntava: você gosta do cheiro dele ou dela, e ficava esperando pela reação. Quando respondiam imediatamente que não, ali estava uma situação resolvida. Mas quando paravam para pensar e até admitir que sim, eu perdia dinheiro, sim, mas convidava o outro para vir conversar comigo. Juntava os dois numa entrevista, até chegar a uma solução boa, mantendo o casamento”, recorda a juíza. E conclui: “Ninguém é perfeito”.

O mundo mudou

A numeróloga e especialista em Terapia do Renascimento e Constelações Familiares Iara de Lima explica que as coisas mudaram muito desde a época dos nossos avós, quando havia uma previsão de vida até sessenta ou setenta anos. Ao contrário daquele tempo, os cinquentões de hoje se sentem muito jovens, cheios de disposição e de sonhos. “Cinquenta anos era uma idade em que as pessoas estavam começando a se recolher, a se sentir em declínio e a se cuidar para uma velhice tranquila. Hoje em dia, as pessoas com cinquenta anos estão tomando decisões muito incríveis, mudando de emprego porque não gostam nem se sentem realizadas, abrindo empresas, criando projetos novos, se lançando a novos rumos”, destaca.

Por esse motivo, Iara defende ser natural que, também na área do relacionamento, as pessoas queiram uma relação que sirva de apoio e complemento à transformação pela qual estejam passando ou buscando.

“É um momento de muita renovação e transformação interna. Também não se pode desconsiderar o momento planetário atual. Nem vou falar no espiritual, mas o mundo está passando por uma mudança muito grande em termos tecnológicos, ambientais, políticos e financeiros. Os paradigmas antigos estão sendo trocados por novas políticas, novos pensamentos, ou pelo menos a humanidade anseia por isso”.

"Hoje somos todos muito mais independentes emocionalmente, autônomos e isso é que faz com que determinadas relações insatisfatórias ou calcadas em modelos antigos não se sustentem mais..."

Segundo a terapeuta, a maneira de uma pessoa se relacionar consigo mesma se aperfeiçoou. A seu ver, hoje homens e mulheres estão mais atentos às suas necessidades, e o que antes era pensado como um relacionamento para complementar, hoje se resume a uma troca, onde cada um doa o melhor de si.

“Isso também é um paradigma antigo que vem sendo quebrado na área do relacionamento, o de que as pessoas se encontravam para se complementar e se somar, e o que um tinha e o outro não tinha, aquilo era doado e vice-versa. Hoje somos todos muito mais independentes emocionalmente, autônomos e isso é que faz com que determinadas relações insatisfatórias ou calcadas em modelos antigos não se sustentem mais, seja com cinquenta, sessenta, setenta e até mesmo com oitenta anos”, conclui Iara.

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