Ficar velho é parte natural da vida. Mas há quem veja esse processo como um problema e desenvolva um excessivo medo de envelhecer. A condição pode ser chamada de gerontofobia ou gerascofobia. Quem recebe este diagnóstico demonstra aversão a tudo que se relaciona ao envelhecimento e busca compulsivamente soluções que possam evitá-lo ou retardá-lo, como procedimentos cirúrgicos e medicamentos.

Pesquisadores apontam que a valorização dos jovens surgiu no final do século XVIII, durante a Revolução Industrial. Esse foi um momento em que os corpos mais velhos eram frequentemente "descartados" devido à sua menor agilidade e capacidade produtiva. O jovem passou a ser aquele capaz de impulsionar a economia, e essa concepção foi intensificada com o avanço da tecnologia.

O que é moderno passou a estar associado ao jovem e a valores capitalistas fortemente ligados à produtividade. Como resultado, o processo de envelhecimento passou a estar relacionado a algo negativo.

Porém, o medo de envelhecer pode ser altamente diversificado. Isso pode ele pode estar ligado às experiências pessoais que cada indivíduo teve com o processo de envelhecer. Assim como à forma como os idosos são tratados por seus familiares, amigos e sociedade ao longo do tempo.

O brasileiro tem medo de envelhecer?

Uma pesquisa realizada em 2015 revelou dados alarmantes sobre o medo de envelhecer. De acordo com o levantamento do Instituto Qualibest, a pedido dos Laboratórios Pfizer, no Brasil, 90% das pessoas têm medo de ficar mais velhas. A pesquisa foi realizada com 989 entrevistados entre 18 e 61 anos.

Ainda que esse temor esteja associado a problemas como doenças (citadas por 77%) e solidão (57%), ele demonstra um desentendimento do processo de envelhecimento, segundo Valeska Marinho, coordenadora do Departamento de Psicogeriatria da ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria).

“Envelhecer é uma etapa como as outras, um processo. Não necessariamente está associada a incapacidades”, afirma. “É fundamental reconhecer que, mesmo com idade mais avançada, a pessoa pode se manter ativa e saudável. Existe ainda muito preconceito”, completa.

A pessoa com mais de 60 anos, em casa, sentada no sofá, ainda é uma visão que permanece entre os jovens. Essa perspectiva equivocada principalmente entre aqueles que não convivem com pessoas mais velhas, alerta Marinho.

“Hoje o idoso é muito diferente, continua trabalhando, se exercita, viaja, tem amigos… Esta imagem precisa estar clara para que haja uma mudança de percepção e sejam evitados preconceitos.”

Quando o medo de envelhecer se torna uma fobia

Esthela Conde, especialista em longevidade e medicina preventiva, reforça a avaliação. “Com o avanço da ciência, a preocupação da medicina com foco maior em prevenção e o surgimento de uma área de estudo específica para isso – a longevidade saudável –, envelhecer deixou de ser algo tão preocupante.” Mesmo assim, o temor continua para algumas pessoas.

“A gerontofobia surge quando o medo se torna exagerado, patológico. Ela dá sinais quando a pessoa enxerga a proximidade de doenças e até da morte – principalmente entre quem não teve muita convivência com idosos ou que viveu muitas perdas de familiares em processos de doenças incapacitantes”

Um homem, em torno de 50 anos, colocando botox. Imagem para ilustrar a matéria sobre medo de envelhecer. Crédito: Monkey Business Images/Shutterstock

Sinal de alerta

A gerontofobia predomina entre mulheres, que costumam sofrer mais com a cobrança social pela aparência de juventude. É mais comum entre 50 e 60 anos, mas há casos de pessoas mais jovens com uma preocupação anormal com a idade, o que acaba por afetar sua autoestima.

“Muitas pacientes minhas com cerca de 40 anos já investiram de forma exagerada em procedimentos e tratamentos estéticos. Tem paciente que evita até fazer exames pelo medo de ‘descobrir’ algo, indo contra a prevenção. Ele começa a se tornar incoerente”, destaca Conde.

E é aí que o sinal de alerta deve ser acionado: quando o medo de envelhecer faz a pessoa buscar um padrão incompatível com a idade, indo contra o que é natural, colocar em risco sua saúde. “Há aspectos psiquiátricos associados a isso, e a situação deve ser abordada com cuidado”, afirma Marinho.

O primeiro passo, dizem as especialistas, é a informação. É preciso entender o que é o envelhecimento, saber que é possível buscar por um processo saudável de amadurecimento e, por meio de uma alimentação equilibrada e da prática de atividades físicas regulares, promover ganhos à saúde mental. 

“Envelhecer doente realmente não é legal. Mas é preciso ter bem claro que doença e envelhecimento não são sinônimos.”

Quem recebe o diagnóstico de gerontofobia precisa de um acompanhamento psicológico para que consiga encarar o envelhecimento de forma natural. Para isso, tanto terapia em grupo quanto individual podem ser grandes aliadas. “Costumo falar que envelhecer deveria ser uma meta para todos”, finaliza Conde.


Conheça o Programa de Benefícos ViverMais

Acompanhamento psicológico é uma excelente estratégia para aqueles que sofrem com medo de envelhecer. Com o Programa de Benefícios ViverMais, os associados contam com atendimento 24 horas para emergências, além de atendimento com psicólogos ou outros especialistas.

Médicos ainda estão disponíveis para dar uma segunda opinião, novo diagnóstico ou ajudar em protocolos de tratamento de doença grave.

Torne-se um associado e tenha esses e outros benefícios na palma de suas mãos.

Botão escrito Aderir ao Programa ViverMais

Leia também:

Gerontofobia: especialistas explicam o que é e como lidar com o medo de envelhecer

Ter amigos de verdade é a decisão mais importante para a felicidade, aponta neurologista

Conexão com a natureza traz benefícios para a longevidade, segundo pesquisa

Compartilhe com seus amigos