No começo do mês, Rachel Florence Vilela, 63 anos, deixou de lado a atividade de empresária da área de beleza. Sua identidade era a de uma bruxa formada na escola de magia de Hogwarts. Pelo menos enquanto passeava com a neta Heloisa, 5 anos, por Orlando, no Mundo Mágico de Harry Potter.

Percorreram caminhos que passavam pela loja de varinhas mágicas, pelo restaurante Três Vassouras – que vende a famosa cerveja amanteigada e o suco de abóbora – e pela montanha russa de Gringotes, lar dos duendes. “Imagina como ela ficou ao conhecer o lugar que o Harry estudou. Está em êxtase, e eu sou a ‘mentora dela’”, conta Rachel.

A avó conta que, na infância, ela própria era fã de “coisas de bruxarias”. Quando começaram a assistir Detetives do Prédio Azul, Heloisa se interessou pelo tema – já que a série brasileira, que é exibida pelo canal por assinatura Gloob, tem como personagem uma bruxa chamada Leocádia. A avó começou a contar histórias, inclusive sobre a de ter estudado em uma escola de magia.

“Ela viajou tanto que fiquei até com medo de alimentar tanta imaginação. Mas depois pensei: ‘Eu já imaginei tantas coisas, já sonhei tanto e foi tão bom, que não pode fazer mal’.” E acrescenta: “Essa fase que passa tão rápido, então entrei de cabeça. Faço poções mágicas e bruxarias para ela e os amiguinhos da escola. Todos os dias, tenho que inventar alguma coisa nova para ela, que acha que minha casa é encantada”.

Rachel conta que teve uma relação próxima com a avó. “Líamos os mesmo livros e sempre sonhei em ter uma relação igual com meus netos”, lembra. Para o outro neto, Francisco, que tem 2 anos e adora vida marinha, ela enfeita a casa com anêmonas, peixes e corais. E dá ao menino uma máscara de mergulho para que ele possa explorar o fundo do mar na sala da avó.

O laço que une Rachel e Heloisa – e outros milhões de crianças e avós por todo o mundo – foi pesquisado pela professora Ann Buchanan, da Universidade Oxford. O estudo, feito com 1.500 crianças, mostrou que crianças que têm alto envolvimento dos avós garantem menos problemas emocionais e comportamentais. Indicou ainda que a relação reduz as dificuldades de ajuste nas famílias, particularmente entre adolescentes filhos de pais separados.

Mas e se o interesse comum, que ajuda a fortalecer os laços entre avós e netos, for considerado, por exemplo, prejudicial pelos mais velhos? A designer Gigi Didini, 59 anos, teve de responder a essa pergunta quando o neto mais velho, Matheus, 9 anos, instalou o aplicativo Pokémon GO em seu celular.

O jogo eletrônico de realidade aumentada para smartphones, lançado em julho deste ano, permite aos jogadores batalhar e treinar criaturas virtuais. No começo, lembra a avó, a diversão foi garantida e os dois capturavam inimigos pela casa. Mas, depois, ela começou a questionar o quão seguro era o game e o que ele poderia trazer de benefícios para o neto. “Fiquei preocupada com assaltos, vício e falta de estudo”, conta.

Após um mês e meio, e várias conquistas e bônus nas batalhas virtuais, ela decidiu parar de brincar com o app. Matheus, lembra ela, continuou – inclusive pegando o celular da avó. Mas não por muito tempo. O desinteresse de Gigi e os conselhos que dava para ele também desestimularam o menino a brincar com o Pokémon GO.

Em vez disso, ela, o marido e o neto investem em passeios de bicicleta e mergulhos conjuntos nas praias de Porto de Galinhas (PE), perto de Recife, onde moram. Tem também cinema e álbum de figurinhas na programação semanal. “Sempre pensamos em algo novo para fazer juntos. Faz parte da nossa vida encontrar interesses semelhantes.”

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