Marina Barros, de 44 anos, viveu metade da vida ao lado do marido, que faleceu há pouco menos de seis meses em decorrência de um atropelamento. Com três filhos, a prioridade para lidar com a viuvez foi o suporte ao trio – o que lhe deu sustentação. Mas a aceitação da perda, conforme conta, tem envolvido bem mais do que superar a dor do luto. “Há questões financeiras, sonhos e planos. Tudo precisa ser repensado e refeito sob uma ótica solitária.”

Buscar suporte foi uma das soluções encontradas por ela para atravessar essa fase. Encontrou na internet uma rede de apoio formada por viúvas. Além disso, passou a se espelhar na irmã – que, ainda jovem, enfrentou a mesma perda. “Eu olho para ela e vejo que os piores dias passam.”

Adotou ainda um livro de cabeceira – o qual recomenda a todos que precisam recomeçar – “Seven Choices”, de Elizabeth Harper Neeld (ainda sem tradução para o português). Nele, os leitores são levados a sete escolhas feitas pela autora para se ajustar a mudanças e formar novos padrões de vida e vínculos humanos após o luto. “Quem você era antes e quem vai ser depois disso, é o que sempre me pergunto.”

Os contratempos vieram de pessoas da própria família. Algumas passaram a evitá-la por não saber como lidar com seus sentimentos. “Não precisa falar nada. Basta apenas estar presente. E não nos excluir da rotina familiar”, desabafa.

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Por todo esse processo de elaboração de perda, Gil Santos, 55 anos, já passou. Há seis anos, teve de lidar com a viuvez e cuidar dos três filhos. Sua maior dificuldade agora é outra: encontrar uma pessoa para um novo relacionamento.

“Depois de 25 anos com a mesma companheira, não consegui me adaptar aos novos tempos, em que as relações – principalmente a partir de aplicativos – são ‘fast food’”, diz.  “Eu busco comprometimento e não vejo mais isso.”

Os filhos, explica ele, muitas vezes se tornam empecilho para engatar um namoro. Muitas pessoas não aceitam o pacote completo – o que inclui os frutos de uma relação anterior. “Eles não têm culpa da situação, que é bem diferente de uma separação, em que quase sempre há consenso”, avalia.

Permanente e irreversível

Para o psicólogo Luiz Francisco Jr., coach e professor da Fadisp, uma das grandes diferenças entre a viuvez e a separação está no caráter permanente e irreversível da primeira frente à condição provisória e mutável da segunda. “Na separação, ainda há possibilidade de diálogo e esclarecimento de questões de forma direta entre os envolvidos, fazendo com que a sensação de desamparo e impotência experimentada se torne menor”, diz.

O luto – e a necessidade de lidar com a viuvez – pode ser bem mais doloroso. Frente à perda, o indivíduo é confrontado com suas frustrações e seus insucessos colhidos ao longo de uma história, num processo que convida ao desenvolvimento por meio da percepção, da análise, da reflexão e da ação.

Início de uma nova trajetória

O especialista destaca que sempre é tempo de recomeçar, mas, em situações de luto, esse recomeço se faz obrigatório. “Frente ao encerramento de uma trajetória, é preciso e saudável que uma nova história se inicie”, recomenda.

Canalizar as emoções pode ser um bom caminho – assistir a bons filmes, ouvir música ou praticar atividades que deem vazão ao que está sentindo ajudam. E, natural e processualmente, o espaço para o novo se abrirá à medida que velhas atitudes deixem de fazer sentido.

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